quinta-feira, 19 de setembro de 2019

BOLSONARO JÁ ESTÁ DERROTADO NO FRONT ECONÔMICO E SEU DESCARTE PELOS 'DONOS DO PIB' É MERA QUESTÃO DE TEMPO

marina dias
DÚVIDAS SOBRE RETOMADA DA ECONOMIA E QUEIMADAS ATRASAM INVESTIMENTO
NO BRASIL
Investidores estrangeiros esperavam resultados objetivos da agenda econômica do governo Jair Bolsonaro para voltarem a colocar dinheiro no Brasil, mas a crise da Amazônia está atrasando ainda mais a aposta no país.

Analistas afirmam que, nas últimas semanas, dúvidas sobre as queimadas e o desmatamento na floresta —com repercussão internacional— estavam presentes em pelo menos 70% das conversas com investidores nos EUA e na Europa. O baixo crescimento da economia brasileira, porém, ainda é o principal motivo para afastar o aporte de recursos no país.

"O Brasil tem boas perspectivas, mas o fato é que a economia ainda não reagiu. Muita gente que esperou até agora [para investir], pensa que o Brasil parece um emergente melhor, mas os números não estão lá para provar isso. Quando aparecerem, talvez a gente consiga se destacar dos outros emergentes e receber um pouco mais de fluxo", afirma Carlos Sequeira, chefe de pesquisa de ações para a América Latina do BTG Pactual.
Apesar do avanço da reforma da Previdência no Congresso —aprovada na Câmara e com previsão de chancela do Senado—, as previsões do Produto Interno Bruto do Brasil estão abaixo de 1% para este ano e, para 2020, o índice está em torno de 2%. 

Os dados estão acompanhados de baixa produtividade e pouco estímulo fiscal, o que afugenta investidores externos.

De acordo com os especialistas, a mensagem aos donos do dinheiro hoje é que o Brasil vai crescer devagar, mas continuamente, e que logo as reformas e abertura de mercado propostas pela equipe do ministro Paulo Guedes vão ter reflexo nos números macroeconômicos.

A avaliação é que a confiança dos investidores em relação ao país têm aumentado mas, com a escalada da crise da Amazônia, foi preciso acrescentar à retórica otimista mais explicações para tentar manter o quadro.

Nesta 4ª feira (18), p. ex., 230 fundos de investimento —que juntos administram cerca de US$ 16 trilhões (R$ 65 trilhões)— pediram ao Brasil que adote medidas eficazes para proteger a região da floresta.

Chefe de renda variável para a América Latina do BTG Pactual, Will Landers afirma que os esclarecimentos recorrentes servem para dissipar as preocupações e evitar qualquer impacto maior em possíveis investimentos.

Durante evento nesta semana em Nova York, diversos analistas fizeram uma avaliação uníssona de que não haverá uma enxurrada de capital estrangeiro no Brasil —como era esperado após a eleição de Bolsonaro— mas que o cenário de crescimento pequeno, porém, constante pode se converter logo em investimentos.

Nenhum deles arrisca uma data para que isso aconteça, mas Landers, p. ex., diz que o Brasil deve recuperar seu grau de investimento entre 2021 e 2022, o que seria mais um estímulo para o aporte de capital externo.

Os especialistas dizem ainda que a possibilidade de recessão global —agravada com a guerra comercial entre EUA e China e a imprevisibilidade do Brexit— é outro ingrediente na carteira de investidores que evitam o Brasil.

Quando o mundo entra em desaceleração, países emergentes são os mais afetados e, de acordo com os analistas, essa percepção é maior do que qualquer agenda liberal que agrade a empresários e investidores.
"Na hora que o investidor estrangeiro fala que tem que tirar o risco da mesa, [investir no] mercado emergente é justamente aumentar esse risco. Não importa que o Brasil está melhor que os outros, se tem agenda melhor que os outros. 

O fato é que o Brasil entra na categoria mercados emergentes, que está menos em voga porque as pessoas estão com medo [de arriscar diante da iminência de uma crise global]", conclui Sequeira. (por Marina Dias, de Nova York)
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Toque do editor: esta notícia da correspondente da Folha de S. Paulo em Washington dá uma boa ideia das muitas ressalvas que os poderosos da economia fazem à retórica otimista do mercador de ilusões Paulo Guedes.

A perspectiva dos que decidem se haverá novos investimentos ou a economia continuará marchando devagar, quase parando é de que o PIB feche este ano com um aumento irrisório de 1% e, quanto muito, avance 2% em 2020. 

Para as necessidades de um povo que amarga as consequências de um crescimento insuficiente desde 2003 (último ano em que o aumento do PIB foi minimamente aceitável, 3%), isto é receita certa de conflitos e distúrbios.

"receita certa de conflitos e distúrbios"
Embora os analistas econômicos da casa grande esforcem-se por irradiar um mínimo de otimismo (faz parte da função), o papo será bem diferente quando, na virada de 2019 para 2020, longe dos repórteres, estiverem ajudando os grandes empresários  a resolverem se apostam mais um ano em Bolsonaro ou dão início à Operação Retirada do Bode da Sala.

Meu palpite é que tomarão decisão idêntica à que tomaram na virada de 2015 para 2016, quando selaram a sorte de Dilma Rousseff, pelo mesmíssimo motivo: estava prejudicando os negócios. (por Celso Lungaretti)

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