Algum destes poderá ter a mesma sina da Marielle? |
Muitos criticaram a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, de determinar a investigação policial dos achincalhes aos ministros daquela corte nas redes sociais.
Ignoravam, contudo, que o motivo real da medida não foi o alegado, mas outro bem mais grave, conforme revela o veteraníssimo jornalista Jânio de Freitas em sua coluna dominical:
"Não só agressões verbais são investigadas: embora o Supremo prefira o silêncio a respeito, há ameaças de morte a ministros e de violência a seus familiares como objeto principal do inquérito".
Ou seja, divulgou-se uma versão menos desairosa para o Brasil, pois país em que membro da mais alta corte é ameaçado por fanáticos desvairados de sofrer o mesmo destino da vereadora de uma das cidades mais importantes, só pode ser qualificado de república das bananas.
Eis a íntegra do artigo, que está simplesmente imperdível:
jânio de freitas
CORRESPONDÊNCIA DE GUERRA
"a alegação central para a prisão não tem veracidade" |
É guerra. Era previsível, omissões a tornaram inevitável. Mas, guerra embora, promete ser benfazeja. A Lava Jato inicial e suas extensões reagem ao retardatário entendimento, no alto Judiciário, de que combate à corrupção e abuso do poder repressivo são coisas diferentes.
A Lava Jato foi deixada livre para suas práticas indiferentes aos limites legais e ao bom senso, com violação de direitos civis, de exigências processuais e da ética (pessoal e jurídica). O desgaste, porém, não a atingiu, resguardada pela mídia; o omisso Supremo Tribunal Federal foi o desgastado —e afinal se assustou.
A interpretação generalizada das prisões encabeçadas por Michel Temer, ou do momento em que ocorrem, é a de resposta da Lava Jato contrariada por decisões recentes do Supremo. Se às prisões juntarmos o vazamento que atinge o ministro Luiz Fux, desencavado do depoimento inatual de um empresário, o propósito dos recentes atos e afirmações da Lava Jato está claro, dispensa interpretações.
Concomitante ao despertar do Supremo vê-se, portanto, que também na mídia, e daí na opinião pública, ações da Lava Jato já são identificadas com finalidades alheias à razão jurídica. É um passo pequeno, mas é avanço na direção de justiça. Ou, mais preciso, de menos injustiça. E não de política e sede de poder com armas da Justiça.
"Lima não pensaria nesse plano, quanto mais em tentá-lo" |
A Lava Jato acirra a guerra com os mesmos métodos que acabaram por provocá-la. O argumento mais forte para a prisão de Temer, p. ex., foi a continuação das práticas corruptas. Quais são os fatos comprovantes?
“Houve apenas uma comunicação do Coaf”, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, palavras de uma procuradora. “Mas esse fato, de acordo com o registrado pelo Coaf, aconteceu em outubro de 2018”. Logo, “é indicativo de que a organização criminosa continua atuando”.
Não é. Há cinco para seis meses, Temer ainda na Presidência, um fato foi indicativo de algo há um semestre, não do presente. Se houve o fato então, isso não indica a sua continuidade. A alegação central para a prisão não tem veracidade.
O tal fato de outubro seria a tentativa do coronel João Baptista Lima, visto como testa-de-ferro de Temer, de depositar R$ 20 milhões em espécie. É a velha história mal contada.
Levar essa quantia geddeliana a um banco; submetê-la na agência à confirmação do montante, no mínimo de 200 mil notas de R$ 100, sem recear uma complicação —um experiente como Lima não pensaria nesse plano, quanto mais em tentá-lo.
Em seu início, a Lava Jato plantou na mídia a apropriação de R$ 10 bilhões pelos três ou quatro dirigentes da Petrobras já identificados. A conta final não chega a 10%.
"abordagens espalhafatosas, com japonês da Federal" |
Ao bando “chefiado por Temer” é atribuída a quantia de R$ 1,8 bilhão. Em dinheiro “recebido, pedido ou prometido”. Está aí uma novidade, na soma do real com o imaginado. Pena que seja mais um truque nada sério, para uso da mídia.
São muitos os indícios de material concluído às pressas, para servir a uma finalidade não judicial.
A propósito, entre os motivos de reação da Lava Jato estão o inquérito sobre ataques ao Supremo e a determinação do ministro Alexandre de Moraes de levá-lo a resultados.
Inquérito e ministro muito criticados, mas ambos se justificam. Não só agressões verbais são investigadas: embora o Supremo prefira o silêncio a respeito, há ameaças de morte a ministros e de violência a seus familiares, como objeto principal do inquérito.
Ah, não se esqueça, em tudo isso, a gentileza da Polícia Federal. Esperou que Temer saísse, para prendê-lo fora das vistas da família e dos vizinhos. E não de manhãzinha.
Com Moreira, pelo mesmo cuidado, não o esperaram em casa. Apenas pararam seu carro em área de pouco movimento.
"nas duas modalidades de abordagem, a mesma autoridade maior" |
Nas duas ações, nenhum policial com metralhadora, granadas, gás e roupa sinistra. Nada como nas abordagens espalhafatosas a Lula e outros, pelo japonês da Federal e companheiros.
Nas duas modalidades de abordagem, a autoridade maior das operações era a mesma, o então juiz da Lava Jato e o hoje ministro da PF.
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