quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

UMA ESFINGE DEMENTE É DIFÍCIL DE DECIFRAR, MAS NÃO DEVORA NINGUÉM

william waack
JAIR IMPONDERÁVEL
Jair Bolsonaro é no momento o fator imponderável das próximas eleições. 

O comportamento de Lula, seu principal adversário, é o que se esperava e previa. Idem para os demais concorrentes, nenhum deles até aqui uma formidável surpresa – mesmo considerando o efeito Moro, em parte já dissipado.

O imponderável associado ao presidente tem menos a ver com a possibilidade de uma ruptura institucional, como a pantomima ensaiada no último 7 de setembro. 

E muito mais com seu notório desequilíbrio pessoal, pautado em grande medida pelo medo de ele ou de seus filhos acabarem presos em caso de derrota eleitoral. 

Temer foi preso quando deixou a Presidência e Bolsonaro acha que corre o mesmo risco.

Nas condições atuais, os profissionais da política admitem que as chances de Bolsonaro se reeleger são remotas. Seus aliados do centrão o apoiam sobretudo como nome para ajudar na formação de bancadas – o principal foco dos caciques dos partidos, convencidos de que não importa o vencedor, o jogo de governabilidade para valer será na Câmara dos Deputados.

Bolsonaro percebe a iminência da derrota e vem daí a possibilidade que alguns de seus adversários, como Ciro Gomes, tratam já abertamente como probabilidade: a de que o mito não tente a reeleição. 

A questão seria, então, negociar algum tipo de proteção no caso de perda da prerrogativa por função.

Para concorrer a deputado ou senador, eleições que venceria facilmente, Bolsonaro precisa se desincompatibilizar.

Como os prazos são motivo de diferentes interpretações, o problema está aí: saindo do cargo para concorrer a eleições, ele corre o risco de ser preso.

"Aqui não há nada contra ele", diz veterano integrante do STF. 
Mas, incentivada ou não por Bolsonaro, chegou a ministros da Corte a demanda por saber qual seria o regime jurídico que permitiria ao presidente, p. ex., ocupar uma embaixada e permanecer protegido podendo disputar eleições. 

Ler o comportamento de Bolsonaro para tentar antecipar suas decisões tem sido atividade com baixa taxa de sucesso, tal o desequilíbrio com o qual age em questões como a vacinação de crianças, que se empenhou em atrapalhar (difícil de entender até pela racionalidade cínica do cálculo político-eleitoreiro). 

Quem tratou com ele recentemente relata certo desinteresse em participar de grandes articulações eleitorais.

"Nunca exclua aquilo que não se sabe", diz o mantra da antiga KGB – que foi, antes de mais nada, uma escola de especialistas em informação. O problema, no caso de Bolsonaro, é que talvez nem ele mesmo saiba. (por William Waack)

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