Por Celso Lungaretti |
Não estamos sob ameaça nenhuma de fascismo ou nazismo; isso não passa de diversionismo.
A transição em curso no Brasil atual é a de renúncia a quaisquer veleidades de nos ombrearmos às nações realmente poderosas sob o capitalismo e nossa resignação ao papel de vira-latas e periféricos, a oscilarmos na órbita dos EUA e dos países prósperos da Europa e Ásia.
Para nos colocarem de novo no lugar que nos cabe dentro da ordem capitalista internacional, os poderosos elegeram, mediante artifícios e ilegalidades, um governo de fanáticos e palhaços. Aos ditos cujos compete distrair a atenção do respeitável público enquanto cada vez mais somos enxotados da casa grande e devolvidos à senzala.
Os fanáticos sonham mesmo com um fascismo pleno, mas não são eles que mandam. O poder econômico os mantém sob suas rédeas, ora dando-lhes mais liberdade de ação, ora forçando-os a recuos. Alguma truculência é consentida, para manter abúlicos os dominados; se a dose for excessiva, a rejeição lá de fora prejudicará os negócios daqui de dentro. Simples assim.
Os palhaços, como o Bozo, apenas fazem palhaçadas: fingem-se de fanáticos mas, na verdade, priorizam o tempo todo seus interesses, pouco se lhes dando as ideologias.
Usam-nas na exata medida de suas conveniências, ora prometendo combater a corrupção para ganhar eleições, ora sabotando o combate à corrupção quando urge salvar filhos e parças das grades.
Enquanto for mantido o arranjo atual – neoliberais extremados reformatando o Brasil no sentido da subjugação total às determinações dos donos do mundo e a trupe mambembe encenando vilanias caricatas para que nossa intelligentsia exerça o direito de espernear e sinta-se virtuosa não fazendo absolutamente nada de concreto contra mudar o estado das coisas – nada de substancial acontecerá.
Todos eles estão na zona de conforto, tanto os donos do PIB quanto os serviçais incumbidos de manter a ilusão de que os Poderes da República hoje sejam algo além de biombos atrás dos quais o poder econômico se esconde para movimentar os cordões dos seus títeres executivos, legislativos e judiciários.
Quem extraiu as conclusões corretas do impeachment da Dilma sabe que, acreditando na redenção pelas urnas, continuaremos, qual Sísifos, empurrando a pedra até o topo da montanha apenas para vê-la despencar pelo outro lado. O sistema faz, desfaz ou coopta presidentes como e quando quer.
Que ninguém se iluda: a libertação de Lula só se deu no momento em que ele passou a ser mais conveniente para os poderosos solto e tangendo toda a oposição para o monumental desperdício de tempo que será levar a sério as eleições municipais de outubro próximo.
A resposta, como sempre, está onde o povo está. Ou fazemos a esquerda reviver nas escolas, nas ruas, campos, construções, como contestação autêntica aos desígnios da Nova Ordem, ou patinaremos sem sair do lugar por três outros intragáveis e intermináveis anos (talvez mais!).
Os manifestantes de junho de 2013 eram o futuro e o PT fez sua opção irremediável pelo passado ao deixá-los entregues à sanha de governadores e judiciários estaduais reacionários ao extremo.
Isto o matou, enquanto força de possível oposição aos desígnios capitalistas que ora estão nos sendo enfiados goela abaixo; embora não se reconheça como tal, seu papel hoje é de mera força auxiliar do capitalismo.
Enquanto depositarmos nossas esperanças em esforços para ressuscitar um morto, mortos também estaremos nós. (por Celso Lungaretti)
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