sexta-feira, 19 de novembro de 2021

MÚSICA DE LUNGARETTI E DALTON LEMBRA JUNHO DE 2013 ("A CIDADE ESTAVA POR UM FIO, DOIS BABACAS ACENDERAM O PAVIO")

Policiais cegando jornalistas com balas de borracha e black blocs reagindo à violência com
vandalismo: foi fácil para a mídia transmitir à opinião pública uma imagem devastadora.
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PARA TURISTA ACIDENTAL, FALTAVA-ME A GRANA
E A GANA. MAS POETA ACIDENTAL, POR QUE NÃO?
J
á escrevi sobre minhas fases de crítico acidental de cinema (vide aqui) e de música (vide aqui), pois duraram meia década cada e renderam centenas de textos publicados, ainda que não o fossem na grande imprensa. 

Também posso me considerar um poeta acidental, embora a repercussão fosse menor ainda. Mas, como mensurar um sonho? 

O importante, bem disse o Paulo César Pinheiro, é que a nossa emoção sobreviva. Talvez sirva de inspiração para os que virão depois de mim e siga por algum tempo produzindo alguns dos efeitos que eu tentei causar...
    
Faço poesias desde os meus 13, 14 anos, por aí. Sempre que qualquer inspiração surgia, eu a colocava no papel. 

Comecei fazendo-as quilométricas e palavrosas, mas, com o tempo, fui para o extremo oposto, tentando dizer o máximo com o mínimo de palavras.

No inferno do DOI-Codi, em maio ou junho de 1970, cheguei a ter como companheiro de cela o major Joaquim Cerveira (vide aqui), anos depois assassinado pela Operação Condor.  Estávamos em cinco. Para tentarmos pairar por alguns momentos acima das nossas dores e dramas, ele cantava seus sambas e eu recitava minhas poesias, ambos de memória.
Colega na poesia, Rubens Lemos me pediu para
travar uma luta dramática; a vitória caiu do céu

Quando morava numa comunidade alternativa, em 1972, escrevia versos a esmo em meio às nossas viagens de LSD. 

Houve vezes em que depois encontrei matéria-prima poética em meio àquela algaravia toda. Aproveitava o aproveitável, dando um trato e acrescentando complementos,  e jogava o resto fora.

Em meados daquela década, participava dos espetáculos de poesia e música do Grupo Cacimba e era um dos autores das coletâneas independentes produzidos com a grana resultante. 

O Rubens Lemos, radialista de esquerda e veterano quadro do partidão, era outro dos poetas. Foi graças a isto que, quando o filho dele mais três companheiros presos, os chamados quatro de Salvador, estavam prestes a iniciar uma greve de fome em 1986, ele pediu minha ajuda para fazê-la repercutir e, com muito esforço e um bocado de sorte, encontrei o caminho de uma vitória que parecia impossível (vide aqui).   

Na década de 1990 resolvi tentar a sorte nos concursos de poesia anunciados na internet. Peguei todas as poesias que considerava pelo menos razoáveis e fiz um livro resumindo as etapas da minha trajetória de vida e as poesias criadas em cada uma delas. 

Não ganhei nada, mas tinha carinho por aquele trabalho. Aí uma pane do computador e um técnico trapalhão que o reformatou sem cuidado fez meu livro virar pó. Foi quando perdi boa parte do meu entusiasmo pela coisa.

Guardo como melhor lembrança a poesia que dediquei à moça que tentava conquistar e acabou se tornando a mãe da minha filha mais velha.

Muitas poesias que faço têm um ritmo musical e são facílimas de adaptar para letras de canções. Aqui e ali alguns o fizeram, inclusive sem que eu jamais ouvisse o resultado (isto antes da internet, claro!).

Minha última poesia foi Junho Indignado, por causa do forte impacto que as manifestações de 2013 tiveram sobre mim. Lamentei que a bestialidade das polícias estaduais e a insensatez (ou provocações deliberadas, sabe-se lá, Anselmos sempre há...) dos black blocs acabassem ofuscando o ingrediente revolucionário daqueles protestos. 
Quis dizer isto em versos, mais ou menos na linha da chamada
vanguarda paulistana do período 1979/1985, aquela do Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Por quê? Sei lá, foi como imaginava a canção na qual aqueles versos caberiam, quando os estava criando. 

Esta poesia derradeira foi agora musicada pelo Dalton e deu origem ao vídeo abaixo, na voz do Gomes Brasil. 

Se calhar, a parceria com o bom Dalton poderá render outros frutos, caso a musa de outrora decida me visitar de novo. O certo é que não pretendo utilizar com tal objetivo as poesias que sobraram do apagão do computador (eis algumas aqui). 

Marcam outras épocas e eu encaro a vida como movimento e mudança. Enquanto não me faltarem as forças, estarei tentando escrever novas páginas.  A História jamais tem fim para os revolucionários. (CL) 

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