crítico e mente aberta, do artigo abaixo
do colunista Fábio Zanini, da
Folha de S. Paulo.
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É que ele enseja discussão das mais oportunas.
Então, no fim, proporei algumas reflexões,
abrindo o debate. (Toque do editor)
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fábio zanini
LIVRO INFANTIL ENSINA QUE IMPOSTO É ROUBO
Um dos gritos de guerra mais controversos de libertários, anarcocapitalistas e demais ultraliberais é que imposto é roubo.
Moralmente, defendem, não há distinção entre o Estado que recolhe tributos e o sujeito que entra numa loja e leva mercadorias sem pagar. Ambos estão se apropriando de parte da riqueza produzida por um indivíduo sem que ele tenha escolha.
Ensinar esse conceito a crianças é exponencializar a polêmica. Mas há quem esteja mexendo no vespeiro.
Desbravando o mundo livre e aprendendo sobre a lei é um livro infantil do autor libertário americano Connor Boyack.
No Brasil, a produtora gaúcha Brasil Paralelo, especializada na difusão de ideias de direita, comprou os direitos e o traduziu no primeiro semestre deste ano. Foram impressos 2.000 exemplares, que se esgotaram rapidamente.
É uma versão adaptada de um dos clássicos do liberalismo, A Lei, do francês Frédéric Bastiat (1801-50). Na história infantil, Fred, um simpático idoso, conversa com os irmãos Marcos e Sofia, seus vizinhos, que o procuram para fazer um trabalho escolar.
Ele começa então a ensinar às crianças o que são direitos de um indivíduo. “Ter direitos significa que existem coisas que eu posso fazer e ninguém pode me impedir”, diz.
Teoricamente, afirma Fred, quem deve proteger os direitos das pessoas é o governo. Mas o que acontece quando homens maus estão no governo?, pergunta.
Para ilustrar a teoria, Fred leva os irmãos à sua horta. Se Maria, a vizinha, roubasse tomates, seria errado, diz ele. E se um policial viesse junto, continuaria sendo errado, prossegue. “Roubar é sempre errado”, escreve o garoto Marcos em seu caderninho, assimilando a lição.
Ou seja, não importa se é um agente do governo que tenta tomar algo sem permissão. Isso não é justo.
“As pessoas más no governo pegam as minhas coisas e dão a outras pessoas sem a minha permissão”, ensina o idoso.
“Mas quem faz isso são os piratas!”, diz Marcos. “Sim, Marcos, piratas roubam coisas –isso é chamado de espoliação. E quando os agentes do governo o fazem, chamamos de espoliação legalizada”, concorda Fred.
Ele arremata sua conclusão dizendo que “quando as leis permitem que haja espoliação, as pessoas voltam-se umas contra as outras”.
“Todos passam a querer receber, sem que haja algo em troca. Algumas pessoas deixam de trabalhar duro e esperam que o governo tome conta delas. Assim, as pessoas más no governo conseguem o controle de tudo”, conclui.
Em outras palavras, o que ele está ensinando é que imposto é roubo, embora o slogan polêmico nunca seja mencionado no texto. O argumento é que o poder do Estado de tributar os cidadãos é uma forma de opressão e um modo pelo qual se exerce controle sobre o indivíduo.
Muito mais correto, prega Fred às crianças, seria as pessoas doarem voluntariamente parte de sua riqueza para quem precisa. Sem que isso seja uma obrigação, um tributo.
Lucas Ferrugem, um dos sócios da Brasil Paralelo, me disse que há uma demanda muito grande por parte de pais de direita, ou liberais, por livros infantis que não estejam impregnados por uma visão esquerdista.
Por isso, a produtora, que surgiu fazendo vídeos e documentários, está querendo entrar no mercado de livros impressos... (por Fábio Zanini)
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celso lungaretti
ATÉ QUANDO DEIXAREMOS A ESTATOLATRIA
NOS ARRASTAR PARA O FUNDO DO POÇO?
Afora a relevante questão principal, secundariamente o texto do Zanini toca numa das feridas mais dolorosas da esquerda atual: a de ser vista na atualidade como identificada com um Estado que se torna cada vez mais execrável sob o capitalismo, deixando o terreno livre para a direita (!) apresentar-se como a alternativa às várias coerções por ele impostas aos cidadãos.
Assim, enquanto os liberais conscientes fustigam os impostos, os ultradireitistas toscos pregam a imposição ilimitada da lei do mais forte, com as pendengas sendo decididas a bala e os interesses econômicos prevalecendo sobre tudo e sobre todos.
