domingo, 19 de julho de 2020

A DISFUNCIONALIDADE DO CAPITALISMO TORNA IMPERATIVA A SUA SUPERAÇÃO. A ALTERNATIVA É UM GENOCÍDIO SEM FIM – 3

(continuação deste post)
Os fatores exógenos resultantes do próprio progresso e da riqueza por ele proporcionado (que é apenas localizado em ilhas de prosperidade questionáveis), apontados por Paul Mason, como obesidade, diabetes, contaminação pulmonar pela ingestão da nicotina,e outras mazelas sociais, não deve ser assim considerado. 

É certo que as populações faveladas do Brasil têm problemas de obesidade porque consomem produtos de baixo conteúdo proteico e de aquisição mais barata, como é o caso dos produtos derivados do trigo (pão, macarrão, bolo, pasteis, etc.), e isso não representa riqueza, mas justamente o seu contrário. 

Mas é igualmente certo que o capitalismo e seu sistema político não protegem a população, mas apenas a usam para o seu desiderato socialmente segregacionista, daí ser contraditória a sua correta conclusão quanto a esse aspecto, pois se equivoca quando ao mesmo tempo faz uma incorreta proposição estatizante.

Como os keynesianos em geral, ele acredita na possibilidade de existência de Estado (que como tal é sempre hierarquicamente vertical) protetor da população, sem compreender que todas as formas de Estado existentes na História, inclusive as atuais, sempre oprimiram e oprimem as suas populações sob a justificativa pouco convincente de as proteger. 

Como promover e prover a melhora quantitativa e qualitativa das demandas sociais a partir do Estado falido em decorrência de que já não pode cobrar impostos na dimensão das exigências dessas demandas sociais???
Que Estado obterá recursos monetários (que é a razão de ser do capitalismo) e que seja suficientemente rico e detentor de sensibilidade social para prover as demandas sociais, como se fosse esfera estranha e soberana perante o capitalismo decadente? 

Se o projeto neoliberal faliu junto com seu austericídio social do Estado mínimo, como pretensão de salvar o capitalismo das pretensas garras da social democracia, não será um novo modelo estatizante que poderá restabelecer a normalidade social em rota acelerada rumo ao abismo, como quer Mason.  

Ele chega ao ponto de defender a ideia absurda de que os Bancos Centrais devam comprar a dívida pública estatal como forma de fortalecimento do Estado (???)... 

Ora, encarregados que são de fazer o controle monetário em benefício do capital, os Bancos Centrais se constituem, assim, em partes fundamentais da estrutura estatal capitalista; chegam a ser quase um Estado à parte, com a mesma função administrativa submissa e estritamente técnica em favor do capital. 

Os Bancos Centrais não produzem dinheiro-valor (ainda que o emitam com ou sem valor), como parece entender Paul Mason, mas apenas administram a emissão de moeda, de modo a que a propriedade capitalista esteja conectada com o valor representado por tal moeda emitida. 

Se assim não fosse bastaria que se emitisse moeda dentro das necessidades de consumo populacional para que os problemas sociais estivessem resolvidos. A proposição de Paul Mason quanto aos Bancos Centrais é de uma primariedade tal que me assusta que tal conceito ganhe notoriedade como coisa séria. 

Os Bancos Centrais somente estão emitindo moedas sem lastro por ordem do sistema capitalista e do seu Estado, os quais compreendem que, sem tal emissão, todo o sistema decretaria falência (como ocorreu em 2008/2009) mais brevemente do que acontecerá em futuro próximo; e o faz sabendo que se trata de um paliativo amargo, com graves consequências colaterais e que deve ser suprimido antes que o próprio capitalismo morra em decorrência dos tais efeitos colaterais. 

É a vitalidade das relações mercantis que determina a emissão de moeda controlada pelos Bancos Centrais; então, como ditas relações estão em processo de depressão, tais instituições bancárias vivem os paradoxos próprios de uma situação insustentável sob a lógica funcional do capital. 

Dinheiro sem valor e fora da conexão com a produção de mercadorias é como querer curar uma metástase cancerígena com cloroquina.  

Não necessitamos de Bancos Centrais, mas, muito pelo contrário, precisamos acabar com o dinheiro, expressão numérica monetária abstrata que se materializa nas mercadorias para segregar socialmente a maior parte da população em benefício da menor parte.

Tendo função somente como força regulamentar e administrativa monetária capitalista, os Bancos Centrais jamais subsistirão a uma sociedade que supere a forma-valor.  

Por fim, Mason defende um salário universal, em dinheiro. É impressionante como todos os críticos do capitalismo decadente, a quem louvamos a intenção, só conseguem raciocinar dentro da caixa!  
Ou seja, mantêm-se eternamente aferrados a critérios capitalistas de relações sociais, inventando fórmulas que mais não são do que adereços cosméticos que mantêm a mesma estrutura carcomida.

Por acaso o dinheiro que ele quer que se torne salário básico universal não se constitui em representação do valor que compra mercadorias produzidas sob critérios de valor (trabalho abstrato, extração de mais-valia, lucro, mercadorias, mercado, valor, imposto,s etc.,), estando, portanto, inserido no conjunto de categorias decadentes que formatam o capitalismo? 

Devemos abandonar o medo da adoção de um novo modo de produção social, sem mensuração monetária, mas dentro do critério segundo o qual seja exigido de cada um segundo sua capacidade, dado a cada qual segundo suas necessidades (Marx), e no qual as riquezas materiais da natureza e o saber adquirido pela humanidade possam ser usufruídos(as) e compartilhados(as) por todos. 

Chega da artifícios inconsistentes de humanização do capitalismo em rota falimentar! Devemos superá-lo in totum e sepultá-lo como um estágio escravista sub-reptício da evolução humana. (por Dalton Rosado)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails