bruno boghossian
JOGADAS DE BOLSONARO SOBRE PREÇOS
TRANSMITEM UM CERTO DESESPERO
Na semana passada, o presidente citou nominalmente o almirante Bento Albuquerque e o chefe da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, e mandou um recado, aos gritos:
"Vocês não podem aumentar o preço do diesel! Eu não estou apelando, eu estou fazendo uma constatação".
Quatro dias depois do ultimato, a estatal anunciou mais uma alta do combustível. Passados mais dois dias, o ministro perdeu o cargo.
O presidente busca uma válvula de escape para os danos políticos provocados pelos aumentos. Na ausência de um plano eficiente para o setor, Bolsonaro já demitiu dois presidentes da Petrobras e, agora, o ministro da área. Nesse ritmo, falta trocar os frentistas dos postos de combustíveis, para ver se os preços caem.
As jogadas de Bolsonaro transmitem um certo desespero. Principal medida do governo para os combustíveis, o corte de impostos federais teve efeito limitado nas bombas.
O mesmo ocorreu com manobras menos ortodoxas, como a pressão sobre donos de postos e até a ideia de que moradores deveriam alugar caminhões para distribuir botijões de gás em suas comunidades.
Agora, o presidente reforça os ataques à própria Petrobras e simula indignação com os lucros da empresa.
Entre acusações de estupro e alertas de que a estatal quebraria o país, não se ouviu de Bolsonaro nenhum projeto consistente para uma nova política de preços dos combustíveis.
Em vez de lançar um programa com resultados incertos a cinco meses da eleição, o presidente aposta em investidas cosméticas e retóricas.
O governo tenta amortecer o impacto político de uma inflação que galopa na casa dos 12% e segurar os humores de um eleitorado cada vez mais sensível à variação de preços.
Ainda que o plano A de Bolsonaro não seja vencer nas urnas, o presidente ainda precisa manter popularidade e chegar à votação como um candidato competitivo. Ele sabe que uma derrota acachapante eliminaria o apoio a qualquer tipo de ruptura. (por Bruno Boghossian)
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