sábado, 6 de junho de 2020

A CONTAGEM DE CADÁVERES DISPARA E SÓ NÓS PODEMOS DETER ESSE GENOCÍDIO

Quem desde o último Natal se mantinha apático diante do caos instalado no país, isolando-se não só do vírus como também das responsabilidades políticas, acordou logo depois do domingo passado.

Infelizmente, não para engrossar as fileiras dos que travam o bom combate, mas sim para atrapalhar, com seu divisionismo, as corajosas iniciativas dos que estão priorizando a salvação dos brasileiros mais do que a própria. 

Parece que aqueles inglórios acomodados se ressentiram mais da retomada das ruas e avenidas pelos novos manifestantes antifascistas que do seu constrangedor fracasso em mantê-las nas jornadas de 2016, quando foram enxotados sem oferecerem resistência digna desse nome.

Mas, as pedras no caminho devem ser simplesmente ignoradas por nós, como serão também ignoradas doravante pela História, cujo trem perderam. 

Cuidemos dos que ainda podemos salvar, mesmo que isto nos obrigue a sair do recolhimento, para combater o vírus propriamente dito, o fascismo virulento e as  polícias estaduais contagiadas pelo bolsonarismo. 

Fugirmos dessas pragas não adianta, temos é de encará-las, com desprendimento e também discernimento (não aceitando as provocações de inimigos desesperados com sua derrocada iminente, pois a violência só a eles convém neste momento).
Até porque, sob o genocida governo federal, o quadro sanitário se deteriora cada vez mais. 

Mais um integrante do Ministério da Saúde que não é do ramo acaba de ser empossado e candidamente passa recibo nas entrevistas de que sua prioridade maior não será deter a escalada de óbitos, mas sim manipular as estatísticas que a põem a nu, as quais já eram subdimensionadas ao extremo. 

Mesmo com o mundo inteiro ciente de que as contaminações e mortes são cerca de dez vezes as admitidas oficialmente até agora, elas passarão por nova maquilagem, além de sua divulgação diária haver tido seu horário alterado por uma pueril pirraça presidencial contra a TV Globo. Nunca o lugar comum de tapar o sol com a peneira soou tão apropriado.  

A imprensa revela que o Ministério da Saúde só desembolsou até agora cerca de 10% do total de que tem disponível para ações como compra de respiradores, equipamentos de proteção e insumos para o enfrentamento da Covid-19. Afora ter havido remanejamentos para outros usos de recursos que deveriam ser destinados a combater a epidemia.
Bolsonaro ameaça mais uma vez macaquear Donald Trump, rompendo com a Organização Mundial da Saúde; continua supondo que quebrar espelhos resolverá o problema da feiura de Caliban, sem dar-se conta de que a credibilidade do seu governo está a zero, então, quanto menos informações confiáveis recebermos sobre a Covid-19, mas acreditaremos em boatos apocalípticos.  

E causa estupefação e perplexidade entre os civilizados daqui e do exterior que o Brasil flexibilize o distanciamento social exatamente quando a epidemia interioriza-se e as contaminações e óbitos disparam. Bolsonaro continua decidido a fazer do nosso país uma terra arrasada. Até quando permitiremos?! 
A FALTA QUE FAZ UMA ESQUERDA COMBATIVA   
Nunca o pior presidente do Brasil em todos os tempos pareceu tão próximo de cair quanto no domingo passado (31/05), quando:
— as apurações judiciais dos crimes de responsabilidade cometidos por Jair Bolsonaro e dos crimes comuns e eleitorais de seus filhos contraventores ganhavam velocidade;
— manifestos pluripartidários contra a fascistização em curso no país brotavam como cogumelos; e
— as torcidas do futebol iam para as avenidas substituir uma esquerda que ultimamente parece ser ligada na tomada apenas para fazer campanhas eleitorais e depois desligada para poupar energia. 

Aí entrou em cena a Brigada Anti-Esquerda Autêntica, sob o comando do seu principal porta-voz, que fez as mais veementes declarações no sentido de que os inimigos políticos podem unir-se à vontade nas maracutaias e na politicalha sórdida (a exemplo das alianças que ele sempre fez com reacionários empedernidos e corruptos com carteirinha assinada), mas nunca,  jamais,  para darem um fim ao sistema responsável pelas maracutaias, pela politicalha e por todos os privilégios e desigualdades atuais, abrindo caminho para uma sociedade emancipada, igualitária e livre.

Acredito, contudo, que tal chocante divisionismo esteja chegando tarde demais e as esperanças despertadas nos melhores brasileiros farão o Basta! continuar avolumando-se como bola de neve e levando de roldão tanto o governo que além de destruir o país agora se tornou explicitamente genocida, quanto a esquerda desvirtuada que hoje é muito mais um sustentáculo do status quo do que mobilizadora para as transformações sociais de que nosso país carece desesperadamente. 
Contra esses que desde 1968 reagem histericamente à simples visão dos protestos espontâneos dos explorados e oprimidos, satanizando tudo que não conseguem controlar, vamos continuar escrevendo uma nova página da História neste domingo.

E o faremos sem medo do bicho papão fardado que tanto bolsonaristas quanto lulistas utilizam como espantalho para insuflar conformismo e resignação nos que vimos sendo pisoteados há quase um ano e meio e finalmente nos colocamos de pé!

Desta vez o blefe não colará! Temos plena consciência de que, enquanto o combate à Covid-19 estiver sendo sabotado, privado dos recursos desviados para finalidades nem remotamente tão prioritárias quanto a salvação de vidas humanas e tornado um pandemônio pela dispersão dos esforços (já que o Ministério da Saúde, ao qual caberia centralizá-los, virou um puxadinho da caserna e não inspira mais confiança em ninguém bem informado), brasileiros morrerão aos milhares, semana após semana, de óbitos que poderiam ser evitados.

Os que abusam as cores e símbolos pátrios para iludirem incautos são os mesmos que agora emudecem face à ultrajante situação de nosso país como epicentro mundial da pandemia, repudiado pelos povos civilizados ou despertando-lhes a compaixão que se reserva aos ineptos para cuidarem de si mesmos. 

Desta vez não tremeremos! Tomando as precauções possíveis contra o vírus e tendo em mente que a violência é trunfo dos desesperados e não de quem luta pelos objetivos mais nobres e necessários, iremos às avenidas mais uma vez, e tantas outras quanto preciso for!   

Desta vez não recuaremos!  Já andamos para trás demais, como caranguejos. É hora de o Brasil ir de novo ao encontro do futuro, ao invés de abdicar das conquistas da civilização, retrocedendo para nefandos períodos de obscurantismo, fanatismo e absolutismo. 

Não nos deterão! (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

Entre os quadros da esquerda, tive uma grande decepção com o sociólogo Luiz Eduardo Soares. No dia 17/5, divulgou, entusiasmado, em seu perfil no Twitter, um vídeo-manifesto intitulado "Apelo à unidade antifascista". Surpreendentemente, 18 dias depois, no dia 4/6, divulga um depoimento, também em vídeo (que não encontrei no Twitter), expondo temores precipitados, acovardados, sobre as manifestações de amanhã. Ora, se ele reconhece o fascismo no adversário, como acredita que se poderá vencê-lo? Nas barras dos tribunais superiores? Menos um! Lamento.

celsolungaretti disse...

Companheiro,

infelizmente são poucas as pessoas que ousam divergir da matilha. Não falo desse caso em particular, até porque nem conheço tal sociólogo e é errado emitirmos opinião sobre algo assim de orelhada. Falo de mim mesmo.

Quando estava preso e não podia me defender, espalhou-se uma acusação totalmente equivocada a meu respeito. Ao sair, tal versão já era aceita como verdade absoluta e eu não tinha nem como conseguir provas em contrário, nem quem se dispusesse a publicar o meu lado da história.

Só 34 anos depois consegui uma prova decisiva, um historiador que avalizasse a minha versão (o Jacob Gorender) e uma editora que aceitou publicar tudo isso em livro.

É óbvio que minha militância ficou muito prejudicada, embora eu continuasse travando o bom combate como lobo solitário e até conseguisse um êxito expressivo (a greve de fome dos "quatro de Salvador", vitoriosa graças a uma iniciativa minha). E me orgulho de, numa situação em que o Paulo de Tarso Venceslau se comportou como um verdadeiro revolucionário e o PT fez justamente o contrário, haver sido um dos bem poucos a apoiar o Venceslau publicamente.

Obtive minha reabilitação sem aceitar nenhum acordo podre, como um que me foi proposto e encurtaria o processo em 30 anos, mas me deixaria com imagem de pobre coitado e não de injustiçado. De que me adiantaria voltar a pertencer a um partido, mas privado de minha autoridade moral?

O fato é que os brasileiros em geral são muito mais tendentes a apoiarem quaisquer coletivos do que a respeitarem lobos solitários. Daí tantos e tantos exemplos de pessoas que fazem opções erradas porque temem ser excluídos de sua turma e não conseguem tocar a vida sem ter a sustentação psicológica de ser parte de um grupo.

Veja o caso do Lula: é de uma clareza cristalina que ele está fazendo uma opção horrorosa neste instante, até porque age de forma diametralmente oposta a como agiu numa situação quase idêntica, a das diretas-já. No entanto, quantos e quantos esquerdistas basicamente honestos ficam se esforçando ao máximo para acreditarem em algo que que lá no fundo sabem ser uma falácia, mas não ousam se defrontar com o mito Lula!

Isso me deixa convencido de que não basta querermos construir uma sociedade nova, precisamos também estar, ao mesmo tempo, construindo-nos como homens novos, se não fracassaremos em nosso intento por não nos termos colocado pessoalmente à altura da missão assumida.

É algo tão difícil de fazermos na vida real que desde o final dos anos 60 e início dos '70 não ouço mais ninguém defendendo esta posição (que, em termos dialéticos, é o chamado óbvio ululante).

A dialética também nos ensina que é impossível fugirmos das contradições, elas existem então temos de encontrar nosso lugar dentro delas e, sempre que necessário, irmo-nos transformando ao longo de tal processo.

Exatamente o contrário do que fazem esses dirigentes da esquerda para quem autocrítica é palavrão: seus conceitos estão petrificados e todas as mudanças os assustam, porque podem implicar perda do quinhão de poder que suaram sangue para acumular. E aí, um dia lhes cai a ficha de que seus atos não conduzem mais à transformação da sociedade, mas sim à perpetuação do status quo.

Abs.

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