segunda-feira, 4 de outubro de 2021

CHEGA DE SAUDADE! O PT E LULA NÃO SÃO ALTERNATIVAS PARA UM BRASIL EM CACOS

Pouco não foi. Mas, como esperávamos muito mais, sentimo-nos decepcionados neste sábado.  
D
epois de pelo menos seis grandes atos populares contra Bolsonaro, as manifestações do dia 2 de outubro fracassaram em força e tamanho. No máximo, conseguiram superar as micaretas bolsonaristas do 7 de setembro. 

Não é de estranhar-se tal encolhimento depois de a esquerda institucional, PT à frente, haver desmobilizado o impeachment, fazendo jogo de cena no Congresso Nacional e participando timidamente dos atos de rua. Agora, a um ano do processo eleitoral, resolve agir com mais ênfase, de olho em ganhar votos. 

Não é segredo que Bolsonaro na Presidência é útil para Lula. O presidente desprezível e genocida faz qualquer um parecer normal e permite que o debate não entre em questões fundamentais. Afinal, quem há de discutir programas econômicos e sociais quando a opção é um indiscutível assassino. 

Para Lula e o PT, esse é o melhor dos mundos. Não tendo de debater programas, também escapa de prestar contas do passado, atirando debaixo do tapete os questionamentos sobre 13 anos de erros. 
Vargas foi afastado, reconquistou o poder, mas nele
morreu: nunca volte onde você foi feliz um dia.

Tampouco é cobrado a respeito do que fará de diferente na quadra histórica vivida hoje, muito diferente da época de bonanças do começo do século. 

Sem um debate político de verdade, o lulopetismo agarra-se à mística das lembranças do seu primeiro governo e transforma Lula de indivíduo concreto em ideia viva. Ele é o programa. 

Por isso, o ex-presidente pode se dar ao luxo de não participar de nenhum ato contra Bolsonaro – ao contrário do Ciro, um pobre coitado que precisa ir às ruas apanhar de petistas raivosos. Para Lula, basta o silêncio e a paciência de esperar as urnas abrirem. Assim, ele gasta seu tempo já costurando alianças com o caciquismo emedebista, o mesmo que antes era acusado de ser golpista

A verdade crua é que o programa lulopetista não é diferente do bolsonarista. Claro, é mais civilizado e tem um olhar caridoso para com os pobres. Mas, de resto, em nada se afasta. Paulo Guedes é a versão piorada de Henrique Meirelles. Praticamente nenhuma das medidas econômicas de Bolsonaro será alteradas num futuro governo Lula. 

Contudo, a coisa pode ser muito pior. Os retornos em política costumam ser catastróficos. Vargas voltou em 1950 apenas para se matar quatro anos depois. Não vejo possibilidade de um suicídio de Lula, ele não tem tal estatura moral, mas certamente um novo governo seu tem tudo para ser parecido com o do pai dos pobres

Ao que tudo indica, o cacique do PT vai tentar repetir a fórmula de seu primeiro governo. Sendo um sujeito sem imaginação, tende a copiar a si mesmo, 20 anos depois. Manterá uma política econômica conservadora, preservando, conforme dito, a maior parte da política econômica de Bolsonaro. 

Mas o Brasil de 2023 não será o de 2003 e muito menos o Lula de agora é o Lula daquela época. Por não ser mais uma novidade nem uma esperança, a paciência popular rapidamente estará esgotada. E aí a pressão será inevitável. 
Derrubado, o argentino Perón voltou de longo exílio com nova
esposa (tentando bisar o fenômeno Evita), foi eleito para um 3º
mandato, mas morreu do coração antes de completar 8 meses.
Emulando a mãe dos ricos, o novo pai dos pobres tentará uma guinada mais à esquerda, o qual, no entanto, poderá solapar sua base política conservadora. No fim, não vai agradar a ninguém e o capítulo final de sua nova passagem pelo poder será, no mínimo, uma incógnita. 

Ao apostar na despolitização e no personalismo místico, Lula brinca com o futuro do país. Faz uma aposta arriscadíssima sem ter nenhum diagnóstico da atual situação nacional. Oculta o debate programático em nome da conquista do poder, implicitamente prometendo o que não pode cumprir. Perdido, blefa. 

Embora qualquer coisa hoje nos pareça melhor do que Bolsonaro, é preciso levar-se em conta que o inferno, conforme mostrou Dante, é um círculo descendente, sendo sempre possível uma piora. 

É hora de travarmos um debate crucial para o destino do país, aquele do qual desde 2016 o PT está esquivando-se, com as piores consequências possíveis. (por David Emanuel Coelho)

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