quarta-feira, 21 de abril de 2021

LULA ESTÁ ELEGÍVEL DE NOVO, MAS UM OBSTÁCULO SÃO OS EVANGÉLICOS

A
gora que o ex-presidente Lula se tornou elegível, o PT em preparação para a campanha, haja ou não haja um impeachment do presidente Bolsonaro, já percebeu serem os evangélicos a primeira grande pedra no caminho. 

Foram eles que derrotaram Haddad, participando, estima-se, com 30% dos votos, em nome do combate à corrupção, doutrinados pela maioria dos pastores evangélicos, incluindo-se pastores da maioria das denominações chamadas no passado de protestantes, como os batistas e metodistas.

Em menos de 50 anos, os evangélicos deixaram de ser uma simples parcela religiosa da população brasileira para chegarem ao mesmo nível dos católicos, devendo ultrapassá-los nos próximos anos. 

Se a liturgia religiosa fosse comparável ao teatro, poderíamos dizer que a Igreja Católica perdeu por não inovar e também por não ir buscar os chamados pecadores nos morros e nas favelas. 

Acostumada com uma supremacia quase absoluta nos primeiros séculos depois do descobrimento do Brasil, ela não se adaptou às novas realidades criadas pela modernização da vida social e, mais grave, não viu o surgimento dos meios modernos de comunicação. Tal atraso foi fatal. 

O protestantismo tradicional, trazido ao Brasil nos meados do século 19, também pouco evoluiu, seu crescimento foi mais vegetativo e reprodutivo das famílias já vindas há décadas do catolicismo. 
O boom evangélico reproduziu de certa forma a agressividade das campanhas evangelísticas de massa dos EUA, utilizando não só o contato humano direto do porta-a-porta como a inovação permitida pela televisão (e, agora pelos meios eletrônicos de comunicação social), numa espécie de apropriação ou evangelização das técnicas modernas criadas pela Internet.

Entretanto, o culto online, as mensagens por YouTube os grupos sociais no Facebook não conseguem substituir a pregação ao vivo pelo pastor num púlpito ou num estrado elevado, com as orações e cânticos de hinos pelos fiéis nas igrejas repletas, criando a impressão de uma comunhão humana em torno do divino, uma irmanização dos fiéis em torno de um ente supremo. 

As denominações evangélicas, uma diversidade incluindo até cura divina, souberam transformar os chamados cultos, solenes nas igrejas tradicionais, em teatro participativo ou shows dos quais todos participam.

O pastor lendo a Bíblia e explicando um ou outro versículo, o padre rezando a missa não têm o mesmo efeito de toda igreja cantando um gospel alegre, acompanhado por palmas ou bater dos pés. Isso tudo acaba criando um clima festivo, bem diferente da seriedade, sobriedade e respeito próprios dos cultos tradicionais ou das missas. É a popularização da mensagem do Evangelho – Deus está ali, ele ouve e perdoa.

O pregador, diz-se, é o instrumento de Deus, transmitindo ao mesmo tempo a mensagem de paz e amor, junto com clamores e gritos mesmo contra o maligno, as tentações e os pecados. 

Por um lado, o fiel sente-se seguro diante do Deus de amor, mas treme de medo diante das imprecações dirigidas aos que falham, pecam e traem a Deus com sua fraqueza. 

Silas Malafaia é conhecido por ser um dos pastores mais teatrais e dos que mais gritam e usam o dedo em riste contra os pecadores, na igreja ou nas mensagens por YouTube.

Tudo seria uma festa – todo cidadão poder escolher sua religião ou ser ateu – se não fosse o envolvimento dos evangélicos nas questões de comportamento, utilizando a Bíblia como código de conduta. Assim, a condenação religiosa do homossexualismo acaba provocando exclusão social dos homossexuais, a humildade e a submissão se transformam em valores a serem seguidos. 

Ao mesmo tempo, instaura-se uma censura sobre leituras, composições musicais, filmes, obras de arte em geral, condenando-se tudo quanto é profano, diferente dos preceitos e dos códigos de moral defendidos pelos pregadores.

O principal alvo das campanhas de evangelização são as pessoas sem ou com pouca formação escolar, acostumadas com crendices, benzeções, sem formação crítica, passivas e incapazes de exercer juízo próprio ou individual, reagindo de maneira coletiva. 

E tudo assume feições perigosas, quando a crendice passa a ser utilizada na política, com o objetivo de eleger políticos conservadores ou mesmo os próprios pregadores, mudar leis, alterar conceitos, influir nos julgamentos e provocar mudança na própria Constituição.

Hoje, apesar das críticas ao governo Bolsonaro, das péssimas repercussões internacionais diante do negacionismo de Bolsonaro causador do número crescente de mortes por coronavírus, do desmatamento, da tentativa de armar o povo e tantos outros absurdos cometidos, existe uma base de sustentação insensível à queda de popularidade do presidente. 

Uma base capaz de, mesmo em caso de condenação pela CPI, continuar apoiando Bolsonaro, responsável pela frase só Deus me tira daquiBase aparentemente pacífica mas podendo ser excitada como fez o ex-presidente Trump com seus seguidores mais fanáticos. 

Tal base é constituída principalmente de evangélicos, tratados de maneira pejorativa como gado levado ao matadouro.

Deixando-se de lado, a hipótese de uma resistência de Bolsonaro a um possível impeachment, graças a seus fanáticos, resta a hipótese eleitoral. 

Com ou sem impeachment, será a barreira evangélica transponível pelo candidato Lula? Existem atualmente quatro pastores líderes, responsáveis pela base fiel a Bolsonaro, que farão campanha por sua reeleição, reutilizando os mesmos chavões anti-corrupção de 2018 contra Lula. São eles Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares, Valdemiro Santiago e Silas Malafaia. 
Edir Macedo criador da Igreja Universal do Reino de Deus utiliza o Grupo Record com sua televisão para apoiar Bolsonaro, mesmo neste momento de crise. Para tanto, dispõe da estrutura do Partido Podemos com 32 deputados federais. Seus lemas são libertação e prosperidade. 

Romildo Ribeiro Soares, conhecido como R. R. Soares, rompeu com Edir Macedo e criou a Igreja Internacional da Graça de Deus com seus lemas cura e evangelização. 

Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, famoso por seu feijões que curavam do coronavírus. 

E Silas Malafaia, que já apoiou Lula, Serra e Aécio, e é hoje um sustentáculo de Bolsonaro. 
(por Rui Martins)

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