domingo, 30 de agosto de 2020

O MELHOR FUTEBOLISTA DA NOSSA ÉPOCA MERECE UM CANTO DO CISNE FULGURANTE

TOSTÃO
O RELACIONAMENTO ENTRE BARCELONA
E MESSI PARECE TER CHEGADO AO FIM
Parafraseando uma das mais belas crônicas, poemas, do poeta e escritor Paulo Mendes Campos, o amor acaba, por dezenas de motivos. Parece certo que terminou o profundo e longo relacionamento afetivo entre Messi e Barcelona.

A gota d’água foi a derrota de 8 a 2 para o Bayern, pelas quartas de final da Liga dos Campeões. Messi se sentiu humilhado e já tinha avisado, após a perda do título espanhol para o Real Madrid, que a equipe, se não melhorasse, passaria por muitas vergonhas. Ele não sabia que seria tão grande.

O amor acabou muito antes, por causa das condutas da diretoria, como as de criticar os jogadores por algumas derrotas, pelas negociatas relatadas na imprensa e por não se empenhar na contratação de Neymar, a pedido de Messi, que queria fazê-lo seu herdeiro.

O fascínio terminou quando Messi viu também que a bola que saía de seus pés não voltava como ele queria e que tinha de fazer muito mais esforço para marcar seus gols. Viu que o Barcelona estava desajustado, ultrapassado. Constatou ainda o óbvio, que o tempo passa e que ele não é eterno.

O Barcelona implodiu. Não quer ficar mais com vários de seus principais jogadores, como Suárez, Rakitic, Busquets, Piqué e Jordi Alba, muitos deles da geração de Messi, formados em La Masia, centro de formação de jogadores do clube.

Iniesta, Messi e Xavi faziam do Barça o melhor time da História
O clube catalão se iludiu que a grande geração de Messi, que teve também Xavi, Iniesta e Fàbregas, poderia ser replicada em laboratório e que haveria uma fórmula mágica de produção de craques. 

Da geração seguinte ainda não surgiu nenhum fora de série, embora haja algumas promessas. A maioria já foi testada, não apresentou qualidades para jogar no Barcelona e foi cedida para times médios da Europa.

A estrutura física e técnica na formação de atletas é importantíssima, essencial, mas não é garantia que sempre surgirão craques. Algumas vezes, os fenômenos nascem do nada, sem explicação. Muitas grandes equipes da história foram formadas assim, por acaso.

Por causa da pouca qualidade da geração seguinte à de Messi, o clube gastou fortunas para contratação de jogadores, sem sucesso, como Coutinho, Arthur, Dembélé, Griezmann e outros. Todos são muito bons, mas criaram uma expectativa acima da realidade. O time atual possui várias deficiências coletivas e individuais.

O amor acaba, mas pode renascer noutro clube, país, com novos companheiros. Há sempre alguém à espera, com muito carinho. A carreira magistral de Messi ainda não terminou. Precisamos vê-lo por mais tempo. Será um vazio sem ele. 

Ou Messi está cansado de tanta pressão, de tanta responsabilidade, de ser, em todos os jogos, o genial atleta que é?
Messi pode estar com vontade de voltar a Rosário (onde jogou na infância) e encerrar a carreira no Newell’s Old Boys; ou de sentar-se na praça e sonhar com outros prazeres, antes que a sociedade do espetáculo, sedenta por novos ídolos, se canse dele. (Tostão, tri mundial em 1970 e nosso melhor comentarista  esportivo atual)
.
TOQUE DO EDITOR — Nos esportes torço, acima de tudo, pela arte. Então, antecipadamente lamento o vazio que a aposentadoria do (indiscutivelmente) melhor futebolista do século 21 e (provavelmente)  maior de todos os tempos deixará. 

Os idiotas da objetividade (como Nelson Rodrigues qualificava os incapazes de captar a beleza em estado puro que a vida às vezes nos proporciona, limitados ao perde/ganha que lhes dá uma ilusão de serem vitoriosos e não os  eternos perdedores que são na injusta sociedade atual) exibirão números, eu prefiro o êxtase. A cada um, o seu.

Era apaixonado pelo futebol da socrática democracia corinthiana, ia em todas as suas  partidas no Morumbi ou Pacaembu; enquanto reinou, Muhammad Ali me ver boxe como nunca  antes nem depois; após Federer pendurar a raquete, provavelmente passarei anos sem interessar-me pelo tênis; até no xadrez me viciei quando o destemido Kasparov desafiava os burocráticos e cautelosos Karpovs que tinham, todos, a cara da revolução traída.  
Está chegando a hora de me deixar órfão futebolístico por uns tempos o cracaço Messi, maior símbolo da revolução catalã da década passada, quando voltei a me deliciar com um futebol brilhante, alegre e ofensivo que pensava ter deixado para trás.

Torço para que, seja ao lado de Guardiola e De Bruyne, ou de Neymar e Mbappé, ele tenha um fim de carreira à altura de sua genialidade e de toda beleza que nos entregou. 

Gostaria que houvesse sido na heroica e rebelde Catalunha, pela qual tanto apreço tenho. Mas, um atleta com a idade dele não tem mais tempo útil pela frente que lhe permita esperar o Barcelona renascer das cinzas. 

Paciência. Mesmo que seja num time da pérfida Albion, mas ao lado do melhor técnico da nossa época, que tenha um canto de carreira capaz de calar até o mais obtuso e empedernido idiota da objetividade! (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

Somente cracaços parecem ter um cordão invisível que liga seus pés à bola, que atende aos comandos daqueles como se fosse um animal carinhosamente adestrado. Messi é um deles, como Pelé e, arrisco-me citar, Ronaldinho Gaúcho.

Marco A.

celsolungaretti disse...

Concordo. Ele era autor de lances belíssimos e, na minha opinião, foi decisivo para o penta, pois criou os dois gols que nos permitiram superar o único adversário realmente difícil, a Inglaterra: a assistência no primeiro e aquele chute milimétrico que ele deu, cobrando uma falta junto à linha lateral, para encobrir o goleiro grandalhão e deixá-lo com cara de bobo.

Vi muitos jogos do Pelé e ele era genial, mas objetivo demais para o meu gosto: não brincava com a bola, queria era fazer gols e mais gols. Eu sempre preferi jogadores como o Garrincha e o Ronaldinho Gaúcho, que não desperdiçavam oportunidades de fazer os adversários de joões...

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