(continuação deste post)
Após 1976, a China passou a minar o capitalismo por dentro... |
E eis que a China está agora produzindo um colapso no capitalismo mundial pelos próprios fundamentos capitalistas!
Sob a influência de Deng Xiaoping a partir de 1978 (Mao Tsé-Tung morrera em setembro de 1976), a China foi abandonando os conceitos marxistas na prática, embora não o admitisse em sua retórica. E percebeu que poderia crescer economicamente como o faz qualquer burguês capitalista, vencendo a guerra concorrencial de mercado mundial graças à possibilidade de oferta de trabalho abstrato barato e abundante.
Com isto, a China se transformou nos últimos 40 anos, de nação essencialmente agrícola e rural, em país urbano e industrial, grande fornecedor de mercadorias para o mundo inteiro.
É que os consumidores de mercadorias querem comprá-las mais barato, pensando mais no seu bolso do que em qualquer ideologia patriótica. Assim, para estes não interessa se o tênis é fabricado em Pequim ou Nova York, pois o que importa é se ele é bom e barato.
O capitalismo causa destruição e encaminha a autodestruição |
Tudo no capitalismo é contraditório e caminha para a destruição social, para a destruição ecológica e para a autodestruição enquanto forma de relação social.
A China está a provocar o desemprego estrutural mundo afora, bem como a redução do volume de extração de mais-valia, lucro empresarial, e massa global de valor, causando uma anemia orgânica ao capitalismo mundial e prenunciando o seu colapso inevitável.
Paradoxalmente, ao vencer a guerra concorrencial de mercado sob os critérios acima elencados, a China vem causando também a redução da capacidade de poder aquisitivo mundial e reduzindo a sua própria capacidade de expansão (vide queda acentuada do outrora crescimento vertiginoso do seu PIB).
E está também causando a própria derrota enquanto modelo produtor de mercadorias e decretando sua falência enquanto modelo capitalista ultraliberal na economia (e fechado na política).
Quem diria que, após fazer a revolução armada e tentar exportá-la para o mundo, a China de Mao Tsé-Tung iria mas é solapar o capitalismo pelos próprios fundamentos capitalistas?!
O dia já amanhece e os raios de sol fulminarão o vampiro |
Hoje, o que está mais atual em Marx é a sua crítica ao trabalho abstrato como fonte primária do capital, não levada em consideração de modo consequente pelos marxistas tradicionais, que, assim, converteram-se numa espécie particular simbiótica de capitalismo selvagem na economia e stalinismo na política.
As próprias descobertas de Karl Marx sobre o mecanismo da extração de mais valia como formação do capital e de toda a sua estrutura de dominação e segregação social, assim como o detalhamento de suas contradições intrínsecas, expostos em O Capital, põem por terra a defesa que ele anteriormente fazia da força operária ativa, enquanto tal, como sujeito indispensável da revolução.
É o substancial e crescente contingente de desempregados, sem que o capital tenha forma de sustentá-los, que está atualmente a escancarar a necessidade de uma novo modo de produção social e apropriação das riquezas materiais em favor da população (coronavírus à parte, pois ele não passa de um gatilho na dialética do movimento).
O processo dialético histórico é irreversível na jornada da humanidade para a superação dos impasses que o modelo escravista milenar nos impôs, e está a nos encaminhar para a necessária emancipação humana, a menos que uma hecatombe nuclear ou agressão climática (quiçá meteórica) extermine os seres humanos da face da Terra.
Neste sentido, tanto o golpe militar brasileiro de 1964 como a vitória de Boçalnaro, o ignaro em 2018, num intervalo de 54 anos,são apenas pequenos retrocessos pontuais que em nada alteram o processo dialético irreversível da roda da História.
Estamos mais próximos hoje, e bem mais do que ontem, da emancipação humana.
E Karl Marx, ainda que com seus compreensíveis equívocos políticos históricos, que devem ser devidamente contextualizados, terá dado uma grande contribuição para tal emancipação. (por Dalton Rosado)
Um comentário:
Brilhante, Dalton.
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