sábado, 11 de maio de 2019

DEMÉTRIO MAGNOLI E REINALDO AZEVEDO, EM UNÍSSONO, PEDEM AOS MILITARES QUE SAIAM TODOS DO GOVERNO BOLSONARO –1

Toque do editor
O mundo dá muitas voltas. Quem, antes do impeachment da Dilma, imaginaria ver um dia Demétrio Magnoli e Reinaldo Azevedo irmanados na defesa da democracia brasileira, sugerindo formas de se conduzir à desgraça uma horda de fascistas destrambelhados?! 

Pois é o que fazem neste momento, quando ambos lançam artigos sugerindo aos militares aninhados no governo federal uma debandada coletiva, de forma a desequilibrá-lo de vez e empurrá-lo para a radicalização tão sonhada pelo Rasputin da Virgínia... mas que terminaria da mesmíssima maneira das tentativas autoritárias de Plínio Salgado em 1938 e Jânio Quadros em 1961: com derrota acachapante, por não levar em conta a real correlação de forças. 

Vale a pena os uma leitura atenta destes dois textos, que dão bons indícios das linhas de ação que estão sendo cogitadas e avaliadas nos bastidores.

E seus autores certamente não estão dando ponto sem nó, mas sim querendo reforçar uma tendência que já deve estar existindo na caserna, de ruptura com os bolsonaristas. 

Se tal ruptura for consumada, será a pá de cal no atual governo, que frustrou os poderosos da economia, está sendo emparedado pelo Congresso e pelo STF, conseguiu recolocar o movimento estudantil nas ruas, está assustando os evangélicos com o endeusamento das armas e ofendeu mortalmente figuras de grande prestígio nas Forças Armadas. 

Como as milícias das cidades e os proprietários rurais exterminadores de gente e destruidores da natureza não são suficientes para sustentarem governo nenhum, a queda passaria a ser questão de meses, talvez de semanas. (por Celso Lungaretti)
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demétrio magnoli
RETIRADA TÁTICA
A vitória de Temístocles em Salamina (480 a.C) preservou o mundo grego ameaçado pela Pérsia. O triunfo do macedônio Filipe 2º em Queroneia (338 a.C) unificou as cidades gregas e assentou as bases para a difusão cultural do helenismo. A invasão normanda foi concluída por William, o Conquistador na batalha de Hastings (1066), fonte mítica da moderna Britannia. 

Segundo uma interpretação exagerada, a civilização ocidental deve sua existência a esse trio de batalhas icônicas. Os generais do alto escalão do governo Bolsonaro certamente as estudaram —e, com elas, aprenderam o valor militar da retirada tática. É hora de aplicar a manobra à política.

O pacto dos generais com o capitão reformado nasceu de um equívoco fatal: os primeiros não entenderam a natureza do segundo. Bolsonaro jamais deixou de ser o fanfarrão estéril, turbulento e indisciplinável, afastado da corporação em 1988. 

A novidade é que, na curva final rumo ao Planalto, acercou-se de correntes populistas de extrema direita fundamentalmente hostis às mediações institucionais da democracia. Os generais pretendiam participar de um governo normal, enquadrado na moldura do Estado de Direito. De fato, participam de um governo cujo núcleo almeja subverter o Estado de Direito.
"o espalhafatoso bobo da corte"

Na rua ao lado, uma faixa da vovó Jurema promete trazer seu amor de volta. A filosofia política do Bruxo da Virgínia vale tanto quanto os búzios da vovó —e sua pregação era, até há pouco, um mero golpe de charlatanismo, com implicações exclusivas para seus seguidores ignorantes. Desde a ascensão de Bolsonaro, converteu-se em programa de governo. 

Os generais começam a entender que o conflito não é com o espalhafatoso bobo da corte, mas com o presidente e seu clã familiar. Falta-lhes, ainda, entender que a conciliação é impossível.

O bolsonaro-olavismo deplorou o impeachment parlamentar de Dilma Rousseff. Naquela hora, eles clamavam por uma intervenção militar definida não como golpe de Estado clássico mas como uma marcha sobre Brasília do povo e dos militares. 

Hoje, sonham transformar o governo Bolsonaro no ato inaugural de um Estado-movimento: um poder estatal não submetido ao limite das leis e consagrado à luta política permanente. Nessa ordem tresloucada de ideias, a barragem de artilharia virtual sobre o STF, a imprensa e os generais destina-se a preparar a marcha sobre Brasília —isto é, a ruptura do Estado de Direito.
Bolsonaristas queriam bisar Marcha sobre Roma. Sem chance!
Os populismos certamente são capazes de matar as democracias por dentro (Turquia, Hungria, Venezuela). No Brasil, porém, mais provável é que a revolução bolsonaro-olavista provoque a implosão do próprio governo Bolsonaro. 

Se os generais não querem aparecer como cúmplices do desastre, resta-lhes apelar à retirada tática.

Salamina foi uma simulação de retirada, que atraiu os barcos persas ao estreito da armadilha. Em Queroneia, uma breve ofensiva seguida por retirada da ala direita das forças macedônias abriu a cunha fatal entre as falanges gregas. Hastings tem algo de Queroneia, mas é difícil saber se a decisiva retirada temporária das forças normandas foi uma manobra planejada ou o resultado de um insucesso na ofensiva inicial. 

De qualquer modo, para os generais brasileiros, a solução não requer excessiva inventividade.

O governo Bolsonaro sustenta-se sobre o tripé formado pela equipe econômica, o superministério de Moro e a chamada ala militar. A remoção do terceiro pilar, pela entrega coletiva dos cargos, destruiria a estabilidade do edifício. 

A queda encerraria o levante dos extremistas, que confundem os ecos de seus tuítes com a voz do povo. Depois dela, ainda sobraria Mourão --e, portanto, a chance de construção de uma vereda política para o futuro.

Generais, mirem-se em Temístocles, o ateniense, Filipe 2º, o macedônio, e William, o normando. Retirem-se, antes que seja tarde. (por Demétrio Magnoli)

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