david emanuel coelho
O FRACASSO DO PSOL E OS LIMITES
DA ATUAÇÃO PARTIDÁRIA
O futuro parecia muito risonho para o Psol... |
Embora nunca tenha conseguido ganhar tração popular, permanecendo uma força circunscrita aos parlamentos, a alguns sindicatos e alguns movimentos sociais, o partido teve papel de destaque na sua primeira década de existência, sendo uma pedra no sapato do lulopetismo e chegando a atingir níveis relevantes de votação em nível presidencial.
Lula nunca escondeu seu ódio ao partido, formado majoritariamente por ex-petistas expulsos ou forçados a deixar o partido. Daí talvez certa ironia da história ao vermos o outrora opositor combativo prostrar-se diante do ex-presidente.
A grande virada no Psol, de oposição ao lulopetismo para serviçal do dito cujo, ocorreu entre 2014 e 2018, tendo como horizonte as jornadas de protesto de junho de 2013.
Assim como outros grupos dirigentes da esquerda institucional, uma parte importante da direção psolista ficou horrorizada com aquele repúdio eloquente ao status quo, a ponto de fazer eco às paranoias petistas de que nele haveria o dedo da CIA.
Escandalizava-os ainda mais o fato de a mídia burguesa ter associado o Psol aos manifestantes mais radicais, os chamados black blocs, pois receavam os possíveis custos eleitorais desta propaganda adversa para a esquerda como um todo.
...mas ele acabou seguindo os passos do pai. |
Indicativo de tal desconforto e do movimento de direitização que tomou conta do Psol foi ter Marcelo Freixo, no RJ, voltado as costas aos manifestantes criminalizados pela Globo, pelo governo Cabral e pela presidente Dilma, sobretudo após o trágico episódio do cinegrafista atingido por um rojão dos manifestantes (após dezenas de profissionais de imprensa terem sofrido com as balas de borracha disparadas pelas forças repressivas!!!).
Pouco a pouco, a direção conservadora do Psol executou um plano para isolar internamente os adepto de uma postura mais consequente e combativa.
Seguindo os mesmos métodos stalinistas adotados pela ala de Lula e Zé Dirceu no PT durante as décadas de 1980 e 1990, tais dirigentes psolistas conservadores passaram a incentivar a entrada em massa de meros carreiristas interessados em subir na vida, sem afinidade real com a causa e o programa do partido. Assim, em pouco tempo adquiririam maioria, iniciando então a reaproximação com o petismo.
O primeiro momento de claro flerte desta ala conservadora com o lulopetismo foi no 2º turno das eleições presidenciais de 2014, quando dirigentes de destaque hipotecaram apoio a Dilma sem sequer discutirem um posicionamento coletivo do Psol.
Foi mais um lance de uma disputa interna que já vinha sendo travada ao longo da campanha, tendo o conservador Randolfe Rodrigues, p. ex., sido forçado a abrir mão de sua candidatura (muito simpática ao lulismo) em prol de Luciana Genro, a qual tentava equilibrar-se entre os dois polos, muitas vezes servindo de linha auxiliar da campanha de Dilma contra Aécio Neves, conforme profeticamente constataria o candidato tucano num dos debates.
Agora já são 42 anos, mas dá no mesmo: de 2010 para cá, o PT se deslocou ainda mais para a direita... |
A consolidação da maioria conservadora se daria nos anos seguintes com a entrada no partido de ex-militantes do PSTU e o lobby em favor da candidatura de Guilherme Boulos, o qual nunca tivera relações com o Psol.
Boulos, inclusive, nele só ingressou às vésperas da campanha presidencial de 2018 e quando já tinha absoluta certeza de que seu nome seria confirmado.
Inesquecível sua atestado de submissão ao lulismo ao dar um boa noite, presidente Lula no começo de um debate dos pré-candidatos do partido.
O dirigente dos sem-teto acabou tendo uma votação pífia, a pior da história do Psol em campanhas presidenciais, só deixando de memorável a saia justa na qual colocou Bolsonaro ao atirar-lhe na cara o caso da Val do açaí.
Mas estava concretizada a descaracterização do partido como força anticapitalista. Dali até os dias de hoje, o Psol tem sido sombra do que era, metamorfoseando-se definitivamente numa agremiação subordinada aos interesses lulopetistas.
A ânsia por vencer nas eleições legislativas fez o partido até mesmo discutir o abandono da sua candidatura própria em prol de apoio a Lula já no 1º turno, bem como a possibilidade de fechar uma federação partidária com o PT e, assim, escapar da cláusula de barreira e manter o fundo eleitoral intacto.
A degeneração do Partido dos Trabalhadores levou pelo menos 20 anos para se completar. Foi apenas na Carta aos Brasileiros de 2002 que o PT deixou por completo de ser um partido de esquerda. Já a dissolução psolista foi mais rápida, talvez porque sua direção já tivesse queimado etapas em sua época no petismo.
...a ponto de associar-se a quem ontem o horrorizava. |
Mas isso coloca uma questão a nós, revolucionários. Olhando o sistema partidário brasileiro, não conseguimos vislumbrar qualquer partido minimamente aberto aos ideias revolucionários, exceção feita ao PSTU e ao PCB, os quais, contudo, ainda sofrem dos males do stalinismo e do centralismo doutrinário excessivo. Seria o sistema partidário intrinsecamente refratário à autêntica luta revolucionária?
Lênin, que em grande parte foi o principal inventor dos partidos revolucionários modernos, já advertia que o Partido Bolchevique atendia às necessidades particulares da sociedade russa, não podendo ser simplesmente copiado mundo afora.
O stalinismo ignorou tal ressalva e exportou para os quatro cantos do planeta uma forma alienada de organização política, na qual a direção sempre se descola da base e acaba por viver em função de si mesma, acumulando benesses, fundos eleitorais e/ou cargos públicos.
Resta então nos indagarmos sobre se haverá outra forma de organização política capaz de melhor cumprir os desígnios da tarefa revolucionária, não se desvirtuando até tornar-se mero cabedal para dirigentes parasitários. (por David Emanuel Coelho)
Um comentário:
Amei o texto. Expressa o que penso.
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