Mas, foi se percebendo que a esquerda revolucionária crescia e se fortalecia mais rapidamente em alguns países do que noutros. E a Comuna de Paris, em 1871, revelou que a conquista do poder por parte da maioria da população não garantia sua manutenção, pois o Império Alemão correu a socorrer o governo rechaçado pelos parisienses e que se refugiara em Versalhes, dando-lhe os meios para virar o jogo e efetuar um bestial massacre.
Uma parte da esquerda começou então a admitir que Estados e forças armadas nacionais, burocracias governamentais, etc., continuassem existindo até que todas as nações se libertassem do capitalismo e se pudesse construir um mundo sem Estados, sem classes, sem fronteiras e sem quaisquer outras divisões artificiais, impostas coercitivamente aos seres humanos. Assim, as primeiras nações a se emanciparem garantiriam sua sobrevivência até que as demais fossem a elas se somando.
A chamada ditadura do proletariado tinha, na visão de Lênin, a missão de ir distribuindo aos poucos as funções governamentais entre o conjunto da população, de forma que o Estado fosse sendo continuamente esvaziado, até chegar-se ao momento de sua total extinção.
Não foi isto, claro, o que aconteceu: em todos os países que adotaram tal modelo, o poder acabou sendo usurpado por uma minoria de altos funcionários (quadros do partido, da tecnoburocracia, das forças armadas, etc.). Tal nomenklatura resistia encarniçadamente à redução de suas fileiras e de seus privilégios.
Enquanto isto, os regimes capitalistas se fortaleceram com os avanços científicos e tecnológicos, passaram a propiciar alguma melhora nas condições de vida dos explorados e os pecados do chamado socialismo real (com excesso de Estado e escassez de liberdade) permitiram que a mídia a serviço da burguesia fizesse da revolução um espantalho, tornando-a pouco atraente para os trabalhadores das nações prósperas.
A esquerda majoritária, cada vez mais, tendeu para a conciliação com o capitalismo, propondo-se apenas a distribuir aos explorados algumas migalhas a mais do que eles obtinham dos governos burgueses.
E, desistindo implicitamente da superação do capitalismo, optaram por fortalecer o Estado burguês e, a ele ascendendo pela via eleitoral, utilizarem-no para promover uma (parca) distribuição de renda e para atenuarem os males intrínsecos do capitalismo.
Onde tudo isso levou a esquerda? A lugar nenhum.
As ditaduras do proletariado foram esmagadas militarmente ou derrotadas economicamente, sobrevivendo apenas em nações de importância secundária na correlação de forças politico-econômica mundial, ou em formatos híbridos (autoritarismo político + traços capitalistas na economia, principalmente).
A social-democracia sucumbiu à crescente crise capitalista, pois, em tempos de vacas magras, deixou de existir uma fartura de migalhas para a esquerda domesticada distribuir a seus eleitores.
E a fé cega na democracia burguesa foi uma verdadeira armadilha para a qual a esquerda domesticada conduziu seus devotos, à medida que a burguesia jamais deixou de virar a mesa quando lhe deu na telha, utilizando tanta força quanto necessária (para derrubar um Allende foi preciso um banho de sangue, já para mandar a Dilma para casa bastou um piparote parlamentar).
Então, quando o desencanto com o Estado aumenta no mundo inteiro, há uma discussão muito importante a ser travada pela esquerda.
O que estamos esperando para resgatar a bandeira que era nossa nos tempos heroicos e largamos vergonhosamente no chão ao perdermos a confiança na possibilidade de superação do capitalismo?!
Ainda mais quando o regime da exploração do homem pelo homem está visivelmente nos estertores, com sua inviabilidade econômica se evidenciando cada vez mais... (por Celso Lungaretti)
Assim, enquanto os liberais conscientes fustigam os impostos, os ultradireitistas toscos pregam a imposição ilimitada da lei do mais forte, com as pendengas sendo decididas a bala e os interesses econômicos prevalecendo sobre tudo e sobre todos.
No entanto, o marxismo e o anarquismo eram libertários no século 19, propondo-se a livrar os homens de todo tipo de escravidão e sujeição. Acreditava-se que, irmanados pela terrível exploração que sofriam, os proletários de todos os países se uniriam para dar-lhe fim, mediante uma onda revolucionária que varreria o mundo.
Mas, foi se percebendo que a esquerda revolucionária crescia e se fortalecia mais rapidamente em alguns países do que noutros. E a Comuna de Paris, em 1871, revelou que a conquista do poder por parte da maioria da população não garantia sua manutenção, pois o Império Alemão correu a socorrer o governo rechaçado pelos parisienses e que se refugiara em Versalhes, dando-lhe os meios para virar o jogo e efetuar um bestial massacre.
Uma parte da esquerda começou então a admitir que Estados e forças armadas nacionais, burocracias governamentais, etc., continuassem existindo até que todas as nações se libertassem do capitalismo e se pudesse construir um mundo sem Estados, sem classes, sem fronteiras e sem quaisquer outras divisões artificiais, impostas coercitivamente aos seres humanos. Assim, as primeiras nações a se emanciparem garantiriam sua sobrevivência até que as demais fossem a elas se somando.
A chamada ditadura do proletariado tinha, na visão de Lênin, a missão de ir distribuindo aos poucos as funções governamentais entre o conjunto da população, de forma que o Estado fosse sendo continuamente esvaziado, até chegar-se ao momento de sua total extinção.
Não foi isto, claro, o que aconteceu: em todos os países que adotaram tal modelo, o poder acabou sendo usurpado por uma minoria de altos funcionários (quadros do partido, da tecnoburocracia, das forças armadas, etc.). Tal nomenklatura resistia encarniçadamente à redução de suas fileiras e de seus privilégios.
Enquanto isto, os regimes capitalistas se fortaleceram com os avanços científicos e tecnológicos, passaram a propiciar alguma melhora nas condições de vida dos explorados e os pecados do chamado socialismo real (com excesso de Estado e escassez de liberdade) permitiram que a mídia a serviço da burguesia fizesse da revolução um espantalho, tornando-a pouco atraente para os trabalhadores das nações prósperas.
A esquerda majoritária, cada vez mais, tendeu para a conciliação com o capitalismo, propondo-se apenas a distribuir aos explorados algumas migalhas a mais do que eles obtinham dos governos burgueses.
E, desistindo implicitamente da superação do capitalismo, optaram por fortalecer o Estado burguês e, a ele ascendendo pela via eleitoral, utilizarem-no para promover uma (parca) distribuição de renda e para atenuarem os males intrínsecos do capitalismo.
Onde tudo isso levou a esquerda? A lugar nenhum.
As ditaduras do proletariado foram esmagadas militarmente ou derrotadas economicamente, sobrevivendo apenas em nações de importância secundária na correlação de forças politico-econômica mundial, ou em formatos híbridos (autoritarismo político + traços capitalistas na economia, principalmente).
A social-democracia sucumbiu à crescente crise capitalista, pois, em tempos de vacas magras, deixou de existir uma fartura de migalhas para a esquerda domesticada distribuir a seus eleitores.
E a fé cega na democracia burguesa foi uma verdadeira armadilha para a qual a esquerda domesticada conduziu seus devotos, à medida que a burguesia jamais deixou de virar a mesa quando lhe deu na telha, utilizando tanta força quanto necessária (para derrubar um Allende foi preciso um banho de sangue, já para mandar a Dilma para casa bastou um piparote parlamentar).
Então, quando o desencanto com o Estado aumenta no mundo inteiro, há uma discussão muito importante a ser travada pela esquerda.
O que estamos esperando para resgatar a bandeira que era nossa nos tempos heroicos e largamos vergonhosamente no chão ao perdermos a confiança na possibilidade de superação do capitalismo?!
Ainda mais quando o regime da exploração do homem pelo homem está visivelmente nos estertores, com sua inviabilidade econômica se evidenciando cada vez mais... (por Celso Lungaretti)
6 comentários:
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A questão de fundo é a dualidade esquerda e direita, certo?
Fica claro desde o princípio que não se trata de valores e o valor mostrado no texto é Jusriça.
Ideia eterna e absoluta qie só a mente dual, que pensa em termos de esquerda/direita, não consegue alcançar.
Portanto, não se trata de perder o que a "dita" esquerda nunca teve: Justiça
O máximo que eles conseguiram foi julgar os seus semelhantes e criaram as falácias que permitiram demonizar o dialeticamente contrário, mas sem perder a tendenciosidade implícita.
A aceitação tácita e prática dos valores Bom, Belo e Justo nunca foi posta, posto que está acima da capacidade da mente dual já que são absolutos.
Se pelo menos, tivessem o empirismo científico e buscassem honestamente o ideal ainda vá.
Por isto que gosto de perguntar; "diante de Platão quem é Marx na fila do pão"?
Por fim posso asseverar que hoje e em todos os tempos o Valor e a Ideia vem sendo preservada. A espera...
SF,
nós não estamos na "República" do Platão, mas sim no circo de horrores do Bozo.
E a nossa mente só pode ser dual, já que um dos polos da dualidade, tão minoritário quanto poderoso, impede que o outro polo dê um fim às divisões artificiais e que não têm mais razão de continuar existindo.
No artigo eu estabeleço, explicitamente, como meta um mundo sem Estados-Nações, sem fronteiras, sem forças armadas, sem classes, sem nada daquilo que mantém os homens na pré-História da civilização.
Isto não é possível porque os exploradores se apropriam de uma fatia desmedida dos frutos do trabalho humano e utilizam tal imensidão de recursos para aperfeiçoarem os instrumentos de dominação.
Então, o que temos mesmo de discutir não são os conceitos ideais de "Belo", "Justo" ou o quer que seja, mas como proporcionar a cada um dos habitantes do planeta uma existência à altura da dignidade do ser humano, pois a barreira da necessidade já foi rompida e as condições materiais para tanto já existem.
Quando eu tinha 17 anos, cheguei a fazer cursinho para prestar vestibular de Filosofia. Mas, o espírito do tempo me conduziu para outra direção e hoje eu percebo que jamais me daria bem como um sábio no topo da montanha. Estava destinado a lutar nas ruas pelas causas justas, correndo os riscos inerentes à minha opção e sendo quase destruído em função disto; e não a elucubrar sobre os grandes desafios da humanidade nos confortáveis gabinetes acadêmicos.
A melhor frase que já escutei de um grande pensador é esta de Marx: "“Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de várias maneiras; chegou a hora de transformá-lo".
Abs.
Tranquilo.
Lembra que falei de empirismo?
Se algo resulta em mau para alguém, logo, não foi bom para ele.
Ocorre que para a mente dual é impossível entender um princípio simples assim.
Então, nós podemos ir além da dualidade quando temos critérios absolutos, ou seja, Valores.
O Bom resulta em benefício.
O Belo em beleza.
E o Justo em harmonia.
É fácil, basta querer entender. E ser coerente com a realidade.
A matemática também não é dual e pode ser entendida por qualquer um.
Assim, o fato é que não estamos condenados a dualidade.
Pô, companheiro, não há ponto de contato possível entre belas elucubrações desgarradas da realidade e a vivência de quem encarou o lado mais brutal das lutas pelas causas justas.
Você está certo, em termos de sua experiência de vida.
Para mim isso equivale a discutir o sexo dos anjos, a partir da minha.
O certo é que vc, no primeiro comentário, esnobou algo muito, muito distante de sua vivência e dos seus conhecimentos.
E aí entramos num diálogo de surdos porque a distância entre nossas trajetórias é enorme.
Melhor deixarmos pra lá. Vida que segue.
Caro CL,
Esse seu texto cabe como uma luva numa "puxada de orelha" no haddad, que acaba de levar um piparote da burguesia (condenação judicial) a qual ele quer servir por ambições pessoais.
O Haddad é patético.
Perdi totalmente o respeito por ele quando a campanha da Dilma, em 2014, satanizou a Neca Setubal, apresentando-a como uma "banqueira" cuja presença junto à Marina Silva estaria confirmando que ela estava no bolso do Itaú.
Acontece que a Neca jamais passou de uma herdeira que recebia sua participação nos lucros do grupo e ia aplicá-la em projetos educativos e ecológicos. Ou seja, era e é politicamente correta. Nunca apitou nada nos negócios do Itaú.
O pior de tudo é que, na eleição para prefeito paulistano em 2012, a Neca havia prestado ao Haddad a mesmíssima ajuda que estava prestando à Marina!
A retribuição do Haddad foi calar-se vergonhosamente, não dizendo uma palavra em sua defesa quando a propaganda falaciosa gratuita do PT mentia descaradamente sobre a Neca.
Nem quando era um molecote de 13 anos eu deixava de defender os injustiçados, independentemente de quaisquer outras considerações. O espírito de justiça sempre foi forte em mim.
E não acredito que pessoas com um caráter de merda possam ser úteis às causas do povo. De jeito nenhum!
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