segunda-feira, 24 de maio de 2021

'PATO MANCO' EM FASE TERMINAL, BOLSONARO PARTE PARA A OFENSIVA

C
loroquina, tratoraço, rachadinha, bolsolão, ataques aos diferentes entes federativos, aos outros poderes da República, à imprensa, à ciência, ao plano vacinal, ao bom senso, à China etc. 

A extensa lista de escândalos, crimes e inimigos cultivada pela administração Bolsonaro ao longo dos últimos 30 meses conduziu o bolsonarismo, precocemente, à sua fase terminal antes de o ano eleitoral subsequente sequer começar. 

Na disciplina das Relações Internacionais e na política institucional estadunidense, principalmente, o termo pato manco é utilizado para definir um presidente que ainda ocupa a cadeira, mas que não tem força política, coesão parlamentar ou habilidade técnica para seguir governando e, portanto, fica refém de circunstâncias muito específicas para concluir o seu frágil mandato. 

Apesar de ferido, contudo, o pato manco pode ser extremamente perigoso. Lutando por sobrevivência, o governo debilitado tende a atirar para todos os lados em busca de narrativas que sejam úteis para proteger o pouco capital político que ainda lhe resta. 

No caso do bolsonarismo, especificamente, essa parcela mais radical da população, que vem encolhendo significativamente ao longo das últimas semanas e hoje gira em torno de 24%, responde a duas dimensões da vida sociopolítica nacional, fundamentalmente: o elitismo histórico e o dogma religioso. 

Uma característica em comum que serve de orientação tanto para os cidadãos que se identificam com o primeiro quanto com o segundo é a visão torpe, limítrofe e restrita do mundo. Em linhas gerais e para efeito de compreensão, são as pessoas:
O passeio do genocida pelo Rio de Janeiro foi um arraso
— 
que se alinham com os legados históricos provenientes das épocas colonial e imperial do Brasil;
— ou que colocam a religião no cerne da vida social. 

Nessa medida, são sínteses perfeitas de Jair Bolsonaro e que nele identificam a figura pública ideal para expressar as suas próprias expectativas. 

Na prática, o pato manco brasileiro, a partir de agora e ao longo dos próximos 15 meses, deverá dobrar a aposta em pautas deletérias e impopulares junto à população mais ampla, tais como o licenciamento ambiental, o voto impresso, o controle das redes sociais para manter a circulação de notícias falsas e os ataques ao Supremo Tribunal Federal, p. ex.  

Apresentado pelo deputado federal Neri Geller, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, o texto do projeto de novo licenciamento ambiental, já aprovado na Câmara, estava parado há dezessete anos e foi redigido arbitrariamente, sem a discussão com a sociedade civil ou outros grupos de especialistas interessados no tema. Caso prospere no Senado, a proposta representará uma ameaça sem precedentes para as unidades de conservação, bem como para as terras indígenas e comunidades quilombolas. 

A medida, além de flexibilizar a legislação vigente e ampliar a autonomia do agronegócio brasileiro, deverá fidelizar os votos da bancada ruralista, a maior bancada temática atuante hoje em dia no Parlamento brasileiro, ao ímpeto de prolongar a sobrevivência do bolsonarismo até outubro de 2022. 
Eis outro obstáculo para a reeleição de Bolsonaro 

Em seguida, o voto impresso é a bravata que talvez sintetize a própria administração Bolsonaro de forma mais gráfica: retrógrada, custosa à população, ineficiente ao que se propõe e pouquíssimo confiável em momentos decisivos. 

Em meio à crise pandêmica, com o plano vacinal patinando e as mortes dos brasileiros acima da casa dos milhares todos os dias durante os últimos meses, a Câmara dos Deputados instalou uma comissão especial para discutir a proposta de emenda constitucional que obriga a impressão de votos em eleições, plebiscitos ou referendos. 

Frente à iminência da derrota que se aproxima, o bolsonarismo tenta, desesperadamente, alterar as regras do jogo que foram usadas para eleger os seus membros no último pleito, inclusive. Assim, Bolsonaro tentará repetir a estratégia fracassada de Donald Trump nos EUA, para judicializar e/ou desacreditar o resultado das eleições presidenciais. 

