terça-feira, 5 de outubro de 2021

A GUERRA É A RESULTANTE GENOCIDA DA LÓGICA DESTRUTIVA DO CAPITAL – 2

(continuação deste post)
As charges são todas do imprescindível Jota Camelo
Foi o mesmo Marx quem disse nos Grundrisse (perdoem-me o eco) que, quando o trabalho vivo (dos assalariados) fosse substancialmente substituído pelo trabalho das máquinas, faria voar pelos ares toda a lógica do capital. Eis que estamos a presenciar o cumprimento do vaticínio de Marx. 

Tal raciocínio decorre da conclusão marxiana de que somente o trabalho abstrato, produtor de mercadorias (e ele mesmo sendo uma mercadoria, pois os salários são expressos na mercadoria dinheiro) produz valor. 

Então, quando um empresário, movido pela guerra concorrencial de mercado, substitui o trabalho vivo (dos assalariados) pelo trabalho morto (das máquinas), ele aumenta os seus lucros individualmente, mas provoca a diminuição do volume da massa de extração de mais-valia e de toda a massa de produção global de valor. 

Consequentemente, a economia como um todo se deprime, seja sob a forma de impostos ou da reprodução vital da massa de valor global, e vê reduzida a sua capacidade de irrigação da máquina social. Disto resulta uma série de problemas insolúveis, quais sejam:
— crescimento da dívida pública como forma de fazer face à queda da receita fiscal e aumento dos gastos da máquina pública;
— redução drástica do atendimento das demandas sociais pelo Estado, cada vez mais endividado e pagando juros extorsivos (principalmente no caso dos países pobres, de moedas frágeis); 
— redução da capacidade de indução pelo Estado do capital pela paralisia de obras de infraestrutura financiadas pelos impostos e taxas pagas pelo povo, como financiamentos, construção de estradas, de hidroelétricas e outras formas de produção de energia, de portos, aeroportos, etc.; 
— emissão de moeda sem lastro, causadora de inflação que corrói os salários;
— desemprego estrutural, que reduz e elimina salários;
— redução da massa global de valor de consumo, apesar do barateamento das mercadorias (é desigual o sistema de compensação entre os dois fenômenos); 
— concentração de rendas, pois somente as empresas capazes de fazer investimentos em capital fixo (das máquinas e instalações) em substituição ao capital variável (dos salários) podem sobrevier na guerra concorrencial de mercado;
— aumento da miséria social global, embora haja países que se beneficiem de tal fenômeno (é graças a isto que ocorrem as migrações para as diminutas ilhas de prosperidade); 
— descrédito nas instituições estatais, principalmente as políticas;
— acentuação dos populismo de direita e de esquerda, que se apresentam como salvadores da pátria em movimentos pendulares;
— eclosão de guerras pontuais e ameaça de guerra mundial com uso de artefatos bélicos com alto poder de destruição (não nos esqueçamos de que as duas guerras mundiais do século passado foram frutos do acirramento das lutas por hegemonias econômicas resultantes da segunda revolução industrial fordista e suas depressões),  etc., etc., etc.
Mas há um limite externo, de natureza ecológica, que se subdivide em três segmentos:
— exploração predatória dos recursos naturais minerais e vegetais;
— poluição dos mares, rios, lagoas, e lençóis freáticos; e
— emissão na atmosfera de gases poluentes que provocam o efeito estufa e o aquecimento global, bem como a seca e a desertificação de áreas outrora férteis.  

O fetichismo da mercadoria, como lógica totalitária, quer justificar o injustificável, ou seja, em nome de falácias como manutenção de empregos, retomada do desenvolvimento econômico e desenvolvimento científico e tecnológico, nos obriga a aceitar todos os males do capital como se fossem males necessários. 

Nós criamos o capital e a ele nos submetemos de modo suicida. 

Só a nós cabe a tarefa de interromper a autofagia do sujeito automático da forma-valor, sua destrutibilidade e autodestrutibilidade, e somente com um processo de ação e conscientização social é que podemos conter esta marcha célere rumo à nossa própria destruição enquanto humanidade. 

À tarefa, pois! (por Dalton Rosado)
Na voz do Gomes Brasil, outra composição do versátil Dalton 

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