Bolsonaro de moto no meio da tragédia: isto só é possível porque a burguesia brasileira assim decidiu |
"Nesses últimos seis meses, vou me dedicar à reforma tributária."
Esta frase foi proferida por Rodrigo Maia, presidente da câmara dos deputados, na semana em que o Brasil alcançou a triste marca de 100 mil óbitos por causa da Covid-19, tornando-se o segundo país do mundo com maior número de mortos, atrás apenas do disfuncional Estados Unidos de Trump.
A frase de Maia é apenas exemplo do profundo nível de alienação e indiferença que paira no sistema político brasileiro.
Um pouco antes, o mesmo sujeito já havia dito não ter ainda elementos para levar adiante o impeachment de Jair Bolsonaro. Para ele, nenhum dos 50 pedidos possuíam a mesma força de evidências do pedido contra a ex-presidente Dilma, cassada por ter dado pedaladas fiscais.
Rodrigo Maia é a expressão acabada de um regime falido. Pusilânime, inexpressivo e nanico, pensa apenas em seu próprio projeto de poder, o qual incluí muita coisa de ilícita, conforme já mostrado pela Lava-Jato em épocas anteriores. Mas ele não é o único.
Rodrigo Maia é a expressão acabada de um regime falido. Pusilânime, inexpressivo e nanico, pensa apenas em seu próprio projeto de poder, o qual incluí muita coisa de ilícita, conforme já mostrado pela Lava-Jato em épocas anteriores. Mas ele não é o único.
Iguais a ele são os presidentes do Senado e do STF, liliputianos políticos priorizando seus interesses particulares. Mas há também um exército de políticos em Brasília e no país afora que apenas se importam consigo mesmos e com o bolso.
A política existe para servir à classe dominante, já mostrava a lição do velho Marx. Então, o sistema político é deste modo porque a própria classe dominante assim o é.
Já tive oportunidade de mostrar que o projeto da burguesia brasileira é o de terra arrasada. O fracasso da industrialização pela via colonial – conforme termo consagrado pelo filósofo José Chasin – fez a burguesia nacional regredir suas fontes de extração de valor para a atividade predatória pura e simples: predatória do meio ambiente, dos recursos naturais e da vida da população.
Daí, a eleição de Bolsonaro não ter sido um acidente. Foi o resultado direto de um projeto destrutivo, disruptivo, que apenas poderia ser conduzido sob um governo igualmente destrutivo e disruptivo. O caos, o desnorteamento, a universalização da criminalidade no aparelho de Estado e a disfuncionalidade são método, mas um método originário do próprio projeto da classe dominante brasileira.
Por isso, Bolsonaro não cai. Por isso, Rodrigo Maia, office boy da burguesia nacional, não vê crime algum para justificar um impeachment. Bolsonaro é necessário à burguesia nacional para levar a cabo o programa de devastação e regressividade socioeconômica.
A missão dele ainda não está terminada. Somente quando a devastação chegar a um ponto de não retorno, ou que for possível fazer um arranjo institucional em que o sucessor esteja dentro do esquema, é que Bolsonaro será descartado.
As 100 mil mortes mostraram o quanto a classe dominante brasileira valoriza seu próprio povo. Enquanto outras burguesias sacrificam seus trabalhadores na guerra, a nossa burguesia deixa os trabalhadores morrerem pela ação de um vírus.
Não podemos ter nenhum pingo de dúvida quanto à ação política deliberada que norteou tais mortes. Não foi obra da natureza. Foi resultado direto de uma política genocida, levada a cabo por Bolsonaro e seu ministro militar, mas cuja liderança intelectual é da burguesia brasileira.
Basta lembrar dos empresários que vieram à público meses atrás para relativizar as mortes; das pressões contra o isolamento social; mas, sobretudo, da omissão diante da prática genocida do governo.
A frase de Maia é expressiva quanto a esta omissão. Enquanto 100 mil pessoas expiram no Brasil, com maioria esmagadora de pobres e negros, a elite brasileira está preocupada com a reforma tributária, está preocupada em saquear mais ainda seu povo, ampliando a taxação sobre o pobre e isentando os ricos.
A imagem de Bolsonaro passeando de moto no meio da tragédia só é possível porque a elite brasileira decidiu que a destruição e a morte devem ser a meta. Para esta elite, as 100 mil mortes são um dado da paisagem. O importante é apressar as reformas e preparar a mudança para Miami.
Simbólico, portanto, o passeio de moto do presidente. É a exata medida da alienação da burguesia nacional e de seu sistema político diante do colapso nacional, colapso que é acelerado com as medidas disruptivas do projeto de reformas.
Bolsonaro, o genocídio por covid, Rodrigo Maia, as reformas, todos embaralhados num mesmo processo de colapso do regime burguês do Brasil.
O tempo dirá o que vai sair disso. No entanto, é preciso lembrar das lições da história. Sempre que um regime estava decadente e sua elite refugiava-se na alienação, não apenas considerando o povo descartável, mas também aumentando em demasia os sacrifícios impostos a ele, o resultado invariavelmente foi uma brutal ruptura revolucionária, com a explosão de violência contra a antiga classe dominante. A França em 1789 e a Rússia em 1917 são exemplos.
A elite brasileira pode estar acelerando seu próprio fim, violento e doloroso fim. (por David Emanuel de Souza Coelho)
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