segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

BOLSONARO E TRUMP SÃO PIORES AINDA DO QUE OS FASCISTAS: QUEREM DESTRUIR O MUNDO MODERNO E VOLTAR À IDADE MÉDIA

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O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. 

Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz."

Quanto Jair Bolsonaro balbuciou tais sandices em março de 2019, a impressão que dava é de não passar de uma tentativa canhestra, repleta de erros de português, de produzir uma frase de efeito. 

Infelizmente, contudo, ele era sincero ao declarar-se um agente da destruição, tanto que já destruiu um sem número de instituições brasileiras e é, por sua sabotagem ao combate científico da covid-19, o maior genocida da História brasileira, responsável direto por dezenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas (pouco me importando se muitos brasileiros desinformados ainda não perceberam isto, pois a ficha acabará por cair para eles também!). 

É o que fica evidenciado na entrevista, de autoria de Letícia Duarte para o jornal global
El País (acesse a íntegra
aqui), com o pesquisador da extrema-direita e etnógrafo estadunidense Benjamim Teitelbaum. 

Após 15 meses escutando os delírios de anormais como Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Aleksandr Duginautor (conselheiro de Putin), Teitelbaum (foto abaixo) escreveu Guerra pela Eternidade: o Retorno do Tradicionalismo e a Ascensão da Direita Populista, aqui lançado no semestre passado pela Editora da Unicamp.

Eis as principais afirmações de Teitelbaum na longa entrevista: 
"O Tradicionalismo [os devotos da seita grafam a palavra assim mesmo, com T maiúsculo] é originalmente uma escola espiritual filosófica que se tornou política em certo nicho. Os seguidores basicamente acreditam que a humanidade está ao fim de um longo ciclo de declínio e que vai ser concluído com destruição e renascimento. O que foi perdido neste ciclo de declínio foi o conhecimento verdadeiro da religião e também a ordem nas nossas sociedades –incluindo a diferença entre homens e mulheres, posições sociais e espirituais. 

No lugar disso, teríamos um mundo massificado e secularizado neste processo de modernização. O Tradicionalismo acredita que é preciso haver um cataclismo para restaurar o que acreditam ser a verdade. Um dos elementos desse Tradicionalismo politizado de direita é acreditar que é preciso restaurar uma hierarquia onde homens arianos e líderes espirituais estão no topo, em oposição a materialistas, não-arianos e mulheres.
...o Tradicionalismo acrescenta uma motivação espiritual para o que poderia ser simplesmente uma agenda política do populismo de direita, antiglobalista, antiprogressista. As pessoas podem aderir a isso por diferentes razões, como ressentimento econômico, racismo, antifeminismo… Mas o Tradicionalismo oferece uma motivação religiosa. E esse é um elemento importante. 

No caso de Olavo de Carvalho, p. ex., ele não expressa apenas um ódio às elites, desprezo à ciência, à mídia, às universidades. Existe também a visão, um certo mandato espiritual, com o desejo de destruir grandes organizações, como a União Europeia, as Nações Unidas. A seus olhos, a destruição é uma coisa boa. 

Isso é assustador e preocupante. Os tradicionalistas acham que essas grandes organizações querem unificar e homogeneizar o mundo com o comunismo, ou com dominação chinesa. Então Olavo quer ver o establishment no Brasil ser quebrado em peças e fraturado: sejam os militares, a universidade, a mídia. Destruição é a agenda.

...essas ideias extremas acabaram vindo à tona basicamente no mesmo momento, e não pelas mãos de Bolsonaro, Trump, e Putin, mas pelas mãos das figuras atrás deles, como uma espécie de Rasputin... os conselheiros místicos, influentes.

...o real sujeito do livro (...) é o que está por trás disso tudo, porque nos encontramos num momento em que as pessoas estão buscando ideologias que parecem destoar tanto do padrão. 

E essa ideologia não é o comunismo, não é liberalismo, não é fascismo. O Tradicionalismo é tão fora do mapa que nenhum cientista político, nenhuma think tank em Washington, ninguém no Congresso e nenhum candidato à presidência jamais ouviu falar dele. 

E esse movimento ainda assim se sustenta. Há tanto desencanto, tanta frustração com o status quo, que nós vemos atores buscando alternativas radicais.

...O Tradicionalismo é anti-progressista num nível que raramente vemos. Muitas pessoas costumam chamar a si mesmas de conservadoras, mas quase todo mundo no campo conservador é basicamente progressista no mundo ocidental. Elas acreditam que, se você reduzir as regulações governamentais do capitalismo e aumentar a liberdade individual sobre a propriedade, você pode criar uma sociedade melhor. Eles não são nostálgicos. 

O Tradicionalismo vai na direção diametralmente oposta. Eles não acreditam que seja possível mudar ou melhorar a história, acham que é preciso desfazer todo o mal feito para as nossas sociedades, e isso não significa voltar apenas décadas para trás, mas séculos.

O fascismo é futurista, modernista, a despeito de tudo. Hitler e Mussolini queriam transformar radicalmente suas sociedades, revolucioná-las. O Tradicionalismo vai na direção contrária: quer voltar para trás, num nível que ninguém leva muito a sério. E é nesse ponto que as ideologias se separam. 
Ambas se opõem ao feminismo, ao multiculturalismo, às políticas emancipatórias contemporâneas. Mas as diferenças são significativas. Há um elemento de destruição no Tradicionalismo que não necessariamente existe no fascismo.

...(sobre as teorias da conspiração culpando a China pela pandemia) Para Bannon e Ernesto Araújo, há uma questão mais específica: o fato de a China ser secular, antirreligião, e ao mesmo tempo massificante, globalizante, por estar eliminando fronteiras. Isso é um problema para os nacionalistas... para os tradicionalistas, a China não é uma vilã apenas pela questão econômica, mas é um demônio metafísico.

...Trump perdeu, mas ele continua sendo incrivelmente popular entre a direita. Não há nada parecido, nenhum republicano jamais recebeu tantos votos nos Estados Unidos. E além disso os republicanos ainda foram muito bem nas votações do Senado, no Congresso. Eles têm uma penetração crescente entre grupos minoritários e pessoas sem diploma. 

Tenho entrevistado muitos jovens republicanos e eles seguem a cartilha de Trump. Eles acreditam que Trump mostrou que, se conseguirem combinar políticas econômicas liberais com políticas sociais conservadoras, eles podem vencer os democratas. Isso deve manter a ideologia trumpista viva"

4 comentários:

Anônimo disse...

ahhhhhhhhhhh,,,moderna é Cuba, congelada em 1959...um museu a céu aberto até interessante se não fosse a quantidade pedintes que te assediam. Ou a policia da praia, mesmo no resort mais caro. Prevenindo pra ninguém roubar uma boia de criança ou um caiaque para fugir pra Miami.
recentemente em Varadero, o taxista que nos guiou gentilmente por toda parte, uma hora pediu licença pra nos abandonar pq tinha um encontro com seu traficante ..de azulejos, para a casa ele (taxista) estava construindo a dez anos...quando perguntei pq ele não ia pra Miami tbm, respondeu: tengo miedo a tiburones.

celsolungaretti disse...

Por que, seja na entrevista que reproduzi do El País ou nos posts deste blog, vc alguma vez viu Cuba ser citada como símbolo da modernidade?

Eu, em meus milhares de artigos, escrevi isto alguma vez?

Então, pare de rebater fantasmas e escreva coisas que tenham a ver com o espírito e os textos deste blog. É para isto que serve o espaço de comentários, não para criticar estereótipos que não têm nada a ver conosco.

Anônimo disse...


"Então, pare de rebater fantasmas e escreva coisas que tenham a ver com o espírito e os textos deste blog. É para isto que serve o espaço de comentários, não para criticar estereótipos que não têm nada a ver conosco."

ahhhh sim..ótimo argumento. Sempre me esqueço que o "socialismo real" não é apreciado por sua augusta pessoa; já deixou isso bem claro...nada de socialismo real. Só o socialismo irreal, das fantasias delirantes, algo que será construído num futuro pra lá de improvável, que nunca chega (pq não é pra chegar mesmo) sobre os cadáveres de toda a humanidade se preciso.
Mas tudo isso não tem nada de absurdo: afinal pra esquerda se suas ideias não batem com a realidade, pior pra realidade. Afinal o que conta é a narrativa e nunca os fatos.
em mais de 100 anos de experiências socialistas de todo tipo, em toda parte do mundo, o resultado foi sempre o mesmo: miséria e morte. mas isso não importa, afinal nós não vivemos no presente mas num futuro de fantasias, da "construção do socialismo" onde tudo será perfeito...e la nave vá. (Bernardo Caicedo)

celsolungaretti disse...

Não é por capricho que não me identifico com o "socialismo real", mas sim porque, antes mesmo de conhecer o marxismo, lá pelos meus 15 anos, já considerava intolerável o esmagamento do indivíduo por Estados-leviatã.

Era leitor do Kafka e a perspectiva de estar subjugado a forças que determinassem meu futuro sem que eu sequer chegasse a saber quem movia os cordéis dessa engrenagem ("O Castelo") ou ser por elas processado e condenado à morte sem chance real de defesa ("O Processo") me assustava mais do que os pesadelos do Edgar Allan Poe.

E, garimpando livros na biblioteca circulante apenas por detalhes da capa ou apresentações na orelha, acabei lendo "O Zero e o Infinito", do Arthur Koestler, sobre os julgamentos da era stalinista. É uma história forte e chocante, que me causou profunda impressão.

Então quando, já politizado, passei a conhecer de forma mais aprofundada o processo de degenerescência e destruição da mais bela revolução socialista até hoje, através das obras de Trotsky, Rosa Luxemburgo, Isaac Deutscher e George Orwell, principalmente, isso veio ao encontro de uma impressão que eu já formara.

Mais tarde, ao experimentar na pele o que era ser prisioneiro de um Estado totalitário, com poder de vida e morte sobre mim, que realmente quase me matou além de me deixar com uma lesão permanente pelo resto da vida, conclui que absolutamente nada justificava submeter-se um ser humano a tais horrores. Saí das prisões militares com a convicção definitiva de que a chamada "ditadura do proletariado" era inaceitável sob quaisquer circunstâncias.

De resto, as experiências malogradas jamais foram no sentido que os grandes pensadores marxistas apontaram: a construção do socialismo nos países em que as forças produtivas estivessem mais desenvolvidas, para destravá-las definitivamente, livrando-as das limitações impostas pela priorização do lucro.

Ocorreram, pelo contrário, em nações com desenvolvimento tardio, mesclando ingredientes das revoluções democrático-burguesas com os das revoluções socialistas, o que acabou conduzindo-as ao pior dos mundos possíveis. Tornaram-se meros capitalismos de Estado totalitários. Por isto, sempre mantive distância dessas revoluções inacabadas e imperfeitas.

Se voltadas para o atendimento das necessidades sociais, as forças produtivas, no estágio que ora atingiram, poderiam proporcionar a cada ser humano o necessário para uma existência materialmente satisfatória, além de deixá-lo com tempo livre para o aproveitamento pleno de seus potenciais, ou para a busca da felicidade, ou para o que quer que desejasse e não fosse ao encontro das prerrogativas de outros cidadãos.

Infelizmente, ao desviar os frutos da evolução científica e tecnológica para a satisfação de ambições pessoais, o capitalismo conseguiu acumular tal poderio financeiro. militar e de manipulação das consciências que torna quase impossível a emancipação da humanidade por mera conscientização de que está sendo destruída pela atual forma de organização social.

Mas, as catástrofes ambientais e a cada vez mais iminente derrocada econômica forçarão os homens a lutarem pela sobrevivência (ameaçada como nunca), saindo de sua zona de conforto. Isto, aliás, já começou com a pandemia.

Então, a hipótese na qual mais creio é a de que eles terão de unir-se para a sobrevivência; e que desta união poderá resultar, caso a humanidade sobreviva, uma reconstrução em moldes bem diferentes, com o bem comum passando a ser a prioridade suprema, ao invés da ganância e do lucro.

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