(continuação deste post)
Mas, como dizia Marx, a sociedade nunca apresenta problemas para os quais não haja soluções. Elas existem, sim, mas sob outros critérios de sociabilidade.
O dinheiro de há muito deixou de ter conexão completa com a produção de mercadorias, tendo passado a ser apenas um instrumento monetário de controle da hegemonia dos países do G7 e seus blocos continentais, via Bancos Centrais.
Hoje funciona como um mero vale-consumo distribuído gratuitamente ao mundo empresarial e até às pessoas (sob a forma de auxilio emergencial) como forma de manutenção do funcionamento da máquina mercantil de produção e consumo de mercadorias.
Neste sentido, o Estado passou a ser força auxiliar de controle social como nunca antes fora nos tempos ditos modernos; a complementariedade entre capital e Estado tomou outra feição, muito mais despótica.
É claro que tal comportamento significa uma distopia funcional da sociedade: corremos grave risco de sermos arrastados a uma perigosa barbárie e anomia social sob intervenção da força militar estatal.
Seria uma consequência provável da dissociação entre lógica funcional do capital (a produção de valor pelo trabalho abstrato e extração de mais-valia que oportuniza a acumulação do capital) e a mediação social feita sob tal critério.
Trata-se da contradição do capital de que falava Marx, com o dito cujo chegando ao seu clímax existencial.
O recente programa de Joe Biden de trilhões de dólares tirados da cartola do Federal Reserve, juntamente com o alto grau de vacinação dos Estados Unidos (de quase 70% de sua população, fazendo cair o grau de infecções e mortes a tal ponto que, proporcionalmente falando, os óbitos por lá já recuaram para o patamar de 30% dos registrados no Brasil), deverá promover uma retomada do desenvolvimento econômico estadunidense, ainda que em percentagem mais reduzida por conta da incapacidade mundial de compra e produção de mercadorias.
Entretanto, mesmo nos EUA, onde estão sobrando vacinas e já se vacinam menores de 16 anos, há cidadãos que, por vários motivos (aí incluídos os negacionistas trumpistas), recusam-se a tomar as vacinas, fato que deverá prolongar a permanência do vírus, retardando a imunização de rebanho.
Mas, o mundo periférico do capital não pode emitir suas moedas fracas e mesmo assim o tem feito, de forma desesperada e suicida.
Os reflexos danosos de tal opção serão sentidos já no médio prazo para o capital nestes países, posto que tal medida gera inflação monetária causada pela oferta de dinheiro sem produção e comercialização correspondente. Ou seja, tudo roda em falso e, obviamente, tal situação não pode perdurar indefinidamente.
A verdade é que a lógica do capital reproduz no mundo o que se observa nas cidades: um pequeno núcleo de privilegiados cercado por um cinturão de pobreza, cujo acirramento tende a provocar uma explosão social.
O mundo capitalista desenvolvido, graças à pobreza que, mesmo em plena pandemia, causa à maioria dos países enquadrados em sua lógica segregacionista, tem artifícios para se salvar, mas a labareda do fogo dos seus vizinhos está cada vez mais a ameaçar a sala confortáveis dos senhores do mundo (ainda que o coronavírus não seja seletivo como o capital e também ceife vidas dos privilegiados).
Diante de tudo isso, as soluções apresentadas por diversos pensadores, mesmo os que descreem da simplista (e impossível) retomada do crescimento econômico, mantêm-se dentro da imanência capitalista.
Casos, p. ex., da taxação das grandes fortunas (que hoje se concentram nas mãos de uns poucos); dos subsídios às empresas e desempregados; da redução da carga tributária para alimentos e mercadorias de primeira necessidade; das barreiras fiscais protecionistas para produtos importados de luxo, etc.
Ora, não se pode combater o mal com a causa do mal. Aliás, a pandemia apenas veio explicitar algo que já vinha ocorrendo: a economia mundial sob os critérios excludentes do capitalismo e, ademais, em crise, é incapaz de prover comodamente a vida social e ecológica de modo sustentável.
Só nos resta pensarmos fora da caixa, ou seja, fora da imanência capitalista. Há que se:
— usar toda a potencialidade das tantas mãos e cabeças aptas à produção e distribuição que, contudo, se encontram impedidas de fazê-lo por conta da idiossincrasia de uma sistema de produção que cava a sua própria sepultura (Marx);
— produzir vacinas para doar aos pobres do mundo e em quantidade suficiente para salvar a humanidade;
— distribuir objetos de consumo e serviços (não mercadorias) de modo a que seja promovida a profilaxia sanitária;
— enfrentar o obscurantismo religioso e negacionista;
— combater a repressão militar para manutenção da (des)ordem capitalista;
— promover a solidariedade humana ao invés da competitividade autofágica;
— prover a vida! (por Dalton Rosado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário