(continuação deste post)
CONSIDERAR A CHINA COMO COMUNISTA – O comunismo não é uma forma política, mas uma doutrina que propõe um estágio de vida social no qual inexistam classes sociais distintas e as categorias sociais que compõem o universo capitalista, aí incluídos o dinheiro, a mercadoria, o trabalho abstrato (expressões materializadas da abstração valor) e a sustentação política e jurídica destas categorias de base pelo Estado, a esfera de regulação e coerção opressora social.
Neste sentido, a China, ao fazer a chamada revolução proletária em 1949 e conservar todas as categorias capitalistas de base, tornando o Estado dito comunista (uma contradição até na acepção filosófica do termo) o novo e plenipotenciário patrão, mudou apenas dois aspectos da vida social anterior:
— a propriedade estatal, a partir do confisco dos meios de produção privados dos três setores da economia (agronegócio, indústria e serviços); e
— a forma política centrada no partido único, autodenominado de comunista.
Acreditavam os marxistas tradicionais que, ao expropriarem os meios de produção dos capitalistas privados (ou dos mandarins feudais) e colocá-los sob o controle de um governo pretensamente proletário, os problemas estariam resolvidos e se caminharia para o objetivo teoricamente almejado.
Só que, ao se fechar intramuros nas suas extensões territoriais imensas mas preservando todas as categorias capitalistas de base, em que pese a relativa melhora da vida milenarmente empobrecida dos camponeses da China, veio a inevitável necessidade de expansão da lógica capitalista interna, e o surgimento da doutrina de Deng Xiao Ping, de abertura capitalista para o mundo (com as concessões ao capital privado local e mundial) e a busca e aceitação do sistema bancário capaz de financiar a produção industrial crescente, como forma de se alcançar tal expansão.
Hoje a China pratica o capitalismo mais selvagem do planeta, baseado num endividamento gigantesco (cerca de 300% do PIB, o maior do mundo capitalista); salários de fome, sem direitos trabalhistas; baixo custo fiscal; e controle estatal severo.
Ou seja, uma ditadura ferrenha e militarmente ameaçadora, que nega todos os postulados que um dia estiveram na cabeça de Karl Marx, o fundador do materialismo dialético e da crítica da economia política.
A China positiva a lógica do capital; Marx negou-a.
Mas, essa é a mesma China que hoje já está provando do próprio veneno com o qual pretendeu conviver, o capital, e vê serem solapados, por suas próprias contradições, os fundamentos sob os quais erigiu o seu falso comunismo.
Os fundamentos capitalistas chineses rodam em falso e, num prazo que não podemos prever exatamente qual será, terá de rever os critérios sob quais erigiu o dragão chinês e procurar outra lavagem de roupa (como se diz aqui no Nordeste para quem perdeu o emprego).
Dizer que a China foi em algum dia comunista é como afirmar que Pelé não passou de um perna-de-pau!
A ACEITAÇÃO DA VOLTA, SEM PEJO E À LUZ DO DIA, DA DOUTRINA NAZISTA – O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães trazia, no seu enunciado, três elementos que explicitavam a contradição doutrinária do seu nome e um quarto, oculto, mas que cedo se evidenciou.
O primeiro elemento: intitular-se nacional socialista. Ora, o socialismo, enquanto doutrina pretensamente anticapitalista (que também não o é, pois admite a convivência sob a mediação social do capital),e que se pretende internacional, não pode ser, obviamente, ao mesmo tempo nacional e socialista, que são conceitos semantica e doutrinariamente divergentes.
Se é nacional, não é internacional; se é socialista, é presumivelmente anticapitalista. O nazismo, que queria deter hegemonia ditatorial internacional capitalista, é uma mentira até no seu conceito simbólico.
Como partido que endeusava o trabalho (vide a frase o trabalho liberta nos campos de concentração), o trabalhador alemão ariano e sua capacidade intelectual e física, evidentemente endeusava tal categoria capitalista: o trabalho abstrato produtor de valor.
Ao mesmo tempo, protegia os capitalistas alemães de origem ariana segregando os capitalistas e trabalhadores judeus, ou seja, era trabalhista, mas capitalista e racista.
No fundo, isso não passava de uma farsa doutrinária que encobria uma falácia, cuja única verdade era a pretensão de hegemonia econômica e política mediante a imposição truculenta de uma ordem política-social belicista, ditatorial, racista e escravista, que recorria às práticas mais execráveis para viabilizar todos os retrocessos civilizatórios que haviam sido conquistados mundo afora; o nazismo embutia e sintetizava uma visão estatutária de terrorismo de Estado.
O que mais impressiona é terem, na douta e civilizada Europa (que tanto sofreu com a devastação da 2ª Guerra Mundial provocada pelo pensamento nazista de mãos dadas com seu irmão siamês, o fascismo italiano), ressurgido agora das cinzas tais abominações ultradireitistas, demonstrado a existência coletiva de um perigosa memória amnésica da história política e social mais recente.
E o pior é que a epidemia de barbárie contagiou também o Brasil, revelando que nossa proverbial cordialidade não é tão cordial assim.
Temos uma guerra urbana deflagrada pelo crime organizado e por uma variante mafiosa aqui chamada de milícias (as quais, certas de que permanecerão impunes, cobram proteção, impõem sua justiça e têm, inclusive, a acintosa proteção do clã presidencial!
Que tipo de bestas-feras são aqueles militantes boçalnaristas que foram exibir seus músculos marombados destruindo uma placa de rua que homenageava uma vereadora destemida, digna defensora do seu povo, a qual, por ser de origem humilde, negra, mulher e gay, foi por isso mesmo covardemente, assassinada? Diferem, o mínimo que seja, dos camisas pardas nazistas e dos camisas negras fascistas?
O que dizer do cidadão Daniel Silveira, integrante emblemático dessa horda, destruidor de placas e desordeiro contumaz, que ousou até trombetear que, caso precisassem de ajuda para fechar o Congresso Nacional, ele estava à disposição? Como pôde tal brutamontes ter sido eleito para representar o povo no na Câmara Federal? (por Dalton Rosado)
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