sexta-feira, 21 de maio de 2021

O BRASIL TEM CONDIÇÕES PARA SUPORTAR UM TÃO ACENTUADO E PROLONGADO DESCALABRO ADMINISTRATIVO?

dalton rosado 
GOVERNO DESCONEXO E ANTICIENTÍFICO
A CPI da Covid escancarou que, no governo do Boçalnaro, o ignaro, cada ministério é uma ilha, gerenciados por medíocres cujas posturas ideológicas díspares se digladiam num rumo conservador e retrógrado, tentando agradar a um chefe mais medíocre ainda.

O lugar comum contra fatos não há argumentos, nunca foi tão apropriado quanto agora, face aos depoimentos das patéticas figuras que desfilam pelo palco do Senado. 

Dizem seus integrantes que o governo é conservador, o que o jornalão conservador O Estado de S. Paulo rebate, definindo-o como meramente reacionário, já que não passa de um amálgama de posturas anticientíficas (principalmente relação à medicina, num momento de pandemia), misturadas com visão de mundo:
— fundamentalista religiosa;
— antiecológica; 
— economicamente contraditória (por tentar ser, ao mesmo tempo, nacionalista estatizante e liberal privatista);
— antiglobalista (num mundo no qual qualquer desequilíbrio econômico regional impacta alhures); e 
— com ilusões golpistas (sem levarem em conta que as cúpulas militares sabem dos percalços da economia e da insatisfação popular daí decorrente, daí não estarem propensos a acompanhar os desvarios de ex-subalternos que outrora expeliram do seu convívio). 
Todas as charges são do Jota Camelo

O resultado disso tudo é o desastre representado por termos:
— os piores índices de combate à pandemia do mundo (maior número de infectados per capita e de mortos, caminhando para a admissão oficial de meio milhão de vítimas fatais, marca já superada há bom tempo segundo as mais renomadas instituições do exterior, segundo as quais a subnotificação de óbitos está na casa de 30% a 40% dos falecimentos ocorridos); 
— baixo índice per capita de vacinação (não temos vacinas em quantidade necessária, num mundo que ora as disputa freneticamente);
— falta de equipamentos médicos de urgência (cilindros de oxigênio, intubadores, sedativos, etc.) 
— queda no ranking das economias mundiais; 
— queda acentuada na renda per capita de sua população, maior que a de outros países; 
— auxilio emergencial insuficiente para o custeio da população de baixa renda (ou renda nenhuma) atingida pela pandemia; 
— subida da inflação (já projetada para 5,5% a.a), o que sacrifica substancialmente os assalariados, mormente os de baixa renda, de vez que os alimentos são as mercadorias que mais sobem de preço;
— desmatamento da nossa floresta amazônica em ritmo recorde mês após mês, havendo constantes denúncias de liberação de extração e exportação ilegal de madeira, com o beneplácito de quem deveria combater tais crimes;
— total submissão ao chamado centrão, cujo fisiologismo prevalece sobre os interesses populares mais imediatos e o combate à corrupção, pois até as pedras da rua sabem como são feitos os contratos de obras das verbas parlamentares;
— 
política externa ideologizada e preconceituosa que contraria os mais elementares princípios da diplomacia, área na qual o Brasil teve sempre competentes e cultos representantes mas agora nos expõe ao escárnio mundial (quando, p. ex., o presidente tentou premiar um de seus filhos abilolados com o cargo de embaixador brasileiro em Washington);
— alinhamento cego ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, inclusive depois de delineada sua derrota nas últimos eleições estadunidenses, colocando-nos numa saia justa com o vitorioso Joe Biden;
— desmonte das nossas universidades públicas;
— redução de verbas para a educação básica e tentativa de ideologização curricular, a partir de conceitos retrógrados e até caricatos (meninas de rosa e meninos de azul, numa reedição de patriarcalismo que impunha a dissociação de gênero); 
— agressão aos nossos verdadeiros heróis históricos como Zumbi dos Palmares, por parte de alguém que, mesmo pertencendo à bela etnia africana, preferiu bajular o Boçalnaro em troca de um cargo ao qual não fazia jus do que honradamente cultuar aqueles que lutaram contra a escravidão negra; 
— estímulo a seguidores parlamentares que vivem a proferir bravatas golpistas e misóginas, nas quais se vilipendia a memória de combatentes antirracistas e antimisoginia, como a vereadora Marielle Franco; 
— promoção de manifestações públicas golpistas e apologéticas de posturas ditatoriais e anticonstitucionais (e sem as  máscaras que evitam a contaminação pelo covid-19);
—  integrantes ou ex-representantes do governo que mentem descaradamente quando confrontados com a repulsa midiática ou parlamentar, contrariando as evidências e registros de pronunciamentos feitos sob a conforto das redes sociais da internet; 
— descontrole da pandemia que torna o Brasil e os brasileiros alvos de 
rejeição internacional (por medo do contágio com as novas cepas infecciosas aqui surgidas) e insistência em repulsivas posturas ultradireitistas que acarreta restrições de colaboração conosco, pois passamos a ser vistos não mais como os brasileiros cordiais que encantavam o mundo, mas como párias dos quais deve ser mantida distância; etc.

A equipe de governo desconectada, com os ministérios batendo cabeça sob uma desorientação central espantosa, mais parece uma corda de caranguejo na qual todos se mexem sem sair do canto.

O pior de tudo é que ainda  subsiste o risco de termos de aguentar tudo isso por intermináveis 19 meses. 

O Brasil tem condições para suportar um tão acentuado e prolongado descalabro administrativo? (por Dalton Rosado)

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