Apesar da euforia dos petistas com os resultados da última pesquisa eleitoral do DataFolha e de já estarem executando um deplorável arrastão para tentarem liquidar a fatura no 1º turno, o que realmente se decidiu em maio foi o destino político do presidente Jair Bolsonaro: nem se reelegerá, nem vai conseguir dar golpe nenhum.
No tocante a ele, as únicas dúvidas que restam são se conseguirá escapar impune de todos os crimes que cometeu no passado e no mandato atual, se vai ser merecidamente processado e depois encarcerado ou se pedirá asilo para o Putin.
Por quê? Porque em maio se percebeu nitidamente que o grande capital chegou à óbvia conclusão de que o exterminador do nosso futuro é veneno para a economia, dada a instabilidade permanente que causa, afugentando investidores e dificultando negócios com o exterior. E, como o Lula se mostra ainda mais conciliador com o poder econômico do que em 2002, o pragmatismo empresarial acabou prevalecendo sobre restrições ideológicas porventura remanescentes.
E a última pesquisa do DataFolha, ao escancarar que há forte possibilidade de vitória lulista já no 1º turno, retirou a escada do genocida, deixando-o pendurado na brocha, pois:
— o petista teria hoje 54% dos votos válidos e, num eventual 2º turno, golearia o palhaço sinistro por 58% a 33%;
— mostrou que o preside(me)nte não conseguirá reverter a situação com novas esmolas, pois, entre os que recebem o Auxílio Brasil, só 20% votariam nele, contra os 59% que preferem o Lula;
— no segmento dos mais pobres (fundamentais 52% do eleitorado), a vantagem lulista é acachapante, 66% x 25%, sinalizando que o calcanhar de Aquiles do celerado é o péssimo desempenho na economia;
— não votariam de jeito nenhum no pior presidente deste país em todos os tempos 54% dos eleitores, enquanto são 33% os que mantêm o Lula na lista negra;
— 48% dos eleitores consideram o (des)governo do Bozo "ruim ou péssimo" e 27% "regular", enquanto só 25% o aprovam.
Que, como produzir um milagre econômico nos quatro meses que faltam até o pleito é impossível e como novos auxílios demagógicos aos pobres não desfarão a impressão causada por um mandato inteiro de penúria, o abominável já não tem como virar o jogo eleitoral.
Ou seja, o calamitoso não só perderá, como a tendência óbvia é de que o impacto desse novo cenário delineado no último DataFolha acelerará o derretimento da sua candidatura, com os ratos abandonando o navio que afunda. Só continuarão ao lado dele os fanáticos ultradireitistas, uma minoria de menos de 20% dos brasileiros.
E como pensar em golpe sem apoio do grande capital e das nações capitalistas dominantes, bem como das Forças Armadas (cujos altos comandantes sabem muito bem que estariam entrando numa roubada), e não tendo nenhuma perspectiva de tirar o Brasil da recessão em que está atolado até o pescoço? Não vai rolar.
Contudo, por mais que os petistas cantem vitória antecipada e atirem salva-vidas para os personagens mais nefandos da política brasileira, prontos para repetir os erros e as amoralidades que conduziram ao mensalão e ao petrolão, talvez tenham errado no timing: se o efeito Janja e o efeito DataFolha redundarem num esvaziamento rápido demais do pária mundial, é possível algum azarão acelerar na reta final e tomar o lugar dele no 2º turno.
Pois o Lula está se beneficiando da ansiedade que os brasileiros, em sua maioria, têm de encerrarem o quanto antes a temporada do circo de horrores. Mas, com o palhaço sinistro encaminhando-se nitidamente para o desemprego, é possível que algum outro candidato caia no agrado popular e atropele na chegada.
É difícil, mas não impossível, que uma intervenção do destino estrague o plano infalível dos que estão há anos favorecendo a polarização para dela extraírem benefícios eleitorais, mesmo que sua sabotagem à luta pelo impeachment do Bozo implicasse a morte de centenas de milhares de brasileiros que poderiam ter sobrevivido à pandemia de covid.
Ciro Gomes parece ter perdido sua chance ao encaminhar-se para a direita, tentando armar sua trincheira na exígua faixa de terra existente entre o capitalismo monstruoso e fedorento sob o Bozo e o capitalismo maquilado e perfumado sob o Lula.
Se, ao invés disso, houvesse tentado ocupar o espaço à esquerda do Lula, muito mais amplo, talvez tivesse emplacado.
Pelo mesmo motivo, o potencial de crescimento de Simone Tebet não é grande, embora ela possa se beneficiar de sua condição de mulher (um considerável trunfo depois da misoginia repugnante do motoqueiro fantasma) e de ser uma cara diferente numa política em que os já conhecidos quase todos já decepcionaram.
Vera Lúcia, por sua vez, tende a herdar os votos da esquerda consequente, aquela que quer muito mais do que o Lula está disposto a dar: tudo aquilo que o PT prometia ao ser fundado em 1980 e depois esqueceu ou renegou.
E não está descartada a possibilidade de que, nestes quatro meses que faltam até a ida às urnas eletrônicas, ocorrer uma explosão social como a do Chile em 2019, pois a situação de miserabilidade está cada dia mais dramática.
Com isto todos os cálculos iriam para o espaço e teríamos de botar a cabeça para funcionar novamente. (por Celso Lungaretti)
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