terça-feira, 7 de janeiro de 2020

BOZO ANO 1: AS BASES DA RECUPERAÇÃO ECONÔMICA FORAM MESMO ASSENTADAS OU ESTAMOS SENDO ILUDIDOS? (parte 2)

(continuação deste post)
SOBRE O RESULTADO DO PIB no início do ano de 2019, as previsões menos otimistas para o crescimento anual do Produto Interno Bruto se situavam em torno de 2,2%. 

Contrariando o wishful thinking de sempre, a evolução do PIB foi negativa (-0,2%) no 1º trimestre do ano passado e insatisfatória tanto no 2º ((0,5%) quanto no 3º (0,6%). Embora os números do 4º trimestre ainda não estejam fechados, os expertos estimam que o crescimento anual ficará entre 1,1% e 1,2%. 

Segundo as análises dos organismos econômicos internacionais de insuspeita tendência capitalista como o FMI e a OCDE, que projetam um menor crescimento do PIB mundial para 2020, são inconsistentes as previsões que novamente jogam para cima as taxas de crescimento do PIB brasileiro (fala-se em 2,2% ao ano). 

E o pior é que tal patamar, mesmo que atingido, seria diminuto, já que tivemos uma redução global do PIB de 4,8%, somando-se todos os anos desde 2014.  

Na verdade, o renitente baixo crescimento do PIB brasileiro, na faixa de 1,0% ao ano (como veio ocorrendo em 2016, 2017, 2018 e 2019 sob o presidente Temerário e o capitão Boçalnaro, o ignaro), evidencia uma incapacidade de retomada do desenvolvimento econômico brasileiro após o período de forte recessão nos últimos anos do governo Dilma Rousseff.

O Brasil não tem competitividade na guerra comercial fratricida pela venda de manufaturados que agregam valor. Isto ocorre pela contradição de sermos uma país ao meio do caminho nas relações de produção de mercadorias, ou seja, temos uma elite política e judiciária cara, altos níveis de concentração de renda, um Estado burocrático e oneroso, altos índices de analfabetismo escolar e incipiente educação científica.   

Desejado pelos empresários e políticos de todos os matizes, que tanto querem ver o capitalismo tupiniquim dando certo, o Brasil está fadado, isto sim, ao fracasso, já que estamos sob a égide das relações mercantis em processo de dessubstancialização mundial.

Contraditoriamente, precisamos com urgência dessa impossível retomada do crescimento sob pena de termos uma redução drástica da renda média nacional, uma precarização dos serviços públicos (vale destacar que, mesmo com a reforma impingida aos brasileiros, os custos da Previdência Social continuarão altos) e a inadimplência de compromissos com o pagamento de juros da dívida pública – esta última acarretando retaliações nacionais e internacionais do sistema de crédito. 
Destarte, diante do quadro recessivo internacional, e da idiossincrásica política de relações comerciais exteriores, entendo que são infundados os prognósticos otimistas baseados apenas na melhora dos resultados nos dois últimos trimestres, que se deveu principalmente à liberação dos recursos do FGTS para saque por uma população assalariada de baixa poder aquisitivo e muita carência represada de consumo.

Tal bônus politiqueiro rapidamente movimentou o comércio, mas sem perspectiva de continuidade sustentável por tratar-se de distribuição monetária pontual única.

Confirmando os prognósticos sombrios, no exato momento em que escrevo essas mal traçadas linhas, eis que os EUA, sob as ordens do presidente destrumpelhado, assassinam o comandante militar supremo do Irã, o general Qasem Soleimani.

Tal fato pode desencadear uma nova guerra no mundo árabe, com repercussões ainda mais negativas na combalida economia mundial, de vez que atingiria a questão energética dos combustíveis fósseis petrolíferos, que apesar de altamente poluente da atmosfera, ainda é, infelizmente, principal fator de movimentação econômica da produção industrial e do grande comércio por essa mercadoria.

Irã (dos fundamentalistas religiosos do Islã) e Estados Unidos (policiais do mundo e aliados da Arábia Saudita, do criminoso Mohammed Bin Salman) travam uma disputa pela hegemonia nos países árabes, que ora pende para o Irã; e as nações do mundo se dividem entre apoiadores e opositores dessa luta insana, com argumentos que correspondem aos seus interesses econômicos imediatos ou estratégicos como se fossem verdades absolutas que tudo justificam.

É sempre assim: dois governos regidos pela ambição de riqueza abstrata se digladiam numa luta de morte e esperam que tomemos partido por um ou outro lado. 

Os emancipacionistas somos contra a guerra e contra seu móvel assassino, a acumulação ad infinitum da riqueza abstrata como forma de poder político-econômico nacionalista e excludente. 
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COMÉRCIO EXTERIOR (balança comercial) o Brasil ainda é um país exportador de matérias primas por excelência. Nossas exportações de manufaturados que agregam valor é pouco representativa se levarmos em conta a nossa população, extensão territorial e valor total de PIB, que nos coloca entre as dez maiores economias do mundo.

Temos uma produção e comércio interno que nos salvam precariamente. 

Já as nossas exportações foram afetadas pela guerra comercial entre EUA e China e pela depressão econômica argentina, nossa grande compradora de manufaturados. É graças a isso e à precarização das nossas estapafúrdias e contraditórias relações exteriores, aliada à queda do PIB mundial, que vimos decrescer o saldo da nossa balança comercial em 2019.

Para se ter uma ideia dessa involução, tivemos em 2019 o menor superávit da balança comercial desde 2015: US$ 46,7% bilhões (exportamos US$ 224 bilhões e importamos US$ 177,3 bilhões). Comparativamente a 2018, houve uma acentuada queda de 19,8%.

E, se em 2019 aumentamos em 52,7% nossas exportações de commodities (matérias primas como minerais), tivemos uma queda de 34,6% na exportação de manufaturados. 
Ainda em 2018 Cuba recebia novas carroças Lada...

Sendo as primeiras bem menos valorizadas do que as segundas, isto explica a involução registrada. O mundo industrializado vende mais caro seus produtos em relação àqueles que compra como commodities; tal relação é o retrato da injustiça intrínseca às relações comerciais, que não são nem um pouco isonômicas.

Che Guevara já denunciava essa falta de paridade entre o açúcar cubano o os caros carros Lada soviéticos, entre outros produtos manufaturados que a ilha caribenha não podia produzir. O comércio exterior é uma guerra comercial e nele nem de longe existem fraternas relações bilaterais.  (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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