quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A OMISSÃO NOS TEMPOS DO CÓLERA – 2

celso lungaretti
COMO ACORDAR OS LÁZAROS PREGUIÇOSOS?
Fez-me bem ler este artigo do Ricardo Kotscho, pois eu temia estar sozinho no desencanto com os atores políticos do Brasil, sejam os políticos profissionais, sejam os esquerdistas de internet que esbravejam nas redes sociais, sejam os jovens que tomaram chá de sumiço das avenidas após as corajosas manifestações contra o genocida no semestre retrasado.

Kotscho, assim como eu, tem a percepção de que não podemos atravessar 2021 com a matança desembestada da pandemia e, depois, com a outra matança que deverá advir da pior depressão econômica de todos os tempos no Brasil. Os coitadezas, depois de abatidos pela covid, serão em seguida ceifados pela fome e pelas doenças da miséria. 

E parece que só eu (por ter pesquisado em profundidade  as piores depressões econômicas do século passado para escrever uma série jornalística) e o Dalton Rosado (por ser especializado em economia política) temos uma mínima noção do que será tal tsunami econômico, daí perdemos o sono preocupados com as desgraças que vão abater-se sobre o povão.
Para expulsar os bolsonaristas, duas manifestações bastaram. Mas, ainda falta o principal... 
Minha tentativa de acordar os mortos foi o artigo
 Será Lula o Pétain brasileiro?, mas admito que não funcionou. Não sou Cristo e começo a suspeitar que os Lázaros em questão nem sequer querem ser acordados...

Pálido consolo: se não consegui fazer a esquerda compenetrar-se da urgência absoluta de lutarmos pelo afastamento do palhaço sinistro antes que a pilha de cadáveres dobre ou triplique, pelo menos o gambito do Lula também não funcionou. 

Ou seja, apesar do enorme empenho de alguns veículos da imprensa burguesa no sentido de levantarem a bola do autoproclamado metamorfose ambulante (que se metamorfoseou em força auxiliar do bolsonarismo nos esforços para barrar o impeachment e garantir que nada mudará até outubro de 2022), o lançamento prematuro da candidatura petista não provocou nem uma corrida de adesões de outras forças da esquerda, nem o lançamento de candidaturas alternativas por parte delas.
...que é caso de vida ou morte e não pode ficar para 2022! 

Talvez a esquerda já se tenha dado conta de que Lula hoje se tornou exatamente aquilo de que um dia acusou Brizola: um político capaz de pisar até no pescoço da mãe para (re)eleger-se presidente. Então, é bem possível que eu haja chovido no molhado...

Minha esperança é que, nos próximos meses, quando a situação dos paupérrimos e vulneráveis estiver deteriorada ao máximo, a explosão social finalmente acorde os Lázaros preguiçosos. 

Por mais que falte vontade de lutar aos que deveriam estar na linha de frente, a realidade dilacerante acabará por mover as rodas da História. 

Quem viver, verá.  (por Celso Lungaretti)

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