Estratégia essa que contou com o elemento fundamental da disseminação das notícias falsas por meio das redes sociais digitais e resultou na morte de um policial na invasão do capitólio estadunidense em dezembro de 2020. 

No Brasil, o bolsonarismo segue o mesmo caminho e prepara um decreto para evitar a exclusão de conteúdos das redes sociais, impedindo que as companhias retirem informações falsas das suas plataformas sem autorização judicial. Tal medida contraria as próprias políticas estabelecidas pelas empresas que sustentam essas plataformas. 
Na atração de despedida, o Bozo pretende bisar Trump?
Por fim, a última pauta na qual o bolsonarismo se agarra para tentar sobreviver até o fim do seu mandato é o combate ao STF, que, prudentemente, decidiu barrar diversas sanhas inconstitucionais bolsonaristas ao longo dos últimos anos, e a disputa por influência na corte constitucional brasileira. 

O combate aos atuais ministros que são percebidos como inimigos pelo bolsonarismo será ainda mais intensificado considerando o quadro irreversível e terminal no qual se encontra o governo. 

Por outro lado, Bolsonaro utilizará de nova indicação ao Supremo — a ser feita nos próximos meses, após a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello — para manter a parcela do dogma religioso que ainda lhe resta com a escolha de um ministro terrivelmente evangélico, o que também visa manter a adesão parlamentar da bancada evangélica no Congresso Nacional. 

Para o bem do que ainda resta do Brasil, vale torcer para que o pato manco caia de vez e responda pelos seus crimes de responsabilidade antes que promova os últimos estragos reservados para o fim de sua trágica gestão.  (por Cesar Calejon, que é jornalista com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrado em Mudança Social e Participação Política pela USP, ora respondendo pela coluna Entendendo Bolsonaro no UOL)
TOQUE DO EDITOR – no espaço de poucos dias, este é o segundo artigo que eu tinha esboçado na minha mente mas demorei para redigir e algum colega chegou na frente (o primeiro foi este do Vladimir Safatle). Paciência, o importante é que as propostas necessárias circulem, com a assinatura de quem quer que seja.

Então, só me resta manifestar total concordância com o alerta do Calejon e acrescentar otras cositas más:
O chargista Aroeira esqueceu de incluir motos e Pazuello nessa manifestação. Imperdoável!
— o Bozo, em marcha acelerada para o limbo, é mesmo perigoso, tanto quanto Hitler, que, vendo seu castelo de areia prestes a desabar, ordenou a destruição de Paris e, depois, da infraestrutura industrial e tecnológica da própria Alemanha, sendo desobedecido pelos incumbidos da missão em ambas as ocasiões. As semelhanças estão em que não havia futuro para o führer nem haverá para o genocida depois da queda, tratando-se, ademais, de dois narcisistas exacerbados e insensíveis, com traços evidentes de insanidade mental, daí fazer todo sentido suas mentes doentias acalentarem projetos na linha de 
depois de mim, o dilúvio;  
— após Bolsonaro se mostrar totalmente descontrolado na sua última palhaçada dominical, será uma temeridade se as pesquisas eleitorais favoráveis a Lula levarem a esquerda institucional a apostar todas as suas fichas no pleito vindouro, correndo o sério risco de o caos chegar antes. O caminho correto é a união de todas as forças contrárias ao Bozo para afastá-lo imediatamente do poder, seguida da formação de um governo de salvação/pacificação nacional, mesmo que presidido por Hamilton Mourão, desde que ele se disponha a atuar estritamente como bombeiro e nunca como incendiário, pois é o que este momento dramático exige. (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito! Não é cabível apostar todas as fichas nas eleições gerais de 2022, com posse em 2023. E muito menos achar que a eleição de Lula está no papo. Ainda que isto ocorra, ao fim dos 17 meses que nos separam da posse do novo presidente, a uma média conservadora de mil mortes por dia por covid, teremos até lá mais 510 mil mortes. A turma que inventou a desculpa de que "não dá tempo" para o impeachment parece que não faz a conta das fatalidades. A cegueira causada pela tara eleitoral impede que se veja a realidade. Somadas as já ocorridas, teremos pelo menos um milhão de mortes por covid em janeiro de 2023. É loucura não batalhar pelo impeachment.

Marco Aurélio, Rio de Janeiro

celsolungaretti disse...

Nada a acrescentar, companheiro.

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