terça-feira, 8 de outubro de 2019

O BOLSONARO DOS EUA SERÁ EXPELIDO VIA IMPEACHMENT OU ELEIÇÃO. E QUANTO AO TRUMP DAQUI, CAIRÁ ANTES OU APÓS?

paul krugman
AÍ VEM A QUEDA
DE TRUMP
Quando não está delirando sobre como o Estado profundo conspira contra ele, Donald Trump gosta de se vangloriar sobre a economia, afirmando que conseguiu coisas sem precedentes. Entretanto, nenhuma de suas afirmações é verdadeira.

Apesar de o PIB e o emprego terem registrado um crescimento sólido, a economia de Trump simplesmente parece ter continuado uma longa expansão que começou sob Barack Obama. De fato, alguém que visse somente os dados dos últimos dez anos não imaginaria que houve uma eleição.

Mas agora está começando a parecer que Trump realmente realizará algo único: ele poderá muito bem ser o primeiro presidente dos tempos modernos a presidir uma queda que pode ser atribuída diretamente a suas próprias políticas, em vez de má sorte.

Sempre houve uma profunda injustiça sobre a relação entre economia e política: os presidentes levam tanto o crédito quanto a culpa por acontecimentos que geralmente têm pouco a ver com seus atos. 
Ele via a guerra comercial como "boa e fácil de vencer"

Jimmy Carter não causou a estagflação que colocou Ronald Reagan na Casa Branca; George H. W. Bush não causou a fraqueza econômica que elegeu Bill Clinton; nem George W. Bush é o principal responsável pela crise financeira de 2008.

Mais recentemente, a minirrecessão de 2015-16, uma queda na produção industrial que pode ter inclinado a balança para Trump, foi causada principalmente por uma queda nos preços da energia, mais que por alguma política de Barack Obama.

Agora, a economia dos EUA está passando por outra queda parcial. Mais uma vez a manufatura se contrai. A agricultura também sofre um duro golpe, assim como o transporte de produtos. A produção e o emprego em geral ainda estão crescendo, mas cerca de um quinto da economia está efetivamente em recessão.

Mas, diferentemente dos presidentes anteriores, que tiveram apenas a falta de sorte de presidir as quedas, Trump causou isto a si próprio, sobretudo ao optar por travar uma guerra comercial que, segundo ele, seria boa e fácil de vencer.
"Trump causou a si próprio os problemas que o derrubarão"
A ligação entre a guerra comercial e os problemas da agricultura é óbvia: os agricultores americanos dependem profundamente dos mercados de exportação, principalmente da China. Eles estão sofrendo muito, apesar de um grande resgate financeiro que já é mais que o dobro do resgate do governo Obama. (Parte do problema pode ser que o dinheiro do resgate está fluindo desproporcionalmente para as fazendas maiores e mais ricas.)

O transporte marítimo também pode parecer uma vítima óbvia quando as tarifas reduzem o comércio internacional, embora não seja apenas uma questão internacional; os transportes internos, em caminhões, também estão em recessão.

A queda na indústria fabril é mais surpreendente. Afinal, os EUA têm um grande déficit comercial em produtos manufaturados, então se poderia esperar que as tarifas, forçando os compradores a procurar fornecedores locais, fossem boas para o setor. É certamente isso o que Trump e seus conselheiros pensaram que aconteceria.

Mas as coisas não funcionaram assim. A guerra comercial claramente prejudicou a manufatura nos EUA. De fato, causou um dano consideravelmente maior do que até os críticos de Trump como o que vos escreve realmente esperavam.
"35% acreditarão nas desculpas que Trump inventar"

Os guerreiros comerciais trumpistas, ao que parece, não notaram dois pontos chaves. Primeiro, muitos fabricantes dos EUA dependem fortemente de peças e outros insumos importados; a guerra comercial está perturbando suas cadeias de suprimentos. 

Segundo, a política comercial de Trump não é apenas protecionista, é errática, criando uma grande incerteza para as empresas no país e no exterior. E as empresas estão respondendo a essa incerteza suspendendo os planos de investimento e geração de empregos.

Portanto, o tuiteiro-em-chefe estragou seu caminho, rumando para uma queda, mesmo que não seja uma recessão total, pelo menos até agora. Isso claramente o prejudicará politicamente, sobretudo por causa do contraste entre sua fanfarronice e a realidade não tão boa.

Além disso, a dificuldade na indústria parece estar ocorrendo especialmente nos estados indecisos onde Trump venceu por pequenas margens em 2016, dando-lhe o Colégio Eleitoral apesar de perder no voto popular.

Embora muitos presidentes tenham enfrentado adversidades econômicas politicamente prejudiciais, Trump é, como eu disse, original porque realmente fez isso a si próprio.
Sua linguagem corporal já é de derrotado

O que não significa, é claro, que ele aceitará a responsabilidade por seus erros. Nos últimos meses, ele tenta retratar o Federal Reserve [o Banco Central dos EUA] como a raiz de todo o mal econômico, embora as taxas de juros atuais estejam bem abaixo daquelas que seus próprios funcionários previram em suas projeções econômicas triunfalistas.

Meu palpite, no entanto, é que as acusações ao Fed se mostrarão ineficazes como estratégia política, até porque a maioria dos americanos provavelmente tem, na melhor das hipóteses, uma ideia vaga sobre o que é o Fed e o que ele faz.

Então, o que virá a seguir? Trump sendo Trump, podemos apostar que logo denunciará os dados econômicos preocupantes como fake news; eu não me surpreenderia ao ver pressão política sobre as agências de estatísticas para divulgar números melhores. Ora, se isso pode acontecer com o Serviço Nacional de Meteorologia, por que não com o Escritório de Análises Econômicas (que, a propósito, se reporta ao secretário de Comércio, Wilbur Ross)?

De uma forma ou de outra, isso se tornará mais uma conspiração do Estado profundo, provavelmente orquestrada por George Soros.

O assustador é que em torno de 35% dos americanos provavelmente acreditarão nas desculpas que Trump inventar. Mas não serão suficientes para salvá-lo. (por Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia)
"Cai, cai, cai, cai. / Eu não vou te levantar! /
Cai, cai, cai, cai. / Quem mandou escorregar?"

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