quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

QUEM CONFRONTOU O OBSCURANTISMO MERECE NOSSA ETERNA GRATIDÃO

N
o dia 17 de fevereiro de 1600 foi queimado vivo, aos 52 anos, um mártir da luta do saber contra as trevas da ignorância e do fanatismo: o escritor, filósofo, frade dominicano, matemático, ocultista hermético, poeta, teólogo e  teórico de cosmologia Giordano Bruno. 

Aproveito a oportunidade para disponibilizar aqui a cinebiografia que leva seu nome, lançada em 1973, com direção do ótimo Giuliano Montaldo e Gian-Maria Volonté no papel principal. 

Desta vez não darei meus pitacos sobre o filme porque faz quase meio século que o assisti e, embora o tenha considerado excelente, a reconstituição explícita das torturas e violências que sofreu me revirou o estômago, a ponto de nunca ter reunido ânimo para uma segunda apreciação. 

Foi algo que só me ocorreu neste caso e no de Actas de Marusia (d. Miguel Littin, 1975), dentre as muitas dezenas de fitas com sequências de tortura que já vi. Por quê? Sei lá...

Para preencher a lacuna, eis um resumo da sua trajetória, a partir do texto de Dilma Frazão no site ebiografia (vide integra aqui):
Giordano Bruno, nome religioso de Filipo Bruno, nasceu próximo à Nápoles, filho dos nobres Giovanni Bruno e Fraulissa Savolino. 

Com 14 anos começou a estudar Humanidades, Lógica e Dialética, tendo aos 17 ingressado como noviço no convento Dominicano de San Dominica Maggiore. 

Ordenado sacerdote em 1572, doutorou-se em Teologia três anos depois. 
Durante seus anos de convento, interessou-se sobretudo por Aristóteles, Johannes Kepler e Erasmo de Roterdã. Defendia alguns textos que questionavam os princípios da Igreja.

Em fevereiro de 1576 fugiu para Roma, após ser submetido pelos próprios dominicanos a um primeiro processo de heresia. Logo depois abandonou o hábito e iniciou uma longa peregrinação.

Em 1578 foi para Genebra, onde adotou o calvinismo, mas, ao escrever um artigo contestando algumas ideias calvinistas, foi excomungado do movimento.

Em 1582 seguiu para a França, passando a lecionar em Toulouse. Em seguida se mudou para Paris, tendo oferecido ao rei Henrique III a obra As Sombras das Ideias. Escreveu também Sinais dos Tempos.

Dali seguiu para a Inglaterra, onde permaneceu até 1585 entre Oxford e Londres, sob a proteção do embaixador francês. Nessa época escreveu a trilogia Diálogos Italianos, El Candelero e La Cena del Niércoles de Ceniza. Após ser acusado de plagiar o trabalho de um colega foi expulso de Oxford.

Em 1591, Giordano Bruno foi viver em Frankfurt, onde se converteu ao luteranismo. Mais uma vez se desentende e sofre a excomunhão da Igreja Luterana.

No ano seguinte, conhece o nobre veneziano Giovanni Mocenigo, que o convida para visitar Veneza. Segundo alguns historiadores, foi uma armadilha para prender Bruno que, havia muitos anos, estava na lista dos procurados pela Inquisição.
Volonté: superlativo!
No dia 23 de maio de 1592, Bruno foi levado para o cárcere do Santo Ofício de San Domênico de Castello. Em Roma, após um processo que se arrastou por sete anos, a Inquisição o declarou culpado

As numerosas acusações contra Giordano Bruno eram baseadas em alguns de seus livros, que para a Igreja continham blasfêmia, conduta imoral e heresia aos dogmas católicos.

Para livra-lo da morte, a Santa Inquisição exigia a retratação integral de suas teorias. Quando questionado pelos inquisidores, destacava que suas ideias eram puramente filosóficas e não religiosas, mas o argumento não foi aceito (*).

No dia 18 de fevereiro de 1600, foi condenado à morte na fogueira e obrigado a ouvir sua sentença de joelhos. Nesse momento desabafou:
"Talvez vocês sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la".
Giordano Bruno foi queimado na fogueira, no Campo de Fiori, em Roma.

Ele prenunciou o avanço da ciência com suas teorias do universo infinito e da multiplicidade dos mundos.

Escreveu em defesa da teoria heliocêntrica de Copérnico, segundo a qual o Sol estava no centro do universo, contrariando a teoria geocêntrica imposta pela Igreja.

Afirmava que a Bíblia deveria ser seguida apenas por seus ensinamentos morais, para evitar contradições entre a religião e a ciência.

Escreveu
Do Infinito Universo e Mundos, que defendia que o Universo era infinito e estava inacabado, ou seja, não era a obra perfeita e concluída de Deus.

Afirmava que havia mundos habitados. Essas teorias avançadas iam de encontro a tudo o que a Igreja pregava e defendia.

* Não encontrei como esclarecer se é correto o desfecho mostrado no filme. A Igreja afinal teria resolvido poupar Giordano Bruno, oferecendo-lhe a salvação em troca apenas de ele confirmar uma confissão que fizera anteriormente, mas aí ele recusa. E justifica para um amigo, referindo-se ao inquisidor que lhe comunicara a oferta: "Havia sangue demais naquelas mãos". (CL)
 

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