segunda-feira, 16 de maio de 2022

HÁ MOTIVO PARA TANTA SINISTROSE ENVOLVENDO O DAY AFTER?

S
e a frase não é de George Orwell, é de um autor consciencioso anônimo com o qual concordamos.  

Existem quatro prognósticos para o futuro imediato do Brasil:
— a provável vitória do Lula na eleição presidencial de outubro de 2022;
— a improvável vitória de Boçalnaro, o ignaro, no mesmo pleito;
— golpe militar após o resultado (mais improvável ainda);
— golpe militar antes da eleição (dependendo da mobilização popular pró e/ou contra o autogolpe). 

Qualquer destes cenários que se venha a concretizar, nós teremos dias difíceis. Mas, pode ser que dele surja não o advento de um messias fanfarrão, apologista das torturas e político medíocre que se escondeu dos debates eleitorais por trás de uma facada Mandrake, mas o de um novo pensar revolucionário emancipacionista, de um movimento ungido pelo povo cansado de uma alternância democrática no poder burguês que nada resolve. 

É claro que Boçalnaro quer o autogolpe e disto já deu provas mais do que suficientes. 

Movido pela crença de que a força bruta pode conter a insatisfação popular (ou mesmo que o pensamento conservador capitalista tradicional pode resgatar o desenvolvimento econômico e fazê-lo novamente popular), o genocida conclama o segmento minoritário oportunista e menos sensato civil e militar para tal intento.

Acontece que a conjuntura internacional lhe é desfavorável, pois o 
capitalismo vive um estágio de depressão econômica causada fundamentalmente pela contradição comprovada (desemprego estrutural), visível e sentida entre forma (redução da produção da massa global de valor a partir do trabalho abstrato) e conteúdo (eliminação substancial de tal fonte de produção de valor pela guerra de mercado). 

Tais fatores estruturais desembocam:
— na inflação causada pela emissão de moedas sem lastro mundo afora e, principalmente, pelos países de moedas fortes; 
— na queda da produção de mercadorias em face do bloqueio internacional do fluxo de componentes e matérias primas essenciais;
— na dívida pública estatal crescente; e
— nos juros altos.   

Como numa tempestade perfeita, tudo tem-se agravado com a reedição da pandemia em alguns países (China, Coreia do Norte e países da África e Ásia, etc.),

Os sintomas da gravidade de tal situação são claros e a ele se acrescenta, no caso brasileiro, uma forte antipatia dos governos democráticos burgueses às posturas autocráticas, anticivilizatórias e antiecológicas do Boçalnaro, que tornaram seu governo um pária internacional. 

Disso tudo decorre a quase impossibilidade de vitória eleitoral do réprobo em questão. Entretanto, caso conseguisse a reeleição, consideraria que sua barbárie estaria legitimada pelo povo, e aí o Brasil viraria um inferno.  

A conjuntura internacional desfavorável desencoraja muitas das viúvas da ditadura militar de tentarem sua reedição, ainda que outros, menos clarividentes, suponham contar com a insensatez social brasileira para tal aventura.   
Desconhecem que o Brasil, mesmo sendo conservador na sua maioria, já é suficientemente desenvolvido institucional e economicamente, além de estar inserido numa conjuntura mundial que não admite mudanças bruscas como aquelas desejadas (fechamento do STF, do Congresso Nacional e desligamento das conexões econômicas internacionais).

A vitória de Lula é provável. A balança da bipolaridade com seu adversário mais próximo pende ao seu favor. 

Mas se é, simultaneamente, um antídoto diante da ruptura institucional democrática à direita, será, também, desgastante e inócua quanto à ruptura com o quadro de sofrimento por que passa grande parte da população brasileira, e deve frustrar aqueles que veem em Lula a salvação da lavoura

O presidenciável petista já deixa antever o que será um eventual governo seu. Ao acenar cada vez mais ao capital nacional e internacional, bem como ao centro político (vide a imposição ao PT de um vice como Geraldo Alkmin, adversário emblemático de outros carnavais), ele já diz tudo. 

Lula sempre acreditou no capitalismo e no trabalhismo social-democrata como forma de relação social viável, dependendo de sua condução. Desconhece a essência da economia capitalista e sua autodestrutibilidade e, pior, luta pela preservação das categorias capitalistas como se fossem ontológicas. 

É um político aferrado ao parâmetro que construiu para si mesmo e por meio do qual saiu vitorioso, parecendo cada vez mais apegado ao poder burguês e às migalhas institucionais que ele oferece.

Cada vez mais descrê na força da mobilização dos movimentos socais libertários (com todas as divergências e equívocos propositivos existentes), sejam eles do operariado sindical combativo ou autônomo; das mulheres; dos sem-terra rurais e dos sem-teto urbanos; da diversidade lgbtqI+; dos antinacionalistas; 
dos antifascistas; dos antirracistas; dos anti-fundamentalistas religiosos; dos solidários aos perseguidos mundo afora, etc.

Chega ao ponto de defender autocratas como se fossem aceitáveis as abominações humanitárias e ideológicas por eles praticadas.

Se ganhar as eleições e tomar posse, Lula começará o seu governo 20 anos após a primeira vez (2003/2023), mas sob um cenário internacional bem diferenciado para pior do ponto-de-vista do capital. A marolinha se tornou uma onda gigantesca e incontrolável. 

A esquerda tem tolerado a injustiça (e até mesmo a vem praticando) em nome de uma pretensa justiça futura, além de incidir em concessões que terminam por fazê-la absorver o mal capitalista e com ele conviver numa alternância de poder político que a descredencia. 

Lula, enfim, cada vez mais se distancia da estrela e do vermelho que simbolizaram o PT de tantos bons companheiros expurgados, e para aderir a um rosa-choque entrelaçado com um verde-amarelo nacionalista. Lula nega tudo que prometeu ser nos primórdios de sua vida política, revelando a sua verdadeira essência. 
Não se trata de amadurecimento, mas de um retroceder que é ou uma quinada à direita partir da mudança do pensar, ou a explicitação de um embuste histórico. 

Não sei mesmo qual a melhor hipótese entre estas duas, mas o futuro nos explicitará e, espero, não represente uma frustração que leve o povo brasileiro a novamente acreditar numa cantilena autoritária mentirosa.   

O pior, entretanto, é que, com os mecanismos de combate à depressão capitalista que Lula pretende usar, os problemas vão continuar e até se agravarão, podendo dar nova vida à direita, como consequência do desencanto com quem representa a esquerda no imaginário popular.

Espero que, mesmo indo de desencanto em desencanto. acabemos construindo uma convicção alternativa de relação social (tanto institucional como de produção social) que nos emancipe definitivamente dos grilhões capitalistas. (por Dalton Rosado)
Tributo do Dalton Rosado a uma geração que procurava outro
destino. Já o PT alckmizado está mesmo é sem rumo no espaço...
  

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