Noventa vezes. É o número de ocasiões em que Bolsonaro falou sobre fraude eleitoral desde maio, mais de uma por dia.
A verborragia presidencial é mais do que um simples desvio de foco dos 550 mil mortos e de gente em filas para pegar osso. É parte decisiva de sua estratégia.
Precisamos limpar campo. A questão principal não é o mérito: é legítimo que se discuta o sistema de votação no Brasil, e o voto impresso é uma das alternativas, adotada em outros países.
Elementar, meu caro Flintstone! |
Particularmente, acredito que ela facilite fraudes, em vez de dificultá-las. Mais do que isso, facilita a fotografia do voto pelo próprio eleitor para comprovação que só interessa a quem promove voto de cabresto.
Mas não é este o debate. Ou alguém acha que Bolsonaro está de fato preocupado com a transparência da democracia brasileira?
A narrativa bolsonarista visa deslegitimar o processo eleitoral. Não por acaso ele intensifica o discurso justamente no momento em que seu governo tem pior aprovação e todas as projeções apontam sua derrota em 2022.
Na verdade, ele não quer voto impresso, quer um pretexto. Que poderia ser qualquer outro, tanto é que nos EUA —onde o sistema de votação é impresso— ele foi o primeiro a denunciar fraude contra seu amigo Donald Trump.
Bolsonaro segue os passos de Trump, com mais antecipação e maior risco. Denuncia a fraude com um ano e meio de antecedência e prepara seu próprio Capitólio. A narrativa arma seus apoiadores para manter vivo o bolsonarismo mesmo com derrota de Bolsonaro.
É preciso reconhecer que ele foi capaz de organizar um movimento ideológico de extrema direita, com capilaridade social, que só tem paralelo na história brasileira com os integralistas de Plinio Salgado. É isso o que ele quer preservar.
O cartunista Laerte propõe este aperfeiçoamento na urna eletrônica, para bozistas receberem comprovante do voto |
Suponhamos que Bolsonaro chegue até a eleição de 2022 e seja derrotado. E que altos oficiais do Exército e das polícias ponham em xeque o resultado. Como os quartéis reagirão?
Por isso a pressão do general Braga Netto sobre o Congresso e sua nota em defesa do voto impresso são tão graves. A sociedade precisa rechaçar o movimento golpista no nascedouro. As manifestações de rua cumprem importante papel de contraponto.
O Parlamento tem de convocar o ministro da Defesa para esclarecimentos. Todas as instituições e forças democráticas têm o dever de se posicionarem, sob a pena de cair na vala da covardia histórica.
Ou desmoralizamos o golpismo ou seremos devorados por ele. (por Guilherme Boulos)
2 comentários:
Celso! O que dizer?!
Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
27 de julho de 2021
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,os-militares-rejeitam-lula-mas-ele-investiu-pesado-na-modernizacao-das-tres-forcas,70003790655
É a pura verdade: o Lula afagou os verde-olivas a mais não poder, impediu seus ministros de pregarem a revogação da ridícula anistia de 1979 que igualou as vítimas aos carrascos, modernizou as Forças Armadas e não obteve o mínimo reconhecimento.
Quem é tolo, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue...
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