domingo, 31 de março de 2019

AO INVÉS DE ALGUM PLANO PARA TIRAR O PAÍS DO BURACO, SÓ UMA CACOFONIA ESDRÚXULA DE IDEIAS PRIMÁRIAS

encontro com a ditadura – 20
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david emanuel coelho
BOLSONARO É A CARA DA DITADURA MILITAR
A ordem do presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, de celebrar o golpe de estado de 1964 é apenas mais uma prova da nulidade moral desta figura. 

Bolsonaro jamais dissimulou sua admiração pelo regime ditatorial e, muito menos, sua paixão pelas torturas e assassinatos cometidos no período. Falharam, isto sim, as instituições nacionais, que nada fizeram ao longo de três década para extirpar da vida pública esta figura desclassificada. 

Não se poderia, portanto, esperar do escroque dublê de presidente algo além de mandar celebrar o início do regime que representa toda a sua visão política e humana. 

Bolsonaro foi produzido sob os efeitos da distensão na linha dura do regime. Esteve sempre em proximidade do agrupamento de militares torturadores e contraventores, os quais sentiam no bolso o fim da perseguição política indiscriminada.

Igual a eles, Bolsonaro também tinha planos de apelar ao terrorismo como forma de pressionar por aumento de salários. Descoberto, acabou expulso do Exército e tomou a política como caminho para enriquecer, mantendo as negociatas aprendidas nos quartéis, como revelam os recentes casos de laranjas e funcionários fantasmas

A ditadura foi uma grande escola de corrupção. Roubava-se à vontade, desde o nível pequeno ao maior. Qualquer um possuidor de uma chancela de autoridade tinha carta branca para impor sua propina ou pilhar como achasse melhor. 

Se fosse militar, a pilhagem dobrava de valor. E quem não achasse correto, poderia provar um pouco do porrete salvacionista, visitar as masmorras do regime, quiçá morrer de forma misteriosa... ou nem tanto. Até embaixadores poderiam sofrer tal sina. 

Bolsonaro teve aí sua lição primeira. Mas, houve outras. 

Ao regime não bastava ser truculento na prática, era preciso também o ser em teoria. Por isso, como bons legalistas que eram, fizeram questão de colocar na lei a validade da falta de lei. 

O AI-5 foi justamente isso, uma lei decretando a falta de lei. Durante sua vigência, predominava a vontade pura do generalato usurpador. 

E era deles que partiam as ordens para torturar e matar. Como revelarem documentos recentes, nenhuma tortura era feita Brasil afora sem antes ter tido o aval do presidente fardado. Afinal, hierarquia é tudo. 

Bolsonaro tem seus arroubos de também ele poder dar suas ordens de violência. Impossibilitado de assim agir sendo militar, se contenta em exercer a truculência pelo exemplo e, no máximo, tentando legalizar a matança de pobres e negros pelas forças de segurança. 

A ditadura também era covarde. Não tendo argumentos para se fazer impor, usava a força, e a usava ainda mais contra quem já estava detido. 

Amedrontada pelo povo, mudava regras eleitorais e pressionava sempre para evitar que os cidadãos exercessem sua efetiva vontade. 

Foi o que fez logo em 65, não convocando novas eleições; e voltaria a fazê-lo muitas vezes mais. A derradeira seria quando, já caduca, impediu, na base do suborno, a realização de eleições diretas para presidente. 

Sobre o presidente neofascista, não é preciso se alongar na lista de seu currículo covarde. Fugiu de debates e entrevistas. Fugiu de dar explicações à justiça e acaba de fugir de alunos da faculdade Mackenzie. Sua vida é barbarizar no twitter, onde confortavelmente pode falar sem ser contradito. 

A ignorância de Bolsonaro é patente. Quando perguntado qual livro lia regularmente, primeiro passou bom tempo tentando lembrar o nome de algum livro para, ao fim, sair-se com o livro de seu ídolo, o torturador Ustra. 

O embotamento de sua visão da realidade não lhe permite ir muito além de uma consideração primária e vexaminosa sobre os problemas do país e do mundo. Quem o ouve discursar, não pode deixar de conter um espontâneo sentimento de vergonha.

Alunos do Mackenzie protestaram contra a visita do presidente
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E isso é mais uma herança da ditadura militar ao presidente ignaro. A ignorância do regime militar pode ser medida no fato de seu maior artista oficioso ter sido Roberto Carlos, batizado de rei

O analfabetismo era vasto e, embora o alto oficialato desfrutasse de um pouco de luzes, a situação intelectual generalizada na tropa era de nível rasteiro. 

Já a incompetência da ditadura pode ser facilmente constatada no caos econômico imposto por ela ao país. A onda do milagre foi devida muito mais à inversão de capitais estrangeiros para o país, junto com o titânico arrocho salarial sobre os trabalhadores, do que a um plano bem conduzido pelo generalato. 

Ao fim, bastou o espirro do primeiro choque do petróleo (1973) para o Brasil afundar na pior crise econômica de sua história. Ao final, tínhamos um país desmonetarizado e muito mais pobre que antes do começo da ditadura. 
"o artista oficioso da ditadura militar foi Roberto Carlos"

Sobre isto, basta pensarmos no fato de já terem se passado três meses da posse de Bolsonaro e absolutamente nenhum plano factível haver sido apresentado para tentar tirar o país do buraco atual; apenas uma bateção de cabeça e uma cacofonia esdrúxula de ideias primárias. 

Hoje, o maior inimigo do presidente fanfarrão são as lombadas eletrônicas, para ver a estatura intelectual e moral deste sujeito. 

O amálgama de nulidade, atraso e truculência cabe tranquilamente a Bolsonaro, mostrando sem sombra de dúvidas sua gênese na ditadura. 

Mais que isso, a identidade da ditadura é perfeitamente espelhada na identidade de Jair Bolsonaro, ambos pertencentes ao que de pior o Brasil produziu em seus mais de 500 anos de história. (por David Emanuel de Souza Coelho)

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia Celso, aqui ´o Hebert, tudo bem com você?!

Esta crônica, me arremete a duas coisas:

1 - A frase: -"Uma das maiores artimanhas do Diabo, foi convencer o mundo,
de que ele não existia".
Creio que Não seria necessário bolar tal artimanha se para cá viesse,
nestes nossos tempos.
Bastaria se filiar a algum partido antagonista do PT, se candidatar a presente,
e estimulando ódio ao partido, a Lula, as esquerdas, simplesmente "botar lenha
na fogueira" de um país já polarizado, ou ainda sob efeito do veneno da serpente
do ódio, como você publicado em uma crônica.

Pois é, como uma ex colega de faculdade disse certa vez: "Haviam 10 candidatos,
opções para todos os gostos." Creio que num país com atual situação, que houvesse
mil, daria no mesmo.

Por coincidência, eu revi o documentário Wilson Simonal- Ninguém sabe o duro que dei,
sobre a acusação e pena de estar "fechado com os homens", algo pelo que Simonal pagou,
até o fim de seus dias.

Sempre tive curiosidade de saber mais sobre o tema, tanto sobre Simonal, quanto o "rei",
que segundo alguns amigos, era quem realmente estava "fechado com os homens".

Gostaria de ver crônicas suas, sobre Simonal, e se possível sobre Roberto Carlos.

Me sentindo como George Taylor, me despeço. Abraço e ótima semana.

https://media.giphy.com/media/YrrXqnOQVBjIA/giphy.gif

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