A grande imprensa – ou simplesmente, a imprensa burguesa – gosta de fazer uma diferenciação entre a política econômica e o governo Bolsonaro, como se Paulo Guedes fosse uma entidade à parte no governo. Trata-se de uma típica mistificação burguesa de separar a economia da política, mistificação semelhante à da diferenciação cristã entre o Pai e o Espírito Santo.
Guedes é Bolsonaro e Bolsonaro é Guedes. O mercado e o neofascismo são forças conjuntas. O bolsonarismo brasileiro atua enquanto delegado das aspirações disruptivas do capital, levando adiante seu projeto de acumulação: destruição do meio ambiente, sucateamento dos serviços públicos, aprofundamento da miséria, violência, obscurantismo e, agora, genocídio.
Exagero? Para exemplificar, basta vermos que no momento mais agudo da mortandade por covid, a maior preocupação da burguesia brasileira era retirar o mínimo constitucional de investimento na saúde pública. Mínimo que raramente é respeitado, mas o qual é considerado pelo grande empresariado brasileiro como gasto excessivo.
Trata-se do mesmo empresariado que abomina o isolamento social e o pagamento de auxílio emergencial.
Quando Bolsonaro, do alto de sua ignorância, proclama que o povo quer trabalhar está apenas vocalizando o pensamento da burguesia brasileira. Que o povo vá para a rua e se sacrifique em nome do PIB! Ou melhor, dos donos do PIB.
O genocídio brasileiro é paralelo com a devastação econômica implementada pela agenda neoliberal da burguesia brasileira. No cerne da agenda está a noção de que a comunidade política não é responsável pelo bem estar dos indivíduos, mas apenas pela lucratividade dos empreendimentos privados. É cada um por si e que sobreviva o mais forte.
Desemprego e miséria são culpas do próprio sujeito, preguiçoso e negligente com as oportunidades dadas pelo mercado. Seu fracasso é por falta de trabalho, de planejamento e de aperfeiçoamento. A intervenção do Estado apenas piora essa situação, cultivando vagabundos e parasitas de benefícios sociais.
Ora, qual a diferença deste pensamento com o discurso bolsonarista na pandemia? Pode-se acusar Bolsonaro de muita coisa, menos de não ser coerente com a lógica de seus senhores do capital.
Não há contradição entre o genocídio bolsonarista e o projeto econômico neoliberal. Ao contrário, o genocídio bolsonarista é a conclusão lógica do projeto neoliberal, especialmente o aplicado no Brasil. É a solução final ao estilo tupiniquim.
Na era lulopetista, acreditava-se que a burguesia brasileira havia enxergado a necessidade do amparo social e de uma suposta não contradição entre isto e o crescimento do PIB. Aparentemente, as ilusões se dissiparam, e falo aqui das ilusões da burguesia, não das dos lulopetistas.
Marx afirma no Glosas Críticas que a burguesia inglesa primeiro tentara administrar a miséria com programas sociais e, por fim, acabou considerando a miséria culpa dos próprios miseráveis e os mandou para a prisão.
No Brasil, algo semelhante aconteceu, embora de modo ainda mais tenebroso: a burguesia brasileira não apenas considerou que a culpa pela miséria é dos próprios miseráveis, como decidiu que a punição deles deveria ser a morte. (por David Emanuel Coelho)
Um comentário:
Ops! Vejo que não é delírio meu enxergar que os caras querem exterminar grande parte da humanidade.
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