quarta-feira, 15 de abril de 2020

HOJE EM DIA, O DÓLAR ESTADUNIDENSE NADA MAIS É DO QUE UMA ABSTRAÇÃO ELEVADA À MÁXIMA POTÊNCIA – 2

(continuação deste post)
A DÍVIDA PÚBLICA MUNDIAL E A CRISE ECONÔMICO-SANITÁRIA – Os países devem muito mais do que podem pagar e suas dívidas vêm aumentando ano a ano. 
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Isto se dá porque a chamada economia real  (produção de mercadorias e serviços) não produz valor no nível suficiente para gerar impostos capazes de suprir os gastos estatais no cumprimento de sua função estratégico-constitucional na ordem capitalista, qual seja a manutenção dos onerosos poderes republicanos (executivo, legislativo, judiciário e sistema eleitoral) e demais funções constitucionais: 
— custeio da perdulária máquina pública (alugueis, combustível, materiais, etc.)
 custeio da infraestrutura de indução à produção mercantil (financiamento bancário, estradas, portos, aeroportos, energia, abastecimento d’água, construção e manutenção de logradouros públicos, etc.);
 gastos militares com armamentos, edificações e respectiva conservação, salários e custos de manutenção da tropa;
 juros da dívida e suprimento dos déficits previdenciários; e
 gastos com demandas sociais de educação, saúde e segurança pública (cada vez mais precárias). 

O poder público somente não decreta autofalência porque a arrecadação de impostos é perene (pelo menos enquanto durarem as relações de produções capitalistas), mas o déficit constante faz com que amiúde ocorram calotes, até chegar-se ao calote final, que será a impossibilidade de pagamento dos juros da dívida ou da própria dívida e implosão do padrão monetário. 

Se considerarmos os PIBs dos países mais endividados, que são justamente os mais ricos, vamos constatar que algumas centenas de USD trilhões compõem a dívida pública e privada mundial.

Os Estados Unidos, com seu PIB em torno de USD 20 trilhões e dívida pública de mais de 100% sobre o PIB, é o vagão condutor desse trem descarrilado; nem por isto deixa de ter a sua moeda acreditada, justamente porque a mesma serve de referência para todas as transações mundiais. 

A China, como vimos, segue a mesma trilha. 

A União Europeia, totalizando cerca de 450 milhões de habitantes (os mais desenvolvidos e culturalmente aquinhoados do mundo), tem dívida pública aproximada de USD 12 trilhões, uns 80% sobre o PIB.

O Japão, com PIB anual em torno de USD 5 trilhões, tem uma dívida pública de 200% do PIB, ou seja, de cerca de USD 10 trilhões. 

Somente a soma da dívida pública desses representantes mundiais da produção mercantil totaliza mais de USD 60 trilhões, com o agravante de que a economia real é incapaz de gerar lucros e mais-valia suficientes para reduzi-la ou, mesmo, estabilizá-la: pelo contrário, sobe ano a ano. 

Por ora se sustenta graças à emissão de moeda sem lastro e aos juros baixos e até negativos das aplicações financeiras dos rentistas, cujo capital está desempregado por falta de viabilidade econômica de investimento lucrativo na economia real. 

Dividindo somente a dívida pública dos países acima citados pela população mundial, constataremos que cada ser humano estaria devendo cerca de R$ 8 mil, mesmo deixando de fora o restante da dívida mundial, o que dá bem a dimensão da insolvabilidade. 

Entretanto, para os países da periferia capitalista (cerca de 70% da população mundial), a realidade de suas dívidas é diferenciada. 

Embora em menor escala de país para país, a dívida da periferia capitalista representa um volume expressivo de dívida, sobre a qual pesam juros sufocantes para as suas economias, sem que possam emitir moeda nacional sob pena de explosão inflacionária. 

Somente o Brasil, que tem déficit orçamentário estatal de R$ 100 bilhões, paga juros de R$ 400 bilhões ao ano. Uma extorsão internacional à qual somos obrigados a nos submeter para evitarmos retaliações internacionais creditícias. 

O mesmo se passa com os demais países, e o quadro ainda piora no caso das economias mais frágeis. Esta é a realidade das leoninas relações capitalistas internacionais, às quais os economistas liberais como Paulo Guedes se alinham sem nenhum pejo. 

É neste cenário que entra um elemento inesperado: a crise sanitária planetária que paralisa a economia mundial. 

Como já dissemos exaustivamente noutros artigos, o valor necessita de circulação e aumento de volume para sobreviver na sua autofagia social.

Mas, de repente, aparece um inimigo invisível, ao qual não se pode atribuir conteúdo ideológico (ainda que alguns terraplanistas insistam em delirantes teorias da conspiração) e se espalha pelo mundo, sem seletividade, obrigando linearmente a paralisação das frenéticas relações mercantis. 

Ora, sem velocidade, a bicicleta mercantil escravista perde equilíbrio e cai, posto que a economia real deixa de produzir mercadorias e valor, agravando e acelerando aquilo que já vinha sendo anunciado: o atingimento do limite interno da expansão capitalista, causado por seus próprios fundamentos contraditórios. 

É o próprio Fundo Monetário Internacional, de insuspeita ligação com os interesses capitalistas, quem prevê uma queda no PIB mundial em torno de 3% para 2020, numa análise otimista. 

Para o Brasil a previsão é ainda mais inquietante: queda de 5,5% no PIB.

A paralisia da economia torna necessária, para cobrir os déficits públicos e salvar empresas e pessoas sem renda nenhuma, a emissão desembestada de moeda sem lastro, superando inclusive as emissões efetuadas tanto na depressão de 1929/1930 quanto na crise do subprime de 2008/2009. Isto pode se tornar insustentável já no médio prazo. 

Por um período breve ainda será possível que o capitalismo sobreviva artificialmente por aparelhos, mas, persistindo a paralisia, faltarão equipamentos de socorro (tal qual está ocorrendo nos hospitais sobrecarregados pelas vítimas da Covid-19).

O desespero dos que querem jogar a população para o abismo da contaminação comunitária genocida advém da constatação de que as moedas (pseudo) representativas do valor implodirão e eles sucumbirão juntos.  (por Dalton Rosado)

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