PARA A ESQUERDA COMBALIDA NÃO CONVINHA
A POLARIZAÇÃO COM A DIREITA SELVAGEM
De todos os alertas que lancei quando a esquerda cometia erros crassos de avaliação em episódios importantes, talvez o de pior desfecho tenha sido o da tramoia das Organizações Globo com os procuradores da Lava-Jato e Joesley Batista, secundados pelo bobo inútil Rodrigo Janot, para derrubarem o então presidente Michel Temer, em 2017.
Muitos inconformados com o defenestramento de Dilma Rousseff em benefício de Temer simploriamente apoiaram o conluio, rejubilando-se com a suposição de que a traição do vice iria ser vingada. Quanta ingenuidade! Quanto primarismo político!
Eu, desde o primeiro momento, posicionei-me a partir de algumas convicções básicas:
— o autoritarismo jacobino da Lava-Jato, cuja força política iria aos píncaros caso o golpe tivesse êxito, era uma ameaça muito maior para a esquerda do que a velha política do Temer;
— a esquerda necessitava de uma pausa para respirar e reconstruir-se após o contundente revés que sofrera com o impeachment da Dilma, e isto o governo morno de Temer lhe proporcionaria;
— poderia, então, chegar renovada às eleições de 2018, com chances expressivas de vitória;— já a derrubada do Temer causaria um forte abalo no chamado centrão, precipitando um confronto entre extremos: a esquerda combalida e aquela direita selvagem que dera o ar de sua desgraça nas manifestações pró impeachment (e estava prestes a mostrar, na paralisação dos caminhoneiros, quanta força acumulara desde então);
— cheguei mesmo a advertir que ir para o tudo ou nada com a extrema-direita naquele momento era cometer o mesmo suicídio dos comunistas alemães na década de 1930, quando torpedearam o centro apostando numa vitória quando restassem apenas eles e os nazistas na arena, mas acabaram foi pavimentando o caminho para a consolidação de Hitler.
Temer acabou não caindo, mas, para sobreviver às duas tentativas de impeachment, desgastou-se tanto que passou a comandar um governo zumbi, incapaz de tirar o Brasil da recessão econômica. E a direita moderada foi praticamente varrida de cena.
Estabeleceu-se, então, o cenário que eu mais temia: um duelo decisivo entre a esquerda que já dera terrível demonstração de fraqueza nas eleições municipais de 2016 (décimo lugar!!!) e a direita selvagem que capitalizava o descontentamento popular com os consecutivos anos de vacas magras, a corrupção escancarada do stablishment político e o governo catastrófico de Dilma Rousseff.
Deu no que deu. (por Celso Lungaretti)
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