sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A HISTÓRIA REAL QUE INSPIROU "ROCKY, UM LUTADOR" É BEM MELHOR QUE A DO FILME ESTRELADO PELO SYLVESTER STALLONE

É
 evidente que certos filmes estadunidenses edificantes cumprem o papel de injetar ânimo no povo, lembrando casos raros de cidadãos que conseguiram superar as piores adversidades e dar a volta por cima quando tudo parecia estar contra eles.

Quem os assiste, fica comovido a ponto de raríssimas vezes se dar conta de que, para cada felizardo desses, há milhares que não conseguem vencer suas batalhas na vida e acabam arrastando-se nas sarjetas.

E o diabo é que, mesmo quando percebemos isso, temos ainda aquela humana tendência de torcer pelos perdedores e exultar quando eles tiram o pé da lama 

A luta pela esperança (d. Ron Howard, 2005) é um dos melhores exemplares do gênero, com o álibi de, pelo menos, ter uma história real como ponto de partida

Mostra o ex-boxeador James Braddock (interpretado por Russell Crowe) encontrando muitas dificuldades para sustentar a família durante a Grande Depressão. Ele começara bem sua carreira, chegando a disputar o título mundial, mas a sorte virou ao fraturar a mão direita. 

A partir de então, acumulou 22 derrotas em 33 lutas. Abandonou os ringues e teve de resignar-se a trabalhos braçais como o de estivador. Chegou ao fundo do poço ao ter de entregar as filhas doentes aos cuidados da família da esposa. Então, engolindo o orgulho, foi pedir ajuda nos círculos dos empresários de pugilistas.
De repente, a maré virou de novo. Um  aspirante ao título ficou sem adversário à véspera da última luta que precisava vencer para adquirir o direito de desafiar o campeão; e, temerosos, pugilistas melhor ranqueados não quiseram substituir o colega contundido (este episódio real foi a inspiração de Sylvester Stallone, quando ele escreveu o roteiro de
 Rocky, um lutador).

Em desespero de causa, até Braddock se tornou aceitável como tapa-buraco; e ele topou porque, àquela altura, aceitava correr quaisquer riscos por dinheiro. Até tinha um novo trunfo: a dura labuta na estiva tornara poderosa sua mão esquerda, compensando a perda de potência na direita. 

Venceu uma, duas, três lutas. Um escritor, tomando conhecimento de sua história comovente, o chamou de homem Cinderela e a imprensa espalhou o apelido aos quatro ventos. 

O conto de fadas se completou com sua surpreendente vitória sobre Max Bauer, tomando-lhe o cinturão dos peso-pesados. Aparentemente, o franco favorito (10-1 nas casas de apostas) atuou com displicência nos assaltos iniciais, confiante de que os pontos perdidos não lhe fariam falta. 

Mas, quando partiu para decidir a luta, esbarrou na tenacidade irlandesa de Bradock, que assimilava o duro castigo e jamais deixava de também desferir seus golpes.
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Trechos da luta entre Braddock e Max Bauer...
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Adiante Braddock perderia para Joe Louis, mas consertou sua vida, inclusive lançando uma autobiografia que fez aumentar ainda mais sua popularidade. Depois se tornou empresário da construção pesada e nunca mais caiu na miséria. 

Mas por que, afinal, decidi postar este filme? Porque, quando mostra o pugilista e sua família no fundo do poço, dá uma boa ideia do horror de uma recessão aguda e prolongada, ou seja, exatamente o que estamos prestes a enfrentar. Sempre fico com a impressão de que os brasileiros não se dão conta da gravidade do momento, nem de que a fome e as doenças da miséria poderão matar ainda mais brasileiros do que a pandemia, caso a presidência da República continue acéfala. (por Celso Lungaretti)

...e o filme do qual ela é o momento culminante.

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