quinta-feira, 18 de março de 2021

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: BOLSONARO TEM HONRA?

"Somos todos Aroeira": em 2020, os principais chargistas do país assim reagiram ao anúncio
de que seu colega Aroeira seria investigado por relacionar Bolsonaro a um símbolo nazista
H
oje, 18 de março de 2021, cinco manifestantes foram detidos por policiais militares na Esplanada dos Ministérios por estenderem uma faixa com a charge de Bolsonaro ao lado de uma suástica. 

Supostamente, isto seria um delito enquadrado na Lei de Segurança Nacional: os manifestantes teriam ferido a honra do presidente. Mas a própria Polícia Federal, a quem compete a apuração de casos no âmbito da LSN, decidiu liberá-los dessa acusação (foram libertados, com exceção do que tinha uma pena pendente por desacato à autoridade em 2014).

À parte o absurdo de ainda estar em vigor uma lei draconiana do regime militar –questão que merece um artigo à parte–, é lícito perguntar qual honra está sendo ferida. O presidente tem alguma? 

Recapitulemos. Bolsonaro é, p. ex., o sujeito que, numa entrevista, pregou a morte de 30 mil esquerdistas brasileiros e o fuzilamento do presidente FHC. 
O auto-presumido macho alfa tentando justificar-se: a emenda foi pior do que o soneto.
Ele também é o mesmo que disse à deputada federal Maria do Rosário, a quem quase agredira anos antes em pleno Congresso Nacional, esta quintessência da misoginia:  Não lhe estupro porque você não merece.

Foi, ainda, autor de um hediondo elogio ao torturador e criminoso Brilhante Ustra, durante a sessão dominical da Câmara na qual foi aprovada a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

E, numa palestra na Hebraica, comparou quilombolas a animais, ao estimar seus pesos em arrobas. 

Após eleito, ameaçou enviar servidores de órgãos ambientais cumpridores do dever, cuja fiscalização estava atrapalhando um amigo da corte, para a ponta da praia, antiga gíria dos criminosos de farda para locais de execução clandestina de presos políticos.

No Acre, comprovando que se trata mesmo de uma mórbida obsessão sua, Bolsonaro fez saber que seu desejo era fuzilar a petralhada

Não parou por aí, obviamente. Já na pandemia, regozijando-se com a desgraça dos brasileiros, desdenhou dos, à época, 10 mil mortos, negando ser coveiro e soltando um ignóbil e daí?.

Na TV, referiu-se à Covid-19 como sendo uma gripezinha, estimulando milhões a baixarem a guarda e se contaminarem. 

O desastre sanitário do Brasil tem o DNA de Bolsonaro. Ele se esforçou ao máximo para alavancar a contaminação e a morte, espalhou o caos, negou ajuda, desacreditou a ciência e incitou sua corja contra quem tentava fazer o certo. 

Serão mesmo os seus críticos que cometem crimes contra a honra? Os episódios acima citados –e eu poderia acrescentar uma infinidade de outros, igualmente chocantes– tipificam a conduta de um homem honrado?  

Que decidam os leitores, e é melhor o fazerem logo, enquanto ainda estão a salvo das ameaças de enquadramento na LSN. (por David Emanuel Coelho)

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