Mas os Estados Unidos, que viram, enciumados, a aproximação comercial da União Europeia com a Eurásia ao leste (Rússia e China), gostaram da petulância russa em invadir a Ucrânia e estarrecer o mundo com as atrocidades transmitidas ao vivo.
Já a Europa se viu obrigada a recuar, temendo a pretensão russo/chinesa.
É que a Rússia, com sua economia de venda de commodities importantes mas sem expressão no PIB mundial (armas em grande parte obsoletas), cuja população não impressiona muito quando comparada à do mundo ocidental, parece um leão sem dentes, mas a rugir perigosamente o apocalipse nuclear – que é real, principalmente numa fase de desespero.
Sem o apoio econômico e militar da China, o bloco euroasiático, que se pretendia consolidar, perdeu força. Hoje, Vladimir, o Plutinocrata, cada vez mais ansioso, mais gordo e menos atlético, tem de apelar para o sentimento patriótico do povo russo, no sentido de que este aguente as agruras da depressão econômica e da inflação russa, que já começam se fazerem notar.
Mas este quadro de beligerância capitalista, tanto no plano econômico como no plano político e militar, afeta os dois lados. O mundo submetido ao capitalismo, que já vinha em depressão, mergulhou mais ainda nela com o surgimento da covid-19 (que ainda persiste e ressurge, como na China, além de acentuar-se com a guerra da Ucrânia).
Vivemos um estágio aterrador da história atual, com a perspectiva sombria de conflito bélico, tal como nos períodos que antecederam as duas grandes guerras mundiais.
O aspecto positivo disso tudo é que nem a guerra, nem a alternância de políticos no poder estatal burguês, nem a força bruta militar podem resolver o problema do limite interno do capital; tais contradições internas evidenciam de forma gritante a necessidade um novo tipo de relação social, que negue toda a negatividade genocida oriunda de um modelo de relação social falido e caduco, cuja forma já não se adequa ao conteúdo.
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O QUADRO POLÍTICO-CAPITALISTA DO BRASIL – Sob a ótica do que o capitalismo conceitua como virtudes, o Brasil vai de mal a pior.
Temos baixos índices de crescimento econômico; dívida pública crescente e se aproximando do total do PIB anual, sobre a qual incidem juros altos; inflação elevada: desemprego estrutural; juros acentuados; alta concentração de riqueza; grandes latifúndios improdutivos, e por aí vai.
Mas é no plano político-administrativo que estamos em condição cada vez pior.
Temos um presidente cujo currículo depõe contra si mesmo, pois nele tudo que se vê é de fazer corar frade de pedra:
— enorme profusão de discursos de ódio, sem proposições construtivas;
— ameaças à integridade física de cidadãos inocentes (como aquele plano de explodir a adutora do Guandu, que lhe rendeu precoce exclusão do Exército e o rótulo de mau militar);
— agressões às mulheres, num machismo misógino de enojar;
— parlamentares (da base governamental, o centrão) praticando impunemente a mais descarada política do é dando que se recebe;
— aparelhamento político-militar da administração pública;
— desorganização completa na pasta da Educação (o ministério mais importante da Administração Pública e aquele que detém o maior volume da verba orçamentária), que teve cinco titulares em 40 meses do atual desgoverno, sendo o último afastado por conluio com a corrupção;
— ineficácia no Ministério da Saúde, com quatro ministros nestes tortuosos 40 meses e diante de uma pandemia avassaladora, da qual saímos como campeões de óbitos por habitantes; e
— de um enraizamento inconcebível do crime organizado na vida nacional, corrupção no aparelho policial e uma violência urbana que beira a guerra civil.
Mas o pior é que dito governo deseja se perpetuar por meio de uma virada de mesa.
Diante da perspectiva de derrota eleitoral, ensaia-se um autogolpe totalitário de supressão das instituições burguesas (não no sentido de substitui-las por uma ordem de organização social de base, na qual o povo possa influir no próprio destino, mas de uma centralização de poder em cabeças pretensamente iluminadas, apoiadas por um tacão militar dono da verdade).
Já se comenta que tal autogolpe terá de ocorrer antes mesmo das eleições (pois o fracasso eleitoral dificultaria a operação). Então, a nova micareta (que tem tudo para fracassar de forma tão acachapante quanto a do último Dia da Pátria) seria tentada nos próximos meses, com o apoio de um núcleo fanatizado de menos de 25% da população (os boçalnaristas ignaros mais recalcitrantes) e por setores das forças armadas.
Quando alguém tão poderoso como William Burns, diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (a famigerada CIA, useira e vezeira em armar golpes totalitários na América Latina) denuncia uma tramoia para melar o resultado das urnas no Brasil, é porque lhe chegaram ao conhecimento informações tão ou mais seguras do que aquelas que que nós mesmos temos...
— esteve com Putin às vésperas da invasão da Ucrânia (e, como o afobado come cru, quando supunha que a ameaça não se concretizaria jactou-se ridiculamente de ter influído para que a paz mundial fosse preservada);
— esteve com o ultraconservador presidente da Hungria, Viktor Urban, a quem deu apoio;
— agrediu grosseiramente (como sempre faz com as mulheres) Brigitte Macron, esposa de Emmanuel Macron, além de não ter adiante parabenizado o presidente francês por sua reeleição, derrotando a candidata da direita conservadora Marine Le Pen;
— apoiou ostensivamente o candidato direitista Maurício Macri contra o vencedor Alberto Fernández, iniciando com o pé esquerdo as relações com o novo presidente argentino; e,
— além de no passado condecorar milicianos mortos, concedeu recentemente a graça presidencial a um notório arruaceiro e ex-militar recordista de inflações disciplinares, o deputado federal Daniel Silveira.
Mas, apesar de todas estas ameaças, entendo que o Brasil e maior do que elas:
— por sua importância estratégica mundial (é um país-continente populoso e detém a Amazônia, o pulmão do mundo);
— por possuir riquezas materiais (petróleo, ferro, alimentos, etc.) em profusão;
— pelo marcante importância cultural mundial (nos esportes, na literatura e nas artes em geral).
Mesmo tendo se deixado enganar nas eleições de 2018 por um discurso apologético das torturas praticadas pela ditadura militar; mentiroso nas suas promessas de combater a corrupção (tida erroneamente como causa principal dos nossos males) e beneficiado pelo episódio da facada Mandrake, o povo brasileiro saberá, dessa vez, barrar o famigerado golpismo ultradireitista.
A verdade é que a deterioração econômica e institucional da democracia burguesa que dá sustentação ao capitalismo está necessitando ser discutida e superada, mas por instrumentos de poder popular e de relação social elevados, bem como por uma produção social seja voltada para o seu povo.
Quarteladas kitsch, nunca mais! O golpe não passará! (por Dalton Rosado)
Dalton Rosado é o autor desta exaltação musical da Amazônia
Um comentário:
"Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato".
Barão de Itararé.
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