sábado, 26 de março de 2022

HÁ MUITO MAIS A BUSCARMOS DO QUE UMA MERA VITÓRIA ELEITORAL

A
s últimas pesquisas de intenção de voto, que apontaram alguma  recuperação do Bozo na corrida presidencial, trouxeram duas constatações importantes, apesar de as  amostragens realmente decisivas ainda estarem distantes, pois é só depois das férias escolares do meio do ano que a grande maioria dos eleitores brasileiros vai escolher em quem votará.

As constatações são as seguintes:
  1. nas famílias cuja renda é menor do que dois salários-mínimos mensais, Lula goleia o genocida;
  2.  naquelas em que é maior, ambos praticamente empatam, o que sinaliza a possibilidade de o Bozo virar o jogo na reta de chegada.
Obviamente, dá-me uma tristeza imensa a comprovação de que ainda existem tantos brasileiros propensos a votar num presidente que inspira fortes suspeitas de insanidade mental e que realiza o pior, mais catastrófico e mais desalmado governo do Brasil República. 

Cadê o brasileiro cordial? Foi trocado pelo brasileiro egoísta e amoral?

Vale reiterar, mais uma vez, o alerta que venho fazendo há mais de duas décadas: enquanto o capitalismo perdurar por aqui, o verdadeiro poder pertencerá sempre à parcela do Brasil cujas forças produtivas estão mais desenvolvidas, não ao Brasil da Bahia para cima, como outro articulista denominou. Marx cansou de bater nesta tecla (em termos genéricos, claro!), só que pouquíssimos marxistas brasileiros demonstram tê-lo lido. 

Trocando em miúdos: a porção do país economicamente mais pujante acaba invariavelmente impondo sua vontade à menos pujante, seja nas urnas, seja mediante viradas de mesa como as de 1964 e 2016. 

Então, as ilusões de conciliação de classe corporificadas na candidatura do Lula não só têm chance de virarem pó no frigir dos ovos, como, mesmo no caso de vitória nas urnas, nos conduzirão a mais um governo populista/reformista que o poder econômico derrubará quando bem entender. 

Insisto: ainda dá tempo para apostarmos nossas fichas numa candidatura que inspire reais esperanças de mudança, em lugar de uma que tem enorme rejeição e que até agora não mostrou como reergueria a economia brasileira, a maior aflição do nosso povo miserável e sofrido 

[Não pode fazê-lo simplesmente porque a tarefa se tornou impossível sob o capitalismo agônico e o PT está tão domesticado que nem a palavra revolução ousa mais incluir nos seus discursos e textos, daí restringir suas propostas de governo à repetição do que já deu errado outrora, porque insuficiente face à magnitude dos males que estão postos.]

Para um marxista, a importância das eleições burguesas sempre foi tática e não estratégica. Servem para acumularmos forças, não para darmos um fim à exploração do homem pelo homem, instaurando a justiça social e a liberdade plena. 

Voltando ao esquecido bê-a-bá marxista, uma derrota eleitoral em outubro poderá ser também o começo de uma nova fase da luta que realmente precisamos vencer: aquela para construirmos um país sem a escandalosa desigualdade e o caricato autoritarismo atual.

Se, contudo, continuarmos martelando nas mentes dos explorados a fantasia sebastianista de que Lula e somente ele fará desta terra arrasada um país de verdade, uma eventual derrota vai parecer o fim do mundo e trará consequências apocalípticas, pois a deterioração das condições de vida do nosso povo é tamanha que já estamos a um passo da explosão social. 

O ideal seria um candidato de esquerda com um discurso realmente de esquerda e que não tivesse tantas vulnerabilidades para o inimigo explorar, de forma que pudéssemos priorizar de novo as discussões sobre como se mudar este país, ao invés de nos mantermos presos na armadilha da polarização e do ódio. 

Alguém que pudesse personificar, aos olhos dos eleitores, um bem maior, não apenas um mal menor. 

E que tivesse perfeita noção de que a luta dos que querem resgatar a dignidade deste país e deste povo vai muito além de uma mera eleição presidencial, contrariando o que o PT vem pregando desde que se tornou a força hegemônica da esquerda (não só nos deixando passar por uma redemocratização extremamente tíbia e vacilante, como permitindo que a situação degringolasse até chegarmos à devastação desvairada do Bozo). 

Ainda dá tempo para trocarmos a mesmice de um candidato que tudo faz para crermos que a esquerda é ele (porque não ousa confrontar a dominação burguesa), por algum nome não tão queimado e que tenha a coragem de peitar um inimigo que cada vez mais quer impor-se a nós com o aparelhamento dos órgãos de Estado, as intimidações truculentas e o suborno, com recursos do erário, de tantos quantos lhe possam ser úteis. 

Ou a esquerda consegue ser maior do que quem quer que seja seu candidato da vez ou deveremos concluir que está empacada num caudilhismo anacrônico e estéril, que a torna cúmplice da perpetuação do status quo (por Celso Lungaretti)  

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite Celso, tudo bom?! Aqui é o Hebert. Deixo aqui esta crônica reflexiva
e realista sobre o cenário atual, do Alexandre Figueiredo. Coincidentemente,
tão reflexiva e autocrítica quanto essa, e quanto as outras que levemos por aqui.
Leituras que se tornaram convidativas, e regulares.

http://linhacaatomica.blogspot.com/2022/03/geraldo-alckmin-sepulta-o-esquerdismo.html

Um abraço, e bom fim de semana.

celsolungaretti disse...

Um forte abraço, companheiro!

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