Por Celso Lungaretti |
Como os leitores habituais deste blog sabem, considero e jamais deixarei de considerar Delfim Netto como um dos principais responsáveis pelo festival de horrores desembestado pelo AI-5, que deu à repressão ditatorial a certeza de que poderia executar, torturar, estuprar e barbarizar à vontade. Da assinatura de Delfim Netto no maldito decreto de 13/12/1968 escorreu muito sangue.
Mas, condenação eterna é coisa de fanáticos religiosos e só teme contágio quem não tem certeza de suas convicções. Jamais privo os leitores de textos inteligentes e oportunos em função do detestável ad hominem, até porque são poucos os encontrados hoje em dia, em meio à enxurrada de besteirol e de mais do mesmo. .
delfim netto
TUITERCRACIA
A verdadeira república democrática deve garantir a todos os seus membros: 1º) o pleno direito à vivência de sua cidadania, sem distinções identitárias; e 2º) a igualdade de oportunidades apoiada em políticas públicas que nivelam a capacidade cognitiva de todos, independentemente da história e da geografia de seus progenitores.
Todo cidadão sairá para a vida com os mesmos instrumentos para compreender o mundo. O ponto de chegada de cada um dependerá do seu esforço combinado com a sua sorte, e não mais das condições prevalecentes na partida!
Por que não se conseguiu, até agora, realizá-la?
Porque o homem costuma recusar, sem nenhuma razão objetiva, o conhecimento empírico quando este nega suas crenças pré-concebidas!
Por que uma mãe caridosa recusa para seu filho uma transfusão de sangue quando evidências empíricas de seus efeitos benéficos acumulam-se há pelo menos um século?
Por que um evangélico se recusa a aceitar o fato empiricamente comprovado de que a identidade sexual não é zero ou uma, mas todas as possibilidades e, por isso, quer curar o normal LGBT?
Todos utilizam o Twitter: líderes políticos, jornalistas, jovens e velhos, ricos e pobres
O governo Bolsonaro não quer aceitar que não há a forma de se construir uma sociedade civilizada sem políticas públicas focadas e apoiadas na evidência empírica, que obedece à metodologia científica universalmente aceita.
Como é evidente, a viabilidade da república república democrática depende da construção de um consenso de tolerância entre seus membros com relação a todas as diferenças identitárias, o que exige um contrato social: uma Constituição —uma lei à qual todos se submeterão— sob o controle do Supremo Tribunal Federal, ele mesmo submetido a ela.
Esse processo circular pode apresentar problemas lógicos insuspeitados quando há eventos dramáticos.
O que já era difícil antes do Twitter ficou muito pior. Todos o usam: líderes políticos, jornalistas, jovens e velhos, ricos e pobres.
Vivemos uma espécie de tuitercracia, que produz ondas de contágio que podem ter graves consequências, uma vez que estimulam as diferenças identitárias.
Sua voz é flutuante, inconstante e costuma trocar de sinal quase instantaneamente, o que desmoraliza e destrói as instituições que ainda restam da democracia liberal. Esta que está sendo substituída, lentamente, pela iliberal, que não prioriza a liberdade nem o devido processo legal.
Não vai terminar bem. (por Delfim Netto)
Um comentário:
Celso, a bem dizer, estou aproveitando a oportunidade para utilizar o conversor de voz em texto.
Incrível! Eu falo e o programa escreve.
Quanto a opinião de Delfim nada a acrescentar,se até você concorda quem sou eu para discordar.
Forte abraço fica com Deus.
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