O capitalismo está entrando na sua fase mais perigosa: a da beligerância genocida.
Ela advém da intransigência mundial de não aceitação da necessidade de superação de um modelo de relação social falido, que já não é capaz de fazer a mediação social de forma minimamente sustentável.
Um desses mecanismos de compensação era o fato de que, a cada desemprego causado pelo advento das máquinas na produção de mercadorias, havia a criação em maior número de novos nichos de trabalho abstrato em volume superior. Ainda que explorados, os trabalhadores se mantinham precariamente vivos na sua maioria (aí excluída a chamada aristocracia operária).
Antes a desigualdade social existente era aviltante, mas tolerada por conta de mecanismos sociais de compensação que mascaravam uma injustiça social que muitos preferiam fingir não ver, ou até mesmo justificavam como mal necessário.
Hoje, com o aumento da fome mundial e o crescimento do desemprego estrutural, da inflação, da crise de moradia e da emigração forçada, por paradoxal que pareça, os governos autocráticos estão ganhando força, como se a contenção da barbárie em curso exigisse mais ação militar, pretensamente disciplinadora.
Para muitos, ao invés de curarmos e discutirmos a causa do mal, o melhor é aceitá-lo sem questionamentos anatômicos, como se a culpa de sua inviabilidade estivesse ligada não à sua própria essência contraditória e segregacionista, mas apenas à má condução institucional que lhe é dada.
É a síntese mais bem acabada de razão da força sobrepujando a força da razão.
O QUADRO CAPITALISTA MUNDIAL – Há, hoje, claramente, uma disputa de blocos capitalistas pela hegemonia econômica da massa falida capitalista. Mais parece um bando de lobos brigando pela carne pouca de um animal abatido.
O capital fundou o nacionalismo e o desenvolvimento capitalista formou blocos imperialistas de Estados nacionalistas que, enquanto se digladiam entre si, juntam-se estrategicamente contra outros blocos. É a lógica competitiva e fratricida do capital em estágio de exacerbação.
Mas, como tudo no capitalismo é contraditório, os blocos imperialistas em disputa dependem da economia globalizada para continuarem a ter força, que se traduz em poderio econômico, armamentista e de contingente miliar elevado.
Do ponto de vista meramente militar, podemos dizer que não se ganha a guerra apenas pelo ar; há que se dominar politicamente e pela força militar os Estados nacionais e, como disse um conhecido analista político, o leão pode até matar o porco espinho, mas não é fácil comê-lo.
A invasão russa da Ucrânia tem demonstrado quão difícil é a guerra de posições (domínio territorial político e administrativo da vida social) e como pode ser elevado o preço a pagar pela resistência à guerra de movimento (bombardeios e avanços territoriais pela força bélica) – tanto isto é verdade que o fim do conflito deve demorar, desde já se antevendo que terá um alto custo para ambas as partes envolvidas.
Os russos invadiram o Afeganistão em 1979 e acabaram se retirando em 1989, fustigados por tenazes guerrilhas
A Ucrânia não é a Tchetchênia (cuja capital, Grozny, tem apenas 272 mil habitantes); não é a Síria; não é a Georgia; não é apenas a Criméia; não é apenas a região de Donbass, que abrange as importantes cidades de Luhansky e Donetsk.
Não. A Ucrânia é um país desenvolvido, ainda que relativamente pobre, cuja capital Kiev conta com quase 3 milhões de habitantes, dos 40 milhões que se espalham por todo o seu território.
A guerra ali está mais próxima da travada no Afeganistão (com outro método e, evidentemente, outra configuração geográfica), e é marcada por um sentimento de unidade e preservação do povo ucraniano, diante de uma agressão injusta e injustificada.
É do ponto de vista econômico que a configuração geopolítica mundial se complica.
No estágio atual o capital precisa expandir-se além fronteiras, tendo, neste sentido, de vender para outro bloco as mercadorias produzidas num bloco; ou seja, o capital não pode sobreviver na relação de produção e consumo apenas num bloco. Vivemos a era da globalização irreversível da lógica do capital (que empacou).
Na verdade o capitalismo one world já atingiu o seu limite de expansão e faz água. Se o capital descobrisse outro planeta habitado no qual fosse capaz de impor o seu modo de relação social, explorando os seus habitantes para concretizar sua necessária expansão (ou seja, empobrecendo-os para o enriquecimento dos que produzem mercadorias cá na Terra), o capitalismo teria uma sobrevida.
Mas, já não há possibilidade de expansão salvadora. Vem daí os blocos beligerantes estarem enfrentando sérios problemas em suas estratégias de preponderância sobre a massa falida capitalista, o que prenuncia o colapso. Todos vão perder a guerra.
Sem limites? Faltou combinarem com os ucranianos...
A Rússia celebrou com a China um pacto de alinhamento sem limites. As duas nações estão tentando absorver a influência sobre a Índia e a Indonésia, que juntas formariam um bolsão de 3,3 bilhões de habitantes:
— China, 1,44 bilhão;
— Índia, 1,4 bilhão;
— Indonésia, 279 milhões;
— Rússia, 145 milhões.
Ou seja, 43,5% da população de todo o Planeta, e com influência majoritária em toda a Ásia.
Mas a China precisa vender suas mercadorias para o mundo todo e manter a sua expansão do PIB para fazer face aos juros da sua colossal dívida pública e privada, sob pena de paralisar a sua produção industrial e gerar uma grave onda de desemprego (e os empregos por lá são de uma escravização capaz de fazer inveja aos antigos senhores de escravos negros no Brasil!).
Daí poderá resultar até mesmo uma guerra civil capaz de derrubar o governo ditatorial do Partido dito Comunista (por ser relativamente pequeno se considerarmos a população chinesa, o exército chinês, com 2 milhões de soldados,não seria capaz de conter uma revolta de grandes proporções).
Assim o alinhamento sem limites com a Rússia esbarrou no limite de seu interesse comercial com o Ocidente; ainda por cima, veio a pandemia da covid, obrigando a paralisia da produção e venda de mercadorias em centros industriais importantes como Xangai e Pequim.
A China pisou então no freio, desacelerando o ensaio de apoio à invasão Plutinocrata à Ucrânia. (por Dalton Rosado— continua neste post)
Nenhum comentário:
Postar um comentário