Neste momento em que o pau está comendo entre os grupos que disputam o poder no Governo Bolsonaro, um dos piores se desmoraliza a olhos vistos.
Refiro-me ao dos lava-jatistas, ou tenentes togados, que cometeram dois erros primários, incorrendo em ilegalidades várias e mostrando exatamente o que são e até agora não haviam deixado transparecer com tamanha nitidez: o embrião de um estado policial.
O preço que eles pagarão por seus dois passos em falsos — a tentativa de desviar R$ 2,5 bilhões da Petrobrás para uma fundação que certamente serviria para alavancar o projeto de poder que eles acalentam; e a prisão espetaculosa de Michel Temer num estágio de processo em que nada a justificava, apenas para mudar o foco do noticiário, intimidar adversários e dar demonstração de força — ainda não pode ser mensurado, mas tende a ser bem alto.
Enquanto isto, contudo, o outro dos piores se assanhava, conforme relato do excelente jornalista Vinícius Torres Freire. Trata-se daquele que prega o conflito e a rebelião das massas como necessários para o sucesso do governo de Bolsonaro.
Filipe Martins, com uma camisa negra... |
Assim, diz Torres Freire, um assessor que desfruta da intimidade presidencial chamado Filipe Martins divulgou no Twitter nove teses sobre a missão da ala antiestablishment do governo, qual seja a de derrubar a oligarquia, açulando as massas para exercerem pressão popular direta contra a velha política e seus representantes.
Eis, em azul, os trechos do artigo dominical de Torres Freire nos quais ele aborda o que pretendem os aloprados do bolsonarismo:
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O presidente e o núcleo ideológico de seu governo estão afinados. Trata-se do grupo comandado por seus filhos Carlos e Eduardo, que puseram Filipe Martins no cargo de assessor de assuntos internacionais de Bolsonaro, todos eles muito ligados ao influenciador digital Olavo de Carvalho.
Essa ala antiestablishment do governo, apelido dado pelo próprio Martins, disputa o comando do Itamaraty com os militares, procura dominar o Ministério da Educação e tentou controlar a Secretaria de Comunicação, que ocupa oficiosamente por meio de contas nas redes sociais. Acredita que o bolsonarismo é uma revolução nacional e popular; que seu instrumento é a democracia direta tuitada.
...bem mais elegante do que as usadas no século passado. |
"Há uma tentativa" de isolar e difamar a ala antiestablishment do governo, tuitou Martins, na 6ª feira, 22. O ataque a esse núcleo puro do bolsonarismo teria como objetivo quebrar a mobilização popular que elegeu Bolsonaro e o dispensou da aliança com os donos do poder.
Esse movimento seria o combustível do sucesso do governo, a única forma de fazer reformas liberais, aprovar o pacote anticrime e preservar a Lava Jato, argumenta Martins.
A mobilização popular, por sua vez, depende da agenda de ideias e valores da ala antiestablishment do governo. A cooperação com os oligarcas e a aceitação da velha política não seriam meios de romper com o sistema patrimonialista que existe há 500 anos.
É preciso, pois, que as diferentes alas do governo se organizem de modo a reforçar a pressão popular ao ponto de que os integrantes do sistema político temam por sua sobrevivência política. É necessário, em suma, mostrar que o povo manda, proclama Martins.
É um chamado para um levante virtual das falanges da ultradireita.
É um chamado para um levante virtual das falanges da ultradireita.
2 comentários:
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Uma coisa que me tranquiliza é saber que sua mente de estrategista está ao lado do povo e do bem comum.
Parece que a excelência alia-se com a decência a maioria das vezes.
Ainda bem!
Por outro lado, sinto que não ficou claro, na sua análise, se esse esforço da ultradireita será realmente implementado e se será restrito ao ambiente virtual.
Poderia aclarar melhor o assunto?
Excelência? Longe disto. Quando trabalhava, mesmo estando em posições de comando e/ou sendo o mais velho da turma, nunca deixei que me chamassem de outra forma que não fosse pelo meu nome. Brincava que, de outra forma, eu me sentiria muito velho.
O que o aprendiz do guru charlatão propõe é o desencadeamento de campanhas de intimidação virtual, para amedrontar os membros do Judiciário e do Legislativo. Mas, claro, algo assim acaba inspirando ações mais diretas, nas ruas.
Parece-me, contudo, que ele superestima em muito a disposição do povo em defender as bandeiras do Bolsonaro.
E também não creio que as Forças Armadas, em 2019, veriam com bons olhos a substituição dos Poderes da República pela turba organizada.
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