sexta-feira, 10 de setembro de 2021

NÃO CONSEGUIMOS ENCONTRAR O FIO DE ARIADNE QUE NOS INDIQUE A SAÍDA DESTE LABIRINTO DE CRISES DEVASTADORAS – 1

dalton rosado
GETÚLIO (militares), JÂNIO (militares), COLLOR,
 BOLSONARO (militares)... E DEPOIS LULA. ATÉ QUANDO?
"Fazei-o discorrer sobre política e o nó górdio do
caso ele deslinda, tão facilmente como o faz com a
jarreteira"(William Shakespeare, na peça Henrique V)
Há uma percepção generalizada entre a população, e em todos os níveis do conhecimento e nos vários estratos sociais, de que o grande problema das crises e desgastes governamentais se deve à corrupção. 

Não é, e o buraco está bem mais embaixo. Mas é assim que os bravateiros da moralidade administrativa conseguem eleger-se, passando a ideia de que com eles a corrupção acaba e tudo melhora. 

Getúlio Vargas era considerado o pai dos pobres por ter regulamentado a exploração capitalista pelo trabalho com base na Carta del Lavoro do fascista Mussolini (tais relações eram ainda mais draconianas antes dele). 

Mas estava encurralado por um ultimato militar que exigia sua imediata renúncia, sob a acusação de ter permitido a existência de um mar de lama no seu governo (argumento trombeteado  principalmente por Carlos Lacerda). Conseguiu abortar o golpe cometendo suicídio e deixando uma carta-testamento contundente que provocou uma reação popular.

Eis outros episódios e personagens marcantes:

— Jânio Quadros tinha como símbolo de campanha a vassourinha que iria varrer a corrupção. Queixando-se de forças terríveis que não estariam permitindo que ele governasse como pretendia, renunciou após sete meses e alguns dias de governo;
 Fernando Collor cultivava a imagem de um caçador de marajás, baseada em algumas medidas que tomara como governador de Alagoas, confrontando usineiros e funcionários públicos cujos salários eram muito elevados. Queria governar como se elegeu, sozinho e tendo como tesoureiro (e testa-de-ferro) o energúmeno e corrupto PC Farias. Renunciou na iminência do impeachment e seu serviçal foi vítima de uma óbvia queima de arquivo
Jair Bolsonaro se fez passar por representante da Operação Lava-Jato na eleição presidencial de 2018 (farsa que ganhou verossimilhança com o apoio que obteve de Sergio Moro, prometendo fazer dele um superministro e depois indicá-lo para uma vaga no STF, mas a patranha logo se evidenciou insustentável) e empunhava armas que significariam a restauração da ordem social e proteção contra uma violência urbana que hoje chega às raias de uma guerra civil não declarada. Hoje ele e sua turba de incendiários descerebrados estão cada vez mais isolados e politicamente impotentes. 

Tudo era mentira, e como a mentira tem pernas curtas, todos nós conhecemos o resultado. Só que, sendo curta a memória popular, o ciclo de bravateiros populistas se repete com certa regularidade: de Getúlio para Jânio, 30 anos (1930 a 1960); de Jânio para Collor, 30 anos (1960 a 1990); e de Collor para Bolçalnaro, o ignaro, 28 anos (1990 a 2018).
Parafraseando o grande Plínio Marcos, no inventário de culpas por termos chegado ao
 pesadelo atual, é enorme a responsabilidade destes dois perdidos numa eleição suja.
Não nos esqueçamos que todos esses governos sempre estiveram sob uma tutela militar, que no Brasil existe desde a implantação da República por uma quartelada, seja como ameaça ou mesmo como governo (Getúlio ascendeu ao poder político civil com um golpe militar tenentista, e os militares posteriormente se voltaram contra ele, depondo-o duas vezes, em 1945 e 1954).

É o que chamo de pêndulo da ineficácia, tal qual aquele do relógio de parede que vai de um lado para outro (no caso direita absolutista militar e democracia burguesa inepta) e não sai do mesmo lugar.

A antiga miséria ultimamente só aumenta, sob a forma de inflação; desemprego; falência do Estado; exploração salarial a que submete os ainda empregados, levando-os a admitirem o ruim por medo do péssimo, etc. 

E sua causa não é apenas a corrupção com o dinheiro público (que existe e aumenta cada vez mais sob a égide do centrão, afora outras maracutaias que vieram à tona com as investigações da CPI da Pandemia e da justiça). 

A origem principal dessa barbárie social, para ambos os lados dos projetos pendulares acima referidos, é a base sobre a qual se dá a mediação social que agora entrou em contradição irresolúvel entre forma e conteúdo, prenunciando o caos. 
(por Dalton Rosado)       
                (continua neste post)

                 
Gomes Brasil interpreta composição do Dalton

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