david emanuel coelho
JUROS NEGATIVOS: O MUNDO À BEIRA
DO ABISMO
Procurando um artigo que explicasse bem o precipício que ameaça a economia mundial, gerando uma sinistrose que rapidamente se espalhou pelo planeta, encontrei no boletim Crítica da Economia uma análise impecável: Alucinações circulatórias da moeda e do capital fechando o ciclo, assinado por José Martins, da equipe de redação.
É, contudo, longo e um tanto complexo para os leitores não familiarizados com a macroeconomia. Recomendo aos iniciados nessa seita que leiam o texto inteiro, clicando no título destacado em vermelho no parágrafo acima.
Para os demais, aí vai uma síntese que preparei, intercalando passagens do artigo do Martins com outras que criei. Espero que ela lhes dê uma noção satisfatória do fenômeno que fez soar tantos alarmes ao mesmo tempo.
Na última semana, mercados ao longo do mundo entraram em pânico diante da queda brusca de juros de longo prazo, movimento que historicamente tem se verificado momentos antes do fim de um ciclo de acumulação, como um indício de crise iminente.
Normalmente, os juros de longo prazo costumam ser maiores que os de curto, visto ser o empréstimo futuro mais arriscado. Quem se arrisca mais, aposta na possibilidade de receber retorno maior
Aqui, precisamos lembrar da natureza dos juros. Eles são o custo efetivo do dinheiro e, portanto, quanto maiores forem, mais caro se torna o dinheiro.
Caso consideremos a taxa básica de juros, determinada pelos bancos centrais ao redor do mundo, teremos a ideia do custo do dinheiro para a população em geral. Hoje, nas grandes economias do mundo, os juros encontram-se em níveis baixos, próximos a zero em alguns países, significando que o custo do dinheiro é muito baixo.
No entanto, na última semana uma coisa muito curiosa se passou. Os juros básicos futuros passaram a ser negativos! Isso significa que os credores aceitaram pagar para emprestar dinheiro ao governo.
Ora, mas por qual motivo alguém, em sã consciência, pagaria para emprestar dinheiro? O único motivo possível é a antecipação de uma brutal recessão futura, a qual significará mastodôntica perda de capital.
Neste cenário, os capitalistas preferem perder um pouco de seu dinheiro, mas preservar a maior parte do montante, aplicando o capital no lugar mais seguro da face da terra: os títulos públicos dos grandes países do capitalismo central.
O normal do mercado é que os capitalistas emprestem seu dinheiro ao governo com a promessa de serem pagos de volta, acrescidos dos juros, na data do vencimento. Juros positivos, portanto.
Mas agora, à medida que os capitalistas se tornam cada vez mais desesperadas por um porto seguro para sua propriedade privada ameaçada pela próxima crise, os governos de grandes economias é que são remunerados ao tomarem dinheiro emprestado. Com juros negativos!
O impacto disso não se restringe a tudo de nefasto que prenuncia, mas está também na tendência de gerar um efeito dominó. Os capitalistas correm para colocar seu dinheiro nos títulos públicos dos países centrais, com juros negativos, e secam a oferta de dinheiro no mercado. O investimento cai por temor, puxando para baixo a economia e, no fim, quando menos se espera, está o mundo inteiro afundado na recessão.
A fonte deste problema está na superprodução de capitais, motivo, inclusive, do barateamento do dinheiro. Com tanto capital disponível, o valor do dinheiro é puxado para baixo, gerando decréscimo da lucratividade capitalista.
Num ciclo econômico completo, a grande massa da superprodução de capital criada no período expansivo consiste deste dinheiro-capital ou (capital-fictício) que, nas fases finais de encerramento do ciclo, como agora, perde progressivamente sua autonomia relativa frente à produção de valor e de mais-valia, desvalorizando-se abruptamente.
Antecipa-se assim, na forma de uma crise de crédito e de uma gigantesca queima de capital, que ora se avizinha, a paralisação da produção e a depressão econômica propriamente dita.
A maior parte deste entesouramento de mais de US$ 15 trilhões, detectado pelo Deutsche Bank, é de dinheiro-capital, capital produtor de juros, que migra em quase sua totalidade de uma infinidade de ativos financeiros do mercado de capitais, sistema bancário, etc., para a segurança dos títulos públicos.
A crise financeira, com esgotamento do crédito e fuga dos capitais para títulos públicos é a antessala para a crise da produção real. A moeda perde seu valor justamente diante da queda generalizada de lucratividade.
O irracionalismo capitalista, mais uma vez, consome a si mesmo. (por David Emanuel de Souza Coelho)
Um comentário:
Bom dia.
É o G.E.E.L.E. - Global Economic Extinction Level Event.
O mais importante é preparar-se para os novos tempos e novas oportunidades que virão.
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