sexta-feira, 3 de abril de 2020

JÁ NÃO É ENTRE CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE QUE TEMOS DE ESCOLHER, MAS SIM ENTRE CONTINUAR BÍPEDES OU ANDAR DE QUATRO

reinaldo azevedo
QUE MANDETTA RESISTA À PRESSÃO E FIQUE
NO CARGO; BOLSONARO FORÇA SUA SAÍDA
Não é preciso ser muito bidu para intuir que Luiz Henrique Mandetta deve estar pelas tampas com Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, o presidente tem se dedicado a criar fatos para ver se o ministro renuncia ao cargo. 

Demiti-lo agora, em meio à crise, seria temerário. Até porque, em sua cabeça tumultuada e infantil — de criança malcriada —, o presidente gostaria de ter as duas coisas: uma ação considerada correta de combate ao vírus, mas sem interdições, com a economia a pleno vapor. Se demite o ministro, não obterá o efeito desejado — porque isso não depende só do mercado interno — e pode mergulhar de cabeça no caos. 

Quando nem a deputada Carla Zambelli se mostra disposta a defender as, digamos, ideias de Bolsonaro, isso dá a dimensão da solidão em que se encontra o presidente. A cúpula do Congresso e a esmagadora maioria dos deputados e senadores aprova o trabalho do ministro. O mesmo vale para os ministros oriundos da caserna e para as Forças Armadas. 

Paulo Guedes e Sergio Moro, duas das âncoras do que resta de credibilidade ao governo, também defendem a permanência de Mandetta. Assim é com a totalidade dos governadores. 

Bolsonaro se incomoda com a desenvoltura do ministro nas entrevistas coletivas — tanto é assim que tentou lhe tirar o protagonismo — e com a firme defesa que ele faz da quarentena, afinado com a Organização Mundial da Saúde e com a totalidade do mundo científico. 

Não seria quase totalidade, Reinaldo? Os que exibem suas credenciais de médicos para se opor à quarentena já demonstraram: 1) nada entender de epidemiologia; 2) ignorar os estudos produzidos mundo afora sobre o coronavírus. 

Há mais: os alertas públicos que Mandetta tem feito sobre o desastre que o coronavírus provoca no sistema de saúde têm sido dramaticamente confirmados pelos fatos mundo afora. Se, no pobre Equador, corpos são largados nas ruas, não é muito diferente, p. ex., na rica Espanha — ainda que com mais organização, em cenário distinto, mas não menos tétrico. 

Bolsonaro não consegue encontrar parceiros nem dentro do governo para a sua pregação. Por isso tenta, pateticamente, recorrer às ruas. O que pode existir de cálculo em sua ação acena para o despropósito. Ainda que não existisse quarentena nenhuma, a economia estaria em maus lençóis. Com ela, de fato, tanto pior. 

Qual é o seu jogo mesquinho? Certamente já foi informado que, mesmo com as medidas restritivas em curso, haverá muitas mortes, e o sistema de Saúde tende ao colapso. E isso se dará num país brutalmente empobrecido. 

O que pretende, então, o líder das trevas? Culpar os governadores pelo desemprego e pela recessão, acusando-os, adicionalmente, de não terem conseguido evitar as mortes. 

Trata-se de uma escolha sórdida porque, nessa equação, pouco importam o bem-estar da população e o número de vítimas fatais. Ocupa-se exclusivamente de sua sobrevivência política.

Só que está errando estupidamente na dose. Fazendo o que faz, é pouco provável que sobreviva politicamente à pandemia. Afinal, aos cadáveres que se acumulam e ao medo que toma conta da sociedade, ele resolver somar uma crise política com sua assombrosa irresponsabilidade. 

Convidado a comentar a declaração do presidente, Mandetta foi igualmente duro:
"Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala; quem não tem, como eu, trabalha".
É, sim, uma resposta de quem já está no limite. Obviamente, pode-se ter um mandato popular e trabalhar ao mesmo tempo. O ministro conta hoje com o apoio da esmagadora maioria do Congresso — homens e mulheres com mandato. 

O que está dizendo, por óbvio, é que decidiu fazer escolhas técnicas, deixando o populismo e a demagogia para quem deles pode se ocupar. Mandetta já havia deixado claro a Bolsonaro que não iria se demitir. Se o presidente quiser, que o demita. Tomara que não aconteça. 

Logo mais, está prevista a participação do ministro na coletiva diária que trata do combate ao coronavírus. Dado o conjunto da obra, resta torcer para que não decida cair fora. 

Não há hipótese de o Brasil ficar mais seguro caso Bolsonaro venha a substituí-lo por alguém afinado com as suas convicções sobre epidemiologia e a crença na resistência de brasileiros quando nadam no esgoto. (por Reinaldo Azevedo)

4 comentários:

Anônimo disse...

E se essas aparentes contradições do (des)governo bozo não passarem de um teatro ensaiado.

Sim, pois de uma lado o (des)governo diz que é uma gripezinha, mas oficialmente vai encaminhando as alterações na legislação.

O que estaria por trás desse teatro ?

Um dos motivos, acredito, seja o temor do descontrole nos presídios, como já ocorreu no litoral e interior de sp. Então o bozo sai divulgando lives da gripezinha. Ao mesmo tempo em que supõe-se que este (des)governo deseje realmente o morticínio dos presos e dos miseráveis, e também dos velhinhos aposentados.

Sempre lembrando que o bozo não passa de um títere dos generais de gabinete.

celsolungaretti disse...

Eu não percebo nenhum projeto de tomada de poder por parte dos militares neste momento. Se o Bozo exacerbar suas loucuras, eu acredito até que eles possam intervir, mas para enxotar o maluco e empossar o vice, como presidente constitucional e não como ditador.

E cada vez mais o coronavírus se revela uma ameaça para o conjunto da população, não apenas para os miseráveis e velhinhos aposentados.

A prioridade absoluta hoje é a retirada do bode da sala. Todo o resto vem depois.

Anônimo disse...

O bozo definitivamente não vai sair. O vice sem nenhum carisma empossado, ficará escancarado à população que as FFAA trouxeram o caos.

As FFAA estão confortavelmente à sombra do clown, aliadas ao grande capital e descendo o sarrafo no povo trabalhador (com stf, com tudo).

celsolungaretti disse...

Anônimo das 15h17,

o Bozo definitivamente VAI sair. Quando a pandemia for chegando ao auge e a população o culpar pelo morticínio, ele perderá a cabeça, falará mais bobagens ainda, tentará um autogolpe, vai entrar em parafuso (qualquer dessas opções ou mais de uma).

Aí, ou o forçarão a renunciar ou o interditarão por insanidade mental (impeachment é lento demais). Deixarem o Brasil esfarelar é que não vão.

É tão previsível o desmoronamento psíquico dele quando chegar a hora da verdade que fico inconformado com a pusilanimidade do círculo do poder! Por que esperar o pior? Por que não se livrarem logo de quem nunca, em momento nenhum, esteve à altura do cargo?

Se ele fosse de esquerda, já teriam derrubado. Como é de direita, ficam esperando a situação deteriorar ao máximo antes de agirem.

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