(continuação deste post)
Nesse contexto há os reformistas, que figuram agora como acabrunhados oportunistas, quando conscientes de sua dubiedade nociva; ou como inocentes úteis, quando acreditam que devagar se vai ao longe.
Agora mesmo se discute, no Brasil, em quem a esquerda deve votar para a presidência da Câmara Federal.
A escolha deve recair no candidato menos subserviente ao governo que aí está, mesmo que (no caso do PT) tenha vacilado quanto a isso e até admitido a possibilidade de apoio a um candidato governista, por puro oportunismo político circunstancial. Uma lástima sob todos os aspectos.
Ora, num momento em que o capitalismo está colapsando mundialmente (e mais ainda no Brasil, que pertence ao grupo dos países equivocadamente denominados como em desenvolvimento), por vários motivos e com várias consequências catastróficas, os reformistas estão cuidando da unha encravada sem se aperceberem da metástase que toma conta do corpo. Vão herdar um cadáver.
Os movimentos sindicais, por sua vez, poderiam mobilizar para finalidades mais nobres os milhões de desempregados que antes atuavam no suprimento da produção de bens cuja demanda de consumo está impossibilitada pelo travamento da lógica capitalista de produção; direcioná-los, p. ex., para a construção e distribuição gratuita de casas para os milhões de favelados e moradores precarizados dos bairros (contando, para tanto, com o apoio de outros desempregados, que os sustentariam materialmente).
Ao invés disto, contudo, escondem-se em bandeiras reformistas de defesa de direitos trabalhistas que somente positivam a lógica de exploração do capital aos trabalhadores que dizem defender.
Assim age, movida por interesses político-sindicais ou partidários oportunistas, a grande maioria dos sindicatos de trabalhadores dirigidos por reformistas que se fazem passar por bravos soldados da luta de classes, mas querem mesmo é perpetuar a subalternidade das classes e sejam mantidos os seus empregos classistas.
Mas o futuro flerta com os que se inserem no segundo conjunto, a quem eu chamo de emancipacionistas, os quais propõem uma práxis que arrebenta com as amarras escravistas que caracterizaram a humanidade nos três últimos milênios, formatando, assim, o novo tempo que já se vislumbra.
O emancipacionismo representa a esperança de um futuro luminoso, no qual sejam desenvolvidas todas as potencialidade humanas, desde as materiais até as próprias à subjetividade do afeto e das relações humanas superiores (aí incluídas as convivências de harmonia social fraterna e convergência na diversidade), tudo sob um tratamento cuidadoso para com a nave mãe que nos abriga como um pequenino grão de areia no majestoso universo.
Nós somos grandes enquanto seres pensantes e capazes de construirmos maravilhas em nosso favor, a partir da potencialidade desse universo grandioso traduzido como natureza, e isto apesar de sermos apenas um ser microscópico dentro do sistema planetário universal.
Então, por que não sermos racionais e fraternos?
Por que sermos segregacionistas e estabelecermos uma forma de relação social tão mesquinha que é capaz de acumular imensa riqueza abstrata nas mãos de uns poucos e nem prover um lugar decente e confortável para morar a quem precisa e o alimento substancioso para todos?
Por que não nos habituarmos a tratar de modo saudável e sustentável a mãe natureza, que nos fornece as condições materiais de vida?
Quando os pósteros se debruçarem sobre a nossa história, estranharão termos vivido de modo tão obtuso, contraditório e irracional; provavelmente atribuirão tal comportamento à inferioridade da nossa racionalidade atual,.
A chave para a emancipação humana reside no estabelecimento de um modo de produção voltado para a satisfação das necessidades sociais coletivas, e dentro do princípio marxiano segundo o qual se deve esperar de cada um segundo as suas potencialidade, e dar a cada um segundo as suas necessidades.
É como se o mal da acumulação individual da riqueza abstrata produzida socialmente fosse o móvel do impulso criador e produtor da vida e da transformação da riqueza material em objeto consumível, como as mercadorias...
Frases e mais frases nesse sentido se pode captar de todos os grandes chefetes políticos, empresários e economistas burgueses, em detrimento de uma vida social emancipada.
Ouso dizer que todos eles se equivocam, pois não dá para se transformar o mal em fonte do bem e é aberrante sustentar que o ser humano seja intrinsecamente negativo ao ponto de somente poder sobreviver à custa do sacrifício inaudito e da morte de seus semelhantes.
O ser humano, ambientado numa relação social na qual todos se tornem contributivos de acordo com as suas potencialidades e dons, terá prazer e satisfação em tornar-se útil, bem como em ser o artífice da proteção dos que não têm a mesma potencialidade.
Todos poderão ser reconhecidos socialmente por sua contribuição estimuladora, ao invés de se tornarem adversários de todos, como ocorre sob a relação social capitalista.
O modo de produção diferenciado formatará uma organização social horizontalizada, cujos cânones jurídicos sejam consentâneos com o que a moral baseada no bom senso e na busca da realização do ideal de justiça.
Como profissional do direito que sou, e estudioso por conta do ofício há mais de 40 anos dos princípios da ciência do direito, posso afirmar categoricamente que o nosso direito civil, advindo do direito romano (que é a forma jurídica atualizada das sociedade fundada sob a égide do escravismo social que ergueu e fez sucumbir o Império Romano), é, antes de tudo, um anti-direito.
As firulas que os juristas conseguem fazer para tornar aceitável e razoavelmente lógico o regramento jurídico civil é, ao mesmo tempo, um esforço de erudição vernacular aliado ao tacão da obediência militarizada que submete todos à obediência das leis civis. Os juízes são os carrascos modernos da execução da lei.
Os tradicionalistas querem desconstruir o que a civilização ergueu a muito custo como direitos fundamentais da humanidade (começando pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 1948, foi admitida apenas após os horrores da 2ª Guerra Mundial, e agora querem revogá-la!), para em seu lugar retroceder à era na qual se admitia a propriedade de um ser humano escravizado.
Tal corrente difere da dos desmiolados pregadores de um great reset (ainda que tenham o mesmo objetivo teleológico final), propositores de uma nova ordem mundial, de vez que, sob o disfarce de uma preocupação humanitária com os rumos que o capitalismo em colapso vem tomando, querem implantar uma ordem totalitária como forma de manutenção do dito cujo sob bases estruturais pretensamente factíveis.
Ramo totalitário de uma tese reformista de direita, o great reset quer uma reforma pensada pelos de cima com o aval dos de baixo, como forma de manutenção da dominação social própria à relação social capitalista.
Ao pregarem uma reestruturação monetária que revogue as decisões do pós-guerra em Breton Woods, que estabeleceu o dólar dos Estados Unidos como moeda universal (aí há um reconhecimento explícito da insustentabilidade da moeda estadunidense), querem que o capital assuma o verdadeiro poder social sob sua égide, criando um controle paraestatal ainda mais nocivo do que os estados nacionais por ele criados.
Os emancipacionistas são o contrário de tudo isto. Querem desconstruir a institucionalidade estatal burguesa criada para servir à escravização do capital e, avançando no tempo, estabelecerem, em seu lugar, mecanismos jurídicos próprios de um modo de produção no qual o uso tecnológico do saber se coloque em benefício da humanidade e não do lucro segregacionista.
A consciência sobre a nossa própria essência e sobre a possibilidade de construção de um ordenamento jurídico e social convergente com um sistema de produção social que use todo o tempo disponível de cada indivíduo social (o que proporcionará tempo disponível para atividades lúdicas e afetivas nos mais variados campos da existência) há de engendrar essa Grande Ruptura! (por Dalton Rosado)
Documentário francês de 2009, dirigido por Jean-François
Brient, o média-metragem Da Servidão Humana nos foi
recomendado pelo leitor Cássio, a quem agradecemos
2 comentários:
Grande Dalton!
Fico feliz em ler seus textos repletos de ideias magnânimas e positivas. É um alento nesses tempos de tanta negatividade.
De certa maneira, o jogo já está dado e em pleno desenvolvimento.
O final é antecipadamente conhecido, ceteris paribus.
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Por ser tão óbvia a derrota da liberdade tenho me ocupado da questão metafísica.
Metafísica é como as equações quânticas, não se sabe por que elas dão certo, mas, calcule, que dá certo.
Então, amigo, por mais rico e estruturado que o seu sistema de categorias, por mais pormenorizadamente descreva o ente e sua conjuntura, a questão do sentido do ser (ontologia) permanece convenientemente descartada no seu discurso.
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Mas, por mais que se ignore, o fracasso dos experimentos coletivistas já deveria ter forçado e condicionado o estudo do "eu" e sua estrutura fundamentalmente individual, como característica incontornável da vida como ela é.
Nós que temos esse privilégio ontológico de nos percebermos ser, sendo, nos deparamos com o horror de saber que se é para a morte.
Parece que já linkaram isso com o marxismo...
SF
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OS PERIGOS do GRANDE RESET MUNDIAL para o SEU DINHEIRO ! Eles querem REINICIAR o Capitalismo!
https://youtu.be/Rg4IB0k48N4
William Ribeiro do popular canal de educação financeira Dinheiro Com Você.
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SF
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