dalton rosado
OPOSIÇÃO AO QUÊ?
Há muitos tipos de oposição.
Há oposição conservadora que não aceita o genocídio no Brasil praticado por um conservadorismo retrógrado, anticientífico, fundamentalista religioso, antiglobalista, antiecológico, racista, xenófobo, misógino e, sobretudo, burro.
Os conservadores deste naipe lastimam ter entronizado no poder um energúmeno como o presidente Boçalnaro, o ignaro.
É que, com a suas obtusidade primária e confusão ideológica entre nacionalismo estatizante e liberalismo de mercado, ele troca sua equipe de ministros como quem troca de sapatos (e de simbologias), com resultados desastrosos no plano administrativo, além de comprovar que não passavam de lorotas eleitoreiras seus discursos propondo nova política, combate ao crime organizado e à corrupção, privatização de estatais, reforma tributária, eliminação do custo Brasil, equilíbrio das contas públicas, mais Brasil e menos Brasília, etc.
A verdade é que o seu (des)governo é idiossincrático por excelência e isto incomoda os conservadores mais moderados –mas igualmente equivocados– que gostariam de ter na presidência da República um dos seus e não um mero reacionário trapalhão (o jornal mais representativo de tal fauna, O Estado de S. Paulo, queixou-se exatamente disto num editorial de semana pessada). O capitão cloroquina está mais para Roberto Jefferson do que para Roberto Campos.
Há oposição empresarial sentindo-se prejudicada pela má performance governamental na área administrativa, que termina por prejudicar os interesses do capital. Tamanha incompetência em meio a depressões mundiais econômica e sanitária é fator negativamente explosivo para a burguesia consciente do seu papel explorador em meio à turbulência sistêmica que a ameaça.
Há oposição empresarial sentindo-se prejudicada pela má performance governamental na área administrativa, que termina por prejudicar os interesses do capital. Tamanha incompetência em meio a depressões mundiais econômica e sanitária é fator negativamente explosivo para a burguesia consciente do seu papel explorador em meio à turbulência sistêmica que a ameaça.
Há oposição de segmentos da imprensa como a rede Globo, que se vê excluída do butim governamental, dando lugar a emissoras pertencentes ao campo pseudo-religioso da mercantilização da fé, aliadas do genocida, que exploram o entretenimento medíocre, disseminando um discurso superficial e demagógico entre um público empobrecido e em grande parte semialfabetizado, ou nem isto.
Há oposição de uma ala militar mais bem informada que conhece a história e faz análises econômicas (um novo generalato, pós-1964), além de ter consciência do seu papel na defesa constitucional sistêmica da burguesia à qual serve, daí renunciar ao canto de sereia de um empreguismo governamental de pouca consistência e vida efêmera, corrosivo para a credibilidade que os fardados tanto se esforçaram para reconquistar após terem saído da ditadura dos generais com um perfil hediondo.
Tal credibilidade é mais forte principalmente entre segmentos conservadores que, por desconhecerem a história ou sofrerem de amnésia crônica, não percebem que de 1930 a 1985 fomos tutelados, perturbados ou subjugados por governos militarmente fortes (com apenas breves períodos de democracia burguesa mais independente, de 1954 a 1960, assim mesmo com fracassadas tentativas de golpes), cujos resultados negativos são hoje facilmente perceptíveis.
Neste aspecto, das intervenções militares, temos muitas similaridades com as chamadas repúblicas bananeiras das Américas Central e do Sul, ou ainda com as frágeis repúblicas africanas e regimes totalitários asiáticos (principalmente no mundo arábico).
E há, ainda, uma oposição dita de esquerda que não se opõe ao substancial, bem na linha da frase célebre do Tomasi di Lampedusa em O Leopardo (algo deve mudar para que tudo continue como está). São os sociais-democratas burgueses, que querem humanizar o capitalismo como se fosse possível regenerar o diabo.
Neste grupo inserem-se os mais variados segmentos políticos entendidos como um tiquinho mais à esquerda ou levemente moderados, que chamam os outros de radicais. As diferenciações cosméticas apenas ratificam as suas identidades mais substantivas e profundas; são conservadores travestidos de mudancistas e que dizem fazer parte de um bloco progressista.
Os dois últimos séculos de práticas capitalistas e desenvolvimento de toda a sua entourage institucional colaboracionista, pretensamente civilizatória (apesar de alguns avanço neste campo, que não raro retrocedem acentuadamente quando as circunstancias o exigem, como agora ocorre), demonstraram a incapacidade de solução do grande apartheid histórico da humanidade nos últimos milênios.
Mesmo nos países que fizeram a revolução marxista-leninista, as categorias capitalistas têm estado sempre presentes, ainda que sob o falso discurso da fase de transição para uma sociedade sem classes sociais distintas. Nestas, o que se viu foi uma recuperação econômica de seus retardamentos industriais e desenvolvimento de práticas capitalistas que desembocaram no mais selvagem capitalismo de mercado.
O que se observou neste sábado (29), dia do protesto contra o governo genocida que aí está, foi uma explicitação prática do que seja o tipo de oposição manca praticada pela esquerda institucional beneficiária das migalhas que a constituição burguesa lhe concede: o PT ficou contra as manifestações #forabolsonaro!!!
As direções dos eleitoreiros partidos de esquerda se mostraram mais preocupadas com as eleições de 2022 do que com o necessário estancamento do processo de genocídio em curso no Brasil como consequência da desídia governamental.
O desgaste sofrido pelo atual governo é entendido pela esquerda institucional como a possibilidade de um perdão popular ao mensalão e ao petrolão, bem como ao servil alinhamento ao que há de mais podre na política brasileira.
Justificam a ausência ao ato contra Boçalnaro, agarrando-se à desculpa esfarrapada de que não poderíamos criticar as aglomerações boçalnaristas e incorrermos no mesmo erro. A alegação é oportunista e incorreta!
A verdadeira esquerda de hoje não precisa de bandeiras e de um vermelho desbotado, mas da multiplicidade de cores que traduzem a diversidade comportamental do pensar revolucionário.
Um pensar que está a exigir uma nova ordem de produção social e de organização horizontalizada da vida social; que está a propor um anti-poder contra o poder institucional vertical e segregacionista!
Ir às ruas contra a falta de vacinas e pedir o afastamento do Boçalnaro —não só como punição por seu atual crime de lesa-humanidade, mas também para abrir um precedente no sentido de que nunca mais qualquer representante do povo ousar proferir obscenidades como a de que a ditadura de 1964/85 deveria ter exterminado 30 mil ditos subversivos e a de que o megatorturador Brilhante Ustra mereceria ser reconhecido como herói da pátria— é agir em legítima defesa da vida!
Ir às ruas mesmo sabendo que isto implicará mais infecção e morte por propagação do vírus é lutar contra as muitas e mais volumosas mortes que adviriam (ou advirão) se não mantivermos uma estratégia de isolamento social responsável que ampare a população nos seus vários níveis de subsistência (e que se dane a contabilidade da economia genocida e dissociada do respeito à vida!) e que force a compra de vacinas onde quer que elas possam ser adquiridas, é agir em legítima defesa da vida!
Ir às ruas demonstrando a força da mobilização popular representa um altaneiro repúdio aos que defendem a força das armas em contraposição à força da razão, sendo, portanto, mais uma forma de agir em legítima defesa da vida!
Ir às ruas e demonstrar que a manipulação da vontade popular por discursos conservadores veiculados massivamente por fake news não é capaz de promover uma lavagem cerebral entre a maioria que sabe distinguir:
— o justo do injusto;
— o certo do errado;
— o escravismo da liberdade;
— o civilizado do retrógrado;
— o verdadeiramente moderno do que é atraso conservador nos costumes;
— o que é heroico do que é covarde;
— o que é ecologicamente preservador do que é predador;
— o que é humano do que é irracional,
— o certo do errado;
— o escravismo da liberdade;
— o civilizado do retrógrado;
— o verdadeiramente moderno do que é atraso conservador nos costumes;
— o que é heroico do que é covarde;
— o que é ecologicamente preservador do que é predador;
— o que é humano do que é irracional,
é agir em legítima defesa da vida! (por Dalton Rosado)
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