"Somos todos Aroeira": em 2020, os principais chargistas do país assim reagiram ao anúncio de que seu colega Aroeira seria investigado por relacionar Bolsonaro a um símbolo nazista |
Supostamente, isto seria um delito enquadrado na Lei de Segurança Nacional: os manifestantes teriam ferido a honra do presidente. Mas a própria Polícia Federal, a quem compete a apuração de casos no âmbito da LSN, decidiu liberá-los dessa acusação (foram libertados, com exceção do que tinha uma pena pendente por desacato à autoridade em 2014).
À parte o absurdo de ainda estar em vigor uma lei draconiana do regime militar –questão que merece um artigo à parte–, é lícito perguntar qual honra está sendo ferida. O presidente tem alguma?
Recapitulemos. Bolsonaro é, p. ex., o sujeito que, numa entrevista, pregou a morte de 30 mil esquerdistas brasileiros e o fuzilamento do presidente FHC. .
O auto-presumido macho alfa tentando justificar-se: a emenda foi pior do que o soneto. |
Foi, ainda, autor de um hediondo elogio ao torturador e criminoso Brilhante Ustra, durante a sessão dominical da Câmara na qual foi aprovada a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
E, numa palestra na Hebraica, comparou quilombolas a animais, ao estimar seus pesos em arrobas.
Após eleito, ameaçou enviar servidores de órgãos ambientais cumpridores do dever, cuja fiscalização estava atrapalhando um amigo da corte, para a ponta da praia, antiga gíria dos criminosos de farda para locais de execução clandestina de presos políticos.
Não parou por aí, obviamente. Já na pandemia, regozijando-se com a desgraça dos brasileiros, desdenhou dos, à época, 10 mil mortos, negando ser coveiro e soltando um ignóbil e daí?.
Na TV, referiu-se à Covid-19 como sendo uma gripezinha, estimulando milhões a baixarem a guarda e se contaminarem.
O desastre sanitário do Brasil tem o DNA de Bolsonaro. Ele se esforçou ao máximo para alavancar a contaminação e a morte, espalhou o caos, negou ajuda, desacreditou a ciência e incitou sua corja contra quem tentava fazer o certo.
Serão mesmo os seus críticos que cometem crimes contra a honra? Os episódios acima citados –e eu poderia acrescentar uma infinidade de outros, igualmente chocantes– tipificam a conduta de um homem honrado?
Que decidam os leitores, e é melhor o fazerem logo, enquanto ainda estão a salvo das ameaças de enquadramento na LSN. (por David Emanuel Coelho)
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