(continuação deste post)
A pergunta que não quer calar: 1929 se repetirá? |
A Comissão Europeia, organismo integrante da ordem capitalista, portanto, de apoio ao capital e de insuspeita tendência crítica, afirma que os EUA encaminham-se para inflação de 7,3% neste ano de 2022 (a maior desde décadas) e a zona do euro, de 6%. O Brasil prevê uma inflação em torno de 12% .
Como ensina qualquer manual simplório de economia, a inflação é consequência de uma circulação de moeda sem correspondência com a produção de mercadorias. Assim, como há mais dinheiro em circulação do que produção de mercadorias, a lei da oferta e da procura promove a alta dos preços das ditas cujas (não do seu valor intrínseco, daí a moeda perder credibilidade como sua representação).
Os Bancos Centrais, em obediência à economia e suas regras ditatoriais (não há BCs politicamente autônomos, como se quer afirmar), emitem moedas sem lastro como forma de doar sangue artificial a um organismo anêmico para evitar sua falência antecipada.
A inflação é uma febre que denuncia a infecção no organismo capitalista. Não se pode quebrar o termômetro como forma de encobri-la, porque os assalariados compram mercadorias e serviços com o dinheiro que ganham, o que torna explícitos e conhecidos os seus efeitos socialmente nefastos.
Traduzindo: a inflação é o maior confisco de salários que pode existir, e se alia à extração de mais-valia e aos impostos estatais como categorias capitalistas promotoras da cruel segregação social que ora se acentua gravemente.
Já passamos perto de uma nova depressão mundial na crise do subprime. E a coisa não melhorou desde 2008 |
Tudo isso corresponde a um ciclo vicioso decadente:
— não se produz porque não se vende;
— não se vende porque não há capacidade de compra pela população;
— mas, como a máquina do capital precisa continuar viva, emite-se moeda sem lastro, que causa inflação;
— a inflação corrói o poder de compra, e por aí vai...
Ou seja, o Produto Interno Bruto decai em consequência das contradições capitalistas em processo.
A Comissão Europeia prevê uma redução do PIB mundial para 2022. O PIB mundial deverá situar-se em 2,9% para 2022, incapaz de recuperar as perdas havidas em 2020 (ano da intensificação da paralisia econômica provocada pela epidemia da covid-19).
E, com inflação alta, tais números se tornam socialmente explosivos; e, principalmente, assombrosos para a periferia capitalista.
A África, p. ex., corre grave risco de ser vítima de um processo de inanição causada pela fome. O Egito já dá sinais de tal tragédia humanitária.
Para se ter uma ideia da gravidade do problema, os Estados Unidos, que detém a maior economia nacional do mundo, registraram uma queda do PIB de 1,4% no 1º trimestre do presente ano e o 2º trimestre também não está sendo alentador para os capitalistas e rentistas em geral. As bolsas de valores caem, e as rendas de capital acompanham a mesma trajetória.
Corroborando o que prevê a Comissão Europeia, a Organização Mundial do Comércio, organismo da ordem capitalista, afirma que teremos em 2022 um PIB mundial em 2022 de apenas 2,8%.
O PIB mundial de 2019, antes mesmo da pandemia, já demonstrava fragilidade, fixando-se em apenas em cerca de 3,0%. A crise sanitária apenas agravou o que já era gravemente preocupante.
Com a economia mundial interligada e a velha e fratricida disputa por hegemonia economia entre as nações (reproduzindo a competição fratricida entre os empresários na guerra de mercado e até dos trabalhadores por ascensão profissional), está ocorrendo um novo fenômeno.
Ele é uma consequência das guerras localizadas, com reflexos negativos na economia mundial: trata-se da paralisia da produção causada pela falta de insumos necessários à produção nos níveis de mercado. É mais um fator desestabilizador.
A falta de produção e fornecimento internacional de semicondutores da produção de equipamentos tecnológicos (carros, computadores, celulares, etc.) está travada e isto está contribuindo ainda mais para a queda do PIB mundial, sem contar com a volta da epidemia de covid-19 em alguns países, como o Brasil, que está vivendo um crescendo perigoso de contaminação e se aproximando das 700 mil mortes para pouco mais de 210 milhões de habitantes.
Neste quadro recessivo, a máquina estatal carente de recursos para prover as demandas sociais de sua incumbência e os altos juros da dívida pública dos países pobres, que sustentam o mercado financeiro mundial, endivida-se ainda mais, numa bola de neve sombria e ameaçadora.
Mas os políticos continuam a desejar o acesso ao poder político decrépito da ordem capitalista, e o povo é incitado a votar como forma de solução de problemas que estão longe de poderem ser resolvidos por quem está inserido no contexto político capitalista.
Aí, haja aumento da dívida pública e privada! Haja emissão de moeda sem lastro!
Segundo economistas mais conscienciosos, há 40% de possibilidades de entrarmos num quadro de recessão mundial; a agência Morgan Stanley, avaliando tal risco em 35%, fica só um pouco atrás.
E todos estes problemas são acrescidos pelo aquecimento global, que também contribui fortemente para a desertificação esterilizante e para a formação de catástrofes climáticas insuportáveis.
Quando é que vamos ter coragem de pegar o touro capitalista pelo chifre??? (por Dalton Rosado)
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