domingo, 9 de maio de 2021

AS DROGAS SÃO MERCADORIAS E AS MERCADORIAS SÃO UMA DROGA! – 4

(continuação
 deste post)
Teremos de buscar outra lavagem de roupa, como se diz popularmente no nordeste do Brasil aos desempregados crônicos.

O mercado, tido como a mão invisível (Adam Smith) capaz de tudo equalizar pela concorrência entre as mercadorias, apenas demonstrou a tirania de seus pressupostos utilitários e insensíveis, agindo dentro dos estreitos marcos delimitados pela autofagia da concentração da capacidade de produção em escala de mercadorias, colapsando segmentos inteiros de produção anteriormente existentes: 
— uma pequena fazenda já não se torna viável para a produção de determinadas mercadorias no confronto épico do mercado, daí muitas delas estarem sendo simplesmente abandonadas no Nordeste;  
— a produção de bens tecnológicos com o uso da robotização, eliminadora de custos de produção, fecha as portas aos trabalhadores e, numa mesma fábrica, desemprega gerações deles, que se incorporarão aos muitos já tornados supérfluos pelo desemprego estrutural (a criação de novos nichos de empregos é inferior à dispensa hodierna); 
— os sindicatos mendigam por uma oportunidade para seus associados serem explorados pelo capital; 
— pequenos negócios são fechados por não terem como fazer frente às grandes cadeias de lojas (como as farmácias que pululam a cada esquina numa corrida fratricida entre grandes conglomerados). O comércio popular abriga lojas nos espaços recém-abandonados pela alto padrão aquisitivo voltado para os shoppings, tornando cada vez mais ostensivo o apartheid social;
— surgem grandes shoppings centers armados até os dentes, oferecendo proteção a uma pequena parte da população que ainda tem poder aquisitivo para usufruir tais confortos, segurança e comodidade;
— o crime organizado amplia seus tentáculos e a corrupção grassa solta, numa decomposição social própria a uma sociedade que perdeu suas referências positivas e na qual somente é respeitado quem sabe navegar em águas turvas (um bicheiro é mais respeitado e reverenciado do que um desconhecido cientista que ajuda a descobrir a vacina);
— o quadro de violência e mortes (principalmente de jovens pretos e pobres da periferia) clama pela proteção do Estado opressor, incapaz de fornecer tal serviço a contento, surgindo então as milícias armadas como um misto de extorsão e proteção paga pelos amedrontados cidadãos; 
— a saúde e a educação são cada vez mais precarizadas (principalmente em meio a uma pandemia de proporções gigantescas) porque o Estado falido mal tem recursos para o pagamento de juros da dívida pública (que são cobrados com extorsão aos países da periferia do capital, diferentemente do que ocorre com o G7) e para a manutenção das instituições e propósitos capitalistas para os quais foi criado; 
— o Poder Judiciário e sua máquina administrativa já não têm estrutura suficiente para o cumprimento das leis burguesas que protegem o capital, o que não impede os magistrados de receberem remuneração 30 a 40 vezes maior que o de um trabalhador; 
— o segmento político é considerado pela maioria da coletividade como falso representante da vontade popular, elitista e corrupto, com seus representantes sendo eleitos em pleitos distorcidos em todos os sentidos (notórios criminosos têm assento nas cadeiras legislativas, ou mantêm seus representantes ali assentados, daí existirem bancadas como a da bala, do latifúndio, da grilagem de terras, do agronegócio, da extração mineral predatória, da liberação de jogos, dos bancos, etc., etc., etc.);
— o tráfico de drogas se instala definitivamente com o enlouquecimento das usuários que, dependentes e pobres, tornam-se aliados compulsórios da cadeia do crime organizado, infelicitando famílias inteiras.
Basta!

A constatação é de que vivemos numa sociedade doente. A causa de tal infortúnio tem natureza objetiva e subjetiva. 

Objetivamente, a culpa é do capital que roda em falso por conta das contradições de seus fundamentos que atingiram o ápice de sua entropia funcional. 

Subjetivamente, o capital tem uma natureza criminosa, de vez que começa pela apropriação indébita de valor produzido pelos trabalhadores abstratos que proporcionam o incrível acumulo de riquezas nas mãos de uns poucos. 

Ensina-se, subjetiva e até imperceptivelmente, que o crime compensa, desde que seja em grandes proporções e sob amparo legal. A competição, que se contrapõe à solidariedade numa guerra fraticida, é tida como instrumento de aferição da repugnante meritocracia e como justo reconhecimento dos mais capazes em detrimento dos menos capazes ou inadaptados à sua autofagia. 

Não será o caso de, face a tantas mazelas:
— questionarmos o modelo de socialização pelo capital? 
—  insistirmos no aperfeiçoamento do que é, por natureza, imperfeito? 
— pugnarmos por algo diferente dos sagrados princípios republicanos da democracia burguesa e do seu pseudo oposto, a ditadura militar ou civil? 

Devemos aliar o conhecimento teórico às ações práticas, mas não entendendo como tais os alinhamentos políticos institucionais submissos ao sujeito automático da forma-valor. 

Ou seja, não deixando que, por nossa passividade e resignação, conformismo, nos reduzam a gado que é tangido por um corredor rumo ao matadouro, com lágrimas inúteis nos olhos. 
(por Dalton Rosado)

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