segunda-feira, 18 de abril de 2022

...E SE O DALTON ROSADO FOSSE UM BURGUÊS? – 1

"Brigar por política no atual cenário é o mesmo que ter uma crise de ciúme na zona" (Harvey Specter, 
peronagem do seriado de TV Suits)
É evidente que o capitalismo vive os seus estertores e que isto não acontece por fatores externos de um sujeito revolucionário consciente, os trabalhadores abstratos politicamente unidos.

Não! Tal saturação decorre de suas contradições internas, aliada a  fatores externos como a agressão ecológica que atinge a todos de forma não-seletiva.

Foi Marx quem previu, nos Grundrisse, a implosão de todo o sistema como consequência de uma contradição entre forma (a exacerbação da busca pelo lucro na guerra concorrencial de mercado que elimina a extração gradativa de mais-valia) e o seu conteúdo (a busca da viabilização de uma relação social equânime e sustentável).

A melhor forma de se aferir a aceitação do comportamento burguês por um indivíduo social é o incômodo causado por qualquer contestação contundente ao way of life estabelecido.

A acomodada aceitação do capitalismo se divide entre os que querem impor e até aumentar a dominação capitalista e a manutenção do status quo vigente (a direita conservadora e seus vários matizes ideológicos) e os que querem amenizar ou humanizar o capitalismo sem alterá-lo na essência (a social-democracia e seus vários matizes socialistas). 
A polarização entre
Boçalnaro, o ignaro e seu séquito de militares nos cargos de confiança, e Lula, com seu socialismo à moda de Paulo Maluf, Henrique Meireles, José Sarney, José Alencar, Delcídio Amaral, Roberto Jefferson, Joaquim Levy e, agora, Geraldo Alkmin, não passa da expressão bem acabada de divisão dentro de um mesmo espectro de relação social: a sociabilização a partir da forma-valor, o capitalismo. 

Ambos os projetos políticos burgueses se quedam ao sempre majoritário controle parlamentar capitalista de direita (não há nenhum parlamento no mundo eleito pela democracia burguesa e seu domínio econômico no qual a esquerda seja dominante). 

Ou seja, em qualquer lugar do mundo burguês haverá sempre um centrão caracterizado por seus dois terços conservadores e um terço  (quando muito) social-democrata, a legitimar tal esfera de controle político do capital. 

Mas, como o capitalismo está gerando insatisfação social insuperável sob seus fundamentos, a questão destas duas correntes políticas passa a ser qual a melhor forma de mantê-lo vivo.

Os conservadores, que costumam ser xenófobos nacionalistas, 
misóginos patriarcalistas, racistas, homofóbicos,  genocidas e elitistas, querem manter o status quo pela força militar, conjugada ou não com controle do poder político-econômico.

Por sua vez os social-democratas aceitam o capitalismo (e tentam humanizar o que é essencialmente desumano) pelo voto no processo eleitoral burguês e toda a sua manipulação da legítima expressão da vontade popular. 

Ambos estão fadados ao insucesso justamente porque as suas bases de sustentação, a relação social capitalista, faz água e o seu afundamento iminente (na escala de tempo dos fatos históricos irreversíveis).

Tal naufrágio anunciado ocorre seja por fator interno (no caso a irresolúvel equação subtrativa da riqueza socialmente produzida, material e abstrata; ou externo, o aquecimento global causado pela irracionalidade de um modo de produção social ecologicamente predatório. 

Se eu fosse um burguês conservador, ficaria apontando o fracasso da administração do aparelho de Estado burguês pela esquerda, e suas contradições comportamentais expressas em medidas de salvação do dito cujo, que flagrantemente negam os interesses dos explorados e segregados.

Se eu fosse um burguês social-democrata, mesmo com um matiz mais socialista, diria que as medidas antipopulares tomadas pelos governos de esquerda são provisórias e estão dentro de uma tática de dar os anéis para salvar os dedos, visando a vitória da estratégia maior de defesa do trabalhador.
Se eu fosse um burguês conservador, exaltaria a figura do trabalhador e do trabalho como única e válida forma de criação de riqueza para todos os nacionais e que isto os beneficia, como fez Hitler na Alemanha nazista (lembrar o
arbeit macht frei, ou seja, o trabalho te liberta ...).

Se eu fosse um burguês social-democrata, louvaria um partido trabalhista qualquer e a aliança com seus sindicatos como o melhor artífice da defesa dos interesses sistêmicos da trabalhador para que estes não fossem tão explorados (mas desde que continuassem como trabalhadores explorados, categoria capitalista tida por estes como ontológica...). 

Se eu fosse um burguês conservador de uma nação economicamente dominante, diria que o imigrante é um estorvo para os nacionais que construíram um país rico que lhes oferece o Estado do bem-estar social, e pediria votos contra a inaceitável invasão étnica estrangeira.  (por Dalton Rosado - continua neste post) 
O Dalton lembra como a temática do pacto com o diabo aparecia
amiúde nos blues clássicos; a esquerda brasileira também é
useira e vezeira em pactuar com os tinhosos da política...

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