segunda-feira, 4 de outubro de 2021

A GUERRA É A RESULTANTE GENOCIDA DA LÓGICA DESTRUTIVA DO CAPITAL – 1

dalton rosado
FETICHISMO DA MERCADORIA, A
TRAGÉDIA NO SEU ÚLTIMO ATO
"O fetichismo da mercadoria significa algo mais geral: em essência, um sistema, que Marx chamou de sujeito autônomo que
reina supremo e no qual os humanos são os servos da
economia que eles mesmos criaram e que
aparece diante deles como uma
força independente" 
(Anselm Jappe)
Karl Marx usou o termo fetichismo da mercadoria para fazer uma analogia do modo de produção capitalista com os totens de pedra australianos que eram erigidos e adorados pelos aborígenes.

Diante deles eram sacrificadas vidas humanas (as crianças mais belas da comunidade) para se pedir cura de doenças e a chegada das chuvas.  

A subordinação fetichista dos aborígenes aos totens por eles mesmos esculpidos encontra um paralelo nas regras da mediação social regida pela produção de mercadorias sujeitando os seres humanos à sua lógica destrutiva (da sociedade e da natureza) e autodestrutiva da própria forma. Coisas que ganham vida e regem as nossas vidas.

Tal como os totens que as intempéries decompunham ao longo do tempo (tudo que é sólido desmancha no ar, disse Marx), pari passu à destruição social e do meio ambiente, a lógica da produção de mercadorias agora se decompõe por haver encontrado o seu ponto de saturação interno e externo.

A segregação social escravista odiosa que tem sido imposta nos últimos milênios somente pôde subjugar os escravizados pela força dos chicotes, ferros e espadas dos escravizadores, o que levou à criação dos exércitos regulares, com o principal e substancial reforço das armas de fogo. 
Uma visão artística do fetichismo da mercadoria é dada 
em Cidadão Kane: a essência humana do magnata 
esvai-se entre os tesouros da humanidade que amontoa

Daí surgiu a necessidade de se introduzirem soldos militares para renumerar os profissionais da guerra, tornando a mediação social pelo dinheiro uma exigência política e econômica governamental. 

O capital é genocida. A guerra, que ganhou impulso sob o capital, é a resultante genocida de sua lógica destrutiva. 

A política institucional é, portanto, um instrumento da opressão e não um fórum livre do debate de ideias; e se constitui na letal, submissa e moderna resultante das relações econômicas estabelecidas pelo sistema produtor de mercadorias.

Não há boa política institucional, justamente porque não há como submeter-se a economia à política, razão pela qual os partidos que se dizem anticapitalistas mais não fazem do que enxugar gelo e perpetuar, consciente ou inconscientemente, o fetichismo da mercadoria (do qual são dependentes). 

O sujeito autônomo e automático do capital reina soberano sobre as consciências humanas, submetendo-as. 

Mas, como não há mal que dure para sempre, eis que é chegado agora o momento de atingimento do limite interno do sistema

Embora cultuado por todos (ultradireita, direita, centro, centro-esquerda, sociais-democratas, marxistas tradicionais, etc.) os disputantes do poder político decrépito que lhe dá sustentação, o sistema produtor de mercadorias alcança agora o ponto a partir do qual se torna inviável. 

Cada vez mais o descrédito corrói o processo eleitoral manipulado que dá de acesso a um poder segregacionista estatal, ao mesmo tempo opressor do povo porque obediente a uma lógica opressora do capital. 
A política, expressão institucional do capital, vai escancarando a sua ineficácia como solução para a inconciliável contradição entre forma e conteúdo da relação social capitalista. 

Desmorona o castelo de cartas sob o qual se abriga a política. 

Patrões e trabalhadores se digladiam numa luta inglória pelo dinheiro. Os primeiros buscando o lucro que lhes escapa. Os segundos pelos salários que diminuem gradualmente ou desaparecem, seja: 
— pela inflação;
— pela perda de direitos;
— pela substituição de mão-de-obra mais barata nas regiões mais pobres do planeta; ou, ainda,
— pelo desemprego estrutural. 

As associações de classes patronais usam seus representantes políticos (em maiorias parlamentares eternas) para a justificação indefensável das perdas de direitos civis e trabalhistas (vide a reforma de previdência social no Brasil, proposta que, aliás, havia sido em 2003 a razão da cisão do PT e formação do Psol), em nome de um totem sagrado denominado sustentabilidade da relação social sob a forma-valor (dinheiro e mercadorias). 

As associações de trabalhadores e os sindicatos pedem de joelhos a não-demissão de trabalhadores substituídos pelos robôs e máquinas de última geração, mesmo com a aceitação das perdas salariais crescentes. 

Tal ocorre em razão da dificuldade de se chegar a bom termo de soluções de problemas em face de uma inviabilidade básica, estrutural, que não pode ser resolvida dentro dos marcos do capitalismo. 
por Dalton
Rosado

Não se trata de incrementar ou humanizar o capitalismo como solução social, mas sim de superá-lo como forma de relação social, adotando-se uma outra que venha a usar todo o saber científico e avanços tecnológicos em prol da humanidade, e não contra ela. 

O capitalismo cava a sua própria sepultura (Marx).
(continua neste post)
O Dalton desta vez escolheu um novo intérprete, mais 
no estilo desta sua composição: o Amílcar Roqueiro